DEEP - O melhor inimigo

Capítulo 25 - A poção de Eva

16 de dezembro de 1993

Era o dia do evento beneficente onde a Pearl Jam se apresentaria com o cantor Neil Young e o show seria no Ginásio Municipal de Seattle.

Era a primeira vez que eu ia a um show beneficente da banda. A vibe era bem diferente e o público também. Ao invés de pessoas malucas e suadas que pulavam umas em cima das outras, agora víamos famílias com crianças alegres e contentes por curtir boa música e receberem a ajuda que necessitavam. Era encantador ver como todos estavam satisfeitos de fazerem parte de um projeto daqueles. Eddie tinha um forte desejo em seu coração de abrir uma fundação com a banda e os companheiros compartilhavam disso. O objetivo seria beneficiar diversas causas sociais e relacionadas ao meio ambiente. Meu namorado era uma pessoa extremamente solidária que tinha prazer em sentir  empatia e ajudar as pessoas seja com dinheiro ou qualquer outro tipo de doação. 

Muitas vezes ele oferecia um ombro amigo. Cansei de ver ele ligando para pessoas que diziam o quanto suas músicas eram importantes para que elas se mantivessem vivas. Eddie chegava a ficar horas conversando com essas pessoas como se aquilo garantisse que elas não cometeriam nenhuma besteira. Às vezes, ele se frustrava com isso porque sabia que nem todo mundo pensava como ele, e sozinho não poderia abraçar o mundo. Ele sabia que poderia usar os palcos para conscientizar as pessoas do quão importante era que todos se unissem em cuidar sempre uns dos outros. Ele era uma pessoa admirável e cada vez mais eu fazia planos de passar com ele o resto da minha vida.

Um dia antes desse show, Eddie me comoveu muito ao falarmos sobre família e filhos. Até então tínhamos tocado nesse assunto algumas vezes, só que de modo mais superficial. Agora parecia algo mais concreto, e eu não podia deixar de me emocionar quando o meu namorado falava sobre a sua vontade de constituir família comigo. E eu que nunca havia pensado nisso até conhecê-lo, me sentia realizada com suas palavras e atitudes.

Vivi tantos anos ouvindo da minha mãe que eu era uma maldição e que eu jamais seria feliz ou o que faria alguém feliz, e agora eu estava vivendo um sonho que representava tudo ao contrário do que ela me dizia e desejava sobre mim. Com Eddie minha vida mudou completamente e eu me sentia plena... completa....  alegre....  feliz.... viva...!

Aos poucos, eu estava refazendo a minha história da melhor maneira. Eu ainda nutria dentro de mim um desejo de conhecer o meu pai, mas a última conversa que tive com Hudson, o tio de Dave, me fez pensar sobre desistir dessa possibilidade. Eddie concordava de que eu poderia me magoar desnecessariamente se, de repente, eu o conhecesse e descobrisse que ele é ainda mais desprezível do que já foi um dia. Talvez fosse realmente melhor apenas pensar que ele pudesse ter se arrependido de tudo e se tornado uma pessoa boa... Sei lá! Meu namorado sempre tinha as palavras certas. Eu sempre senti que ele tinha.

Durante o evento beneficente não me contentei em ficar assistindo ao show sentada em uma cadeira ou ao lado do palco. Eu quis andar por todo aquele ginásio e conhecer de perto as pessoas que tinham vindo assistir ao espetáculo. Era tudo muito encantador e o semblante delas era de alegria apesar de suas dificuldades. Vi muitas crianças aplaudindo cantando junto e dançando. Acho que foi um dos eventos mais gratificantes que participei. Eu estava simplesmente encantada com tudo que estava vendo.

Existiu uma parte do show em que Eddie cantava com voz e violão e foi o momento em que os outros integrantes da banda saíram do palco e descansariam por três ou quatro músicas. Eu precisei ir ao banheiro e depois voltei ao camarim para pegar minha maquiagem, no entanto tive o desprazer de encontrar Dave assentado em uma poltrona. Não pensei duas vezes, ao invés de me maquiar ali mesmo peguei minha bolsa para me dirigir ao banheiro, mas antes que eu saísse ele se adiantou e fechou a porta.

- Abre essa porta agora! - exigi e para variar ele não deu a menor bola.

- Calma, eu não vou fazer nada. Pode ver que essa porta não tem chave. Eu não vou te trancar aqui.