Capítulo 27 - O pior lado do medo

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02 de janeiro de 1994

Dez dias haviam se passado. As festas de fim de ano se tornaram um nada pra mim. Eddie não comemorava natal, então passamos o dia sem sair de casa e no dia de Ano Novo, Curtis chamou a todos para curtir em sua mansão, mas na hora de sair de casa fingi passar mal e não fui.

Era o tempo todo assim: fingimento atrás de fingimento.

Como eu estava? Sentia como que definhando por dentro. Dave me ligava constantemente a cada vez que sabia que Eddie não estava em casa para me dar suas ordens ameaçadoras. Também passou a frequentar a nossa casa com mais assiduidade como uma forma de me intimidar e me botar medo. Ainda me obrigou a dizer a Eddie que eu não me importava dele nos visitar e que, finalmente, estávamos nos dando bem. Dave era extremamente gentil, chegando a levar flores para mim e eu sempre fingindo cortesia morrendo de medo que Eddie desconfiasse de alguma coisa e eu perdesse o controle da situação.

Vez por outra Dave ligava para acionar os comandos, bastava Eddie sair de casa. Era sempre uma ligação em tom de ameaça e para dizer como eu deveria me comportar a cada vez em que ele aparecesse para nos visitar. Como se não bastasse, cada vez mais o meu namorado desabafava com ele e eu vou dizer por quê.

Durante todos esses dias não deixei Eddie me tocar alegando estar com cólicas ou qualquer outro desconforto. Eu inventava a desculpa de que era porque estava perto de menstruar, mas ele achava estranho já que ele sabia exatamente os dias em que meu período acontecia. Tive que ficar inventando uma desculpa atrás da outra de algum distúrbio no organismo e dizer que procuraria um médico.

Era difícil disfarçar o meu semblante e muitas vezes Dave queria aparentar ser gentil dizendo ao meu namorado que ele deveria me levar em um terapeuta porque eu estava cada vez mais abatida. Por vezes, ouvi meu namorado de madrugada falando ao telefone pra desabafar e apesar de não ouvir a voz do outro lado da linha, eu sabia que só podia ser Dave.


Narrador:

- Eu não sei o que está acontecendo com a Lilith ... De repente, ela ficou distante...

- Como assim de repente? Essas coisas não acontecem de repente Eddie!

- Não sei. Só sei que reparei que ela está assim desde a festa do meu aniversário...

- Diz sobre a festa onde ela passou o tempo todo emburrada?

- Sinceramente, eu não me lembro de nada daquela noite a não ser que eu dançava igual um pinguim...

- Mas eu sei... Lilith ficou emburrada a noite toda, principalmente, por causa das dançarinas.

- Mas eu não fiz nada demais, fiz?

- Não, pelo contrário... Você se embriagou rápido e dormiu primeiro que todo mundo... A Lilith que continuou lá bebendo e dançando à vontade... Bem à vontade.... 

- Ela não conversa sobre aquela noite. Aliás, sobre nada. Ultimamente, ela está cansada ou ocupada, ficando a maior parte do tempo na casa da tia Márija e nós mal conversamos.

- Mal conversam? Eddie está me dizendo que desde aquele dia você e Lilith...

- Sexo? Não... Primeiro, a desculpa é que estava com cólicas pré-menstruais, o que eu estranhei visto que não está no período. Depois, é uma dor de cabeça, uma enxaqueca, ou uma indisposição, ou ela dorme mais cedo e quando chego no nosso quarto ela já está no quinto sono. Até parece que ela está fugindo de mim.

- Eddie , se diz que não transam desde o seu aniversário, Isso significa que você já está uns dez dias sem trepar, cara.... Como está aguentando isso?

DEEP - O melhor inimigoOnde histórias criam vida. Descubra agora