| Aspen, Colorado
Às 12h10 - Tarde.
Segunda-feira.ㅗ
Apaixonada.
Era uma palavra forte, dependendo do contexto e da forma que você acrescenta ela em uma frase.
Há casos que você fala sobre algo, algum objeto, música, livro... Entre outras coisas nesse tipo. Falando do lado amoroso da vida, eu nunca tive aquilo. Nunca senti a sensação de estar apaixonada de verdade, sinceramente.
Meu relacionamento com o Frederick não teve nada disso, pelo contrário, foi pura ilusão da minha cabeça romântica e ingênua. Agora de fora vejo que o que tínhamos era algo completamente frio e sem sentimentos, porque não sentíamos nada um pelo outro.
Eu, desejando ter um romance igual aos livros que lia, imaginava que ele seria aquele cara perfeito que se encontra entre as linhas e páginas. Porém, o Frederick não é um homem escrito por mulher.
E, bom, Frederick apenas queria um passatempo com sexo grátis para disfarçar suas inúmeras mulheres por debaixo do pano. Então, tudo o que tivemos naquela época foi pura ilusão.
Hoje em dia vejo o quanto eu passei anos tentando entender meus próprios sentimentos antigos pelo Frederick, quando eles não passaram de ilusões criadas por mim mesma. Agora eu me vejo em uma situação completamente diferente.
Claro que não faz muito tempo que conheço o Travis, também tenho tentado esconder meus desejos por eles desde que conheci, mas acabei caindo na minha própria armadilha já que fiz uma aposta.
Travis despertou sensações em mim que ninguém havia despertado. Eu sou um caos completo. Tenho meus complexos, devido aos anos buscando pelo "amor" da minha família; tenho meus defeitos, assim como todo mundo. Tenho meus medos e inseguranças, o que me levam a pensar que não consigo fazer nada. E o Travis, sendo o oposto, acalmava aquela tempestade que existe dentro de mim.
Parecia que, a cada segundo que o vejo, meu coração desperta e aquelas sensações aparecem de novo como se fosse a primeira vez. Olhá-lo nos olhos era como trazer a calma que existe nele até a mim. Seu sorriso parecia iluminar tudo ao redor dele, ao mesmo tempo que iluminava minha vida. Seu abraço quente era como meu porto seguro, meu lar, me permitindo deitar ali e fingir que nenhum problema ao meu redor existe.
E, por fim, convenci a mim mesma que estava apaixonada pelo Travis.
ㅡ O quê? ㅡ Sophie soltou incrédula, me observando com seus olhos castanhos. ㅡ Espera, você está mesmo admitindo que está apaixonada pelo Travis?
Puxei até a mim meu prato, depois de colocar uma porção de macarrão com queijo, soltando uma risada pela expressão surpresa que a Sophie me encarava.
ㅡ Estou. Por quê a surpresa?
Admitir meus próprios sentimentos para mim mesma era impossível, pois eu relutava constantemente. E pior é admitir para meus amigos.
ㅡ Porque você admitiu rápido demais. ㅡ Comentou, o óbvio, soltando uma risadinha sem graça. ㅡ Ok, não estou surpresa pelo fato de gostar dele, até porque era nítido. Mas, por que admitiu tão rápido?
Mordi meu lábio inferior, desviando o olhar.
ㅡ Porque não tenho mais motivos para fugir dos meus próprios sentimentos, Sophie. ㅡ Afirmei, voltando atenção a minha comida. Aquela altura eu já tinha posto a ração do Biscoito, que comia animadamente na sala. ㅡ O Travis não é o Frederick.
ㅡ Eu concordo. ㅡ Sophie balançou a cabeça. ㅡ Eu fico feliz que tenha admitido. Pretende contá-lo?
Olhei para a Sophie rapidamente, sentindo um frio encontrar minha barriga quase que imediatamente ao pensar na possibilidade. Esse é o ponto.
ㅡ Acha que eu consigo dizer ao Travis assim na lata? ㅡ A encarei. ㅡ É muito cedo, Sophie. E tipo, a gente se beijou anteontem. Não quero... Não quero ir com muita sede ao pote, sabe? Prefiro deixar as coisas acontecem naturalmente.
As coisas com o Travis foram tão naturais que até eu mesma percebi meus sentimentos de forma natural, sem que algo de ruim pudesse acontecer ou algo que pudesse nos abalar. E eu não queria de jeito nenhum estragar o que temos, que é algo tão natural quanto respirar, tornando-se algo incrível e mútuo. Recíproco, eu digo.
Sophie fez uma careta estranha, parecendo tentar entender minha linha de raciocínio.
ㅡ Eu não entendo nada sobre romances, mas estou feliz por você ㅡ Deu com os ombros, voltando a comer o macarrão. ㅡ Sempre soube que esse dia iria chegar. Eu vi o seu desejo por ele no dia que ele chegou aqui.
Claro que a Sophie iria ficar no meu pé durante bastante tempo daqui pra frente. Semanas, meses, anos. Sophie é uma pessoa muito rancorosa, principalmente quando a desafiam.
ㅡ Eu sei, Sophie, obrigada por me lembrar ㅡ Acabei rindo, balançando minha cabeça negativamente. Sempre que eu me imaginava nessa situação de admitir sentimentos, pensava que entraria em pânico, mas eu não estava. Pelo contrário, tudo dentro de mim parecia calmo demais, porque Travis tinha acalmado aquele caos dentro de mim. Era uma sensação indescritível.
Às horas naquela segunda-feira começaram a passar rápido demais, isso porque eu fiquei com a companhia da Sophie e do Biscoito o dia inteiro. Depois no almoço nos afundamos no sofá para assistir reprises de desenhos, vendo o dia anoitecer. Quando isso aconteceu eu coloquei uma roupa quentinha, busquei pela guia e os petiscos, antes de sair para caminhar com meu filho.
À noite estava linda, como sempre, então eu queria aproveitá-la de perto. E também queria aproveitar mais daquela sensação quente e reconfortante dentro do peito.
ㅡ Mavie? ㅡ Olhei para cima assim que ouvi meu nome ser chamado, com um homem surgindo na minha frente com um sorriso amigável. Era Keid. ㅡ O que tá fazendo aqui?
ㅡ Ah, oi, Keid! ㅡ Levantei-me do banco, terminando o sorvete. ㅡ Bom, eu moro aqui no bairro. O que tá fazendo aqui?
Ele sorriu.
ㅡ Eu estou na casa dos meus primos, aqui no bairro mesmo. ㅡ Ele afirmou, com seu sorriso amigável. ㅡ E quem é esse garoto?
ㅡ Esse é o Biscoito, meu filho.
Keid ergueu seus olhos até os meus, parando de brincar com o Biscoito quando me ouviu. Seu rosto se transformou em uma careta de descrença, ao mesmo tempo que ele enrugava o nariz.
ㅡ O nome dele é Biscoito?
Por um momento, a memória da mesma descrença do Travis atravessou minha mente.
ㅡ Combina com ele! ㅡ Apontei, começando a rir junto com ele. ㅡ Onde você mora?
ㅡ Bem ali.
Segui seu dedo, notando uma casa há poucos metros da gente.
ㅡ A casa dos Conner?
Keid voltou a me olhar.
ㅡ Você os conhece?
ㅡ Não totalmente, mas eu acho que eles me odeiam, principalmente o Andrey. ㅡ Soltei, me lembrando daquele fatídico dia que acordou boa parte daquele bairro. Keid me encarou, ainda parecendo confuso. ㅡ Tá, eu fui responsável pela matéria da exposição da prisão do Agustín. E, bom, praticamente deixei a público a miséria da família Conner.
Keid riu.
ㅡ Isso já faz anos, o Andrey nem deve se lembrar. ㅡ Keid balançou a cabeça. ㅡ Ah, aliás, terá um aniversário da Ari e do Aruna esse sábado. Não quer vir? Pode ser minha convidada de honra.
ㅡ O quê? ㅡ O encarei, surpresa pelo convite.
ㅡ E pode levar aquela sua amiga, Sophie, eu vou adorar revê-la.
Eu entendi todas as intenções do Keid assim que ele lançou um sorriso sugestivo.
•••
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Corações Atrevidos | Vol.2
RomanceMavie Hale é uma singular jovem adulta da cidade pacata de Aspen, onde seu sonho de ser uma escritora renomada tarda a acontecer pela décima vez em apenas um mês. Prestes a ser despejada, a única alternativa da jovem era pedir seu emprego de volta e...