PETE
– PRESTE ATENÇÃO, MICETTA, ou vai acabar arrancando o dedo fora – protestou Greta. – Ninguém quer achar pedaços de corpo humano no jantar.
– Desculpe – murmurei.
Tentei controlar meus pensamentos errantes e me concentrar novamente na tarefa em questão.
Se minha mãe me visse naquele momento, picando alho, usando um velho suéter de caxemira e calça jeans, teria um ataque cardíaco. Os Saengtham não faziam o "trabalho pesado" na cozinha, nem usavam roupas já fora de moda, mas eu gostava da distração confortável de cozinhar. Havia convidado Isabella e Sloane para jantar, e decidimos que uma noite das meninas e eu com comida caseira seria mais divertido do que um jantar formal.
E tínhamos razão.
A cozinha tinha o mesmo cheiro de um restaurante rústico da Toscana. Molho de tomate borbulhava no fogão, tigelas de ervas e temperos estavam alinhadas nas bancadas, e a acidez cintilante de limões frescos trazia um toque extra aos aromas de dar água na boca.
Do outro lado da cozinha, Isabella cortava vagens enquanto Sloane preparava seus clássicos martínis. Greta, que se recusara a nos deixar sem supervisão, andava de um lado para outro, verificando diversas coisas e nos repreendendo quando não preparávamos a comida de maneira adequada.
Parecia aconchegante e normal, como um lar de verdade. Então, por que eu me sentia tão desconfortável?
Talvez porque você e Vegas ainda estejam brigados, zombou uma voz na minha cabeça.
Tínhamos comparecido a eventos sociais obrigatórios, comemorado o Dia dos Namorados no Per Se e assistido a uma apresentação do Ano-Novo Lunar no Lincoln Center, mas nosso relacionamento em casa estava frio e distante desde a visita dele ao escritório.
Eu não deveria estar surpreso. Vegas sempre se retraía quando as coisas não saíam do jeito que ele queria, e sua reação exagerada às flores havia me irritado demais para que eu fosse atrás dele. Então estávamos de volta àquele impasse. Piquei o alho com mais força do que o necessário.
– Aqui – disse Sloane, surgindo ao meu lado e deslizando um apple martini pela bancada. – Para quando você terminar de usar a faca. Parece estar precisando de um drinque. - Consegui abrir um sorriso discreto.
– Obrigado. - O cabelo platinado de Sloane estava preso no coque de sempre, mas ela havia tirado o blazer e largado o celular. Para ela, isso era quase o equivalente a estar dançando descalça em um bar em Ibiza.
– Onde está o seu charmoso futuro marido? – perguntou Isabella. – Ainda emburradinho por causa das flores?
Ela estava determinada a provar que até o casamento eu e Vegas estaríamos completamente apaixonados e tocava no nome dele sempre que podia. Eu suspeitava de que ela e Sloane tivessem feito uma aposta a respeito, já que a opinião de Sloane sobre amor não era muito mais generosa do que sua opinião a respeito dos ratos no metrô de Nova York e de pessoas que usavam sandália com meia.
– Ele não está emburrado – respondi, ciente dos olhos de águia de Greta. – Está ocupado. - E vinha estando ocupado pelas últimas três semanas. Se havia uma coisa em que Vegas era realmente ótimo, era em evitar conversas difíceis.
– Ele está emburrado – disseram Isabella, Greta e Sloane em uníssono.
– Confia em mim. Eu cuido do Vegas desde que ele usava fraldas. – Greta verificou o molho. – Você nunca vai conhecer um homem mais teimoso e cabeça-dura. - Eu acredito. – Mas... – Ela mexeu a panela com uma colher de pau. – Ele também tem um coração enorme, mesmo que não demonstre. Ele não é... bom com palavras. O avô dele, que Deus o tenha, era um ótimo empresário, mas péssimo em se comunicar. Ele passou essas características para os meninos.
Senti um nó na garganta. Era exatamente por isso que eu ainda não tinha desistido de Vegas. Ele era péssimo em se comunicar, e seu temperamento instável me dava vontade de arrancar os cabelos, mas por baixo daquilo tudo havia alguém por quem valia a pena esperar.
– Você está falando bem dele só porque ele colocou uma TV na cozinha para você? – perguntei em tom leve. - Os olhos de Greta brilharam.
– Quando alguém te oferece suborno, é falta de educação não aceitar. As risadas ecoaram pela cozinha, mas morreram rapidamente quando Vegas e Nop apareceram na porta.
Eu me endireitei, sentindo o coração bater na garganta. Isabella parou de cortar suas vagens enquanto Sloane tomava um gole do drinque, observando friamente os recém-chegados como se eles tivessem entrado na casa dela.
– Vegas, eu não sabia que você vinha jantar em casa – disse Greta, secando as mãos em um pano de prato. – A comida está quase pronta. Vou colocar mais dois pratos na mesa.
– Não precisa. Só passamos para buscar uns documentos. Vamos jantar no Valhalla hoje. – Vegas limitou-se a olhar apenas para Greta. – Além disso, amanhã vou para Washington a trabalho. Vou passar uma semana fora.
– Entendi.
Greta olhou para mim. Voltei a me concentrar no alho.
O comunicado de Vegas com certeza era para mim, mas se ele não era maduro o suficiente para falar comigo diretamente, como um adulto, eu não daria a ele a satisfação de demonstrar qualquer reação.
Ao lado dele, o olhar de Nop passou por mim, por Sloane, e chegou a Isabella, que estava sentada no banquinho mais próximo da entrada. Sua saia de couro, brincos compridos e botas de salto agulha eram o oposto do terno, dos óculos e do lenço de seda enfiado no bolso da camisa dele. Ela arqueou a sobrancelha diante do olhar inquisidor de Nop antes de pegar um tomate-cereja da tigela ao seu lado e colocá-lo na boca. Isabella não tirou os olhos dele, tornando um movimento inocente algo quase sexual.
Nop assistiu àquele show com a expressão neutra de alguém esperando sua vez na fila do correio. Ao lado dele, Vegas permanecia no batente na porta, calado e imóvel.
O ponteiro do relógio bateu a meia hora. Molhos borbulhavam e chiavam no fogão, e minha faca cortava em um ritmo constante contra a tábua. A tensão era quase tão densa quanto o fettuccine que Greta costumava fazer.
Greta deu um pigarro.
– Bem, faça uma boa viagem, então. Traga uma lembrancinha. Tenho certeza de que o pessoal vai gostar. - Ela lançou outro olhar em minha direção. Muito sutil, Greta.
– Vou me lembrar disso – respondeu Vegas, seco. – Aproveitem o jantar. - Ele se retirou sem olhar para mim.
– Senhoritas – cumprimentou Nop com um aceno de cabeça antes de segui-lo. A partida deles acabou com a tensão que nos fazia de reféns. Larguei a faca e Greta murmurou enquanto tirava a carne do forno.
– Preciso de um pouco de água – disse Isabella, descendo de seu banquinho e indo até a geladeira, as bochechas rosadas.
Olhei para a tábua, tentando organizar aquela confusão de sentimentos. Eu já deveria estar acostumado com as viagens de negócios de Vegas, mas a notícia de sua partida doeu mais do que deveria. Mesmo que não nos falássemos, sua presença no apartamento era um conforto. Era sempre um pouco mais frio quando ele não estava em casa.
Continua...
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Rei Impetuoso - VEGASPETE
FanfictionPete Saengtham não tem planos de se casar, mas seus pais pensam diferente. Mesmo contra sua vontade acaba indo em um jantar obrigado por seus pais, e lá conhece o frio, calculista e sem saber vingativo Vegas Theerapanyakul, que só tem um objetivo na...