Capítulo 35

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PETE

EM VEZ DE IR ATRÁS DO MEU PAI ou procurar um hotel, depois de deixar a casa de Vegas vaguei pelo Central Park com minha mala feito uma turista que havia acabado de descer de um trem na Penn Station. Esperava que o ar da primavera clareasse minha mente, mas só me lembrou da sessão de fotos de noivado com Vegas.

Bow Bridge. Betesda Terrace. Até mesmo o banco onde tomamos café da manhã depois das fotos. 


"Eu fiz o que tinha que fazer. Ninguém ameaça um Theerapanyakul."

"Eu tinha que proteger a minha família... É apenas um negócio".


Esperei que o sentimento (qualquer sentimento) me dominasse, mas, exceto por uma breve pontada ao passar por um dos pontos de nossa sessão de fotos, me sentia entorpecidO. Não conseguia sequer sentir raiva ou preocupação com a possível implosão da empresa de meu pai. Muita coisa acontecera e meu cérebro se recusava a funcionar corretamente.

Eu era um ator vivendo a vida de outra pessoa, intocado pelo caos que pairava sobre mim. Pelo menos por enquanto.

Vaguei pelo parque até o pôr do sol. Mesmo em meu estado de zumbi, sabia que não devia ficar sozinho ali depois de escurecer.

Entrei no táxi mais próximo, abri a boca para dizer ao motorista para me levar ao Carlyle, mas acabei dando a ele o endereço de Sloane. A ideia de passar a noite em um quarto de hotel impessoal por fim me provocou uma onda de pânico.

Cheguei ao apartamento de Sloane vinte minutos depois. Ela atendeu após o segundo toque da campainha, olhou para minha mala e minha mão sem aliança e me conduziu para dentro sem dizer uma palavra. Afundei no sofá enquanto ela desaparecia em direção à cozinha.

Agora que já não estava sozinho, os sentimentos foram voltando. A dor nos braços por arrastar a mala o dia inteiro. As bolhas nos pés por andar com meus sapatos caros mas pouco práticos. O vazio escancarado, excruciante, no peito, onde meu coração costumava bater, saudável e inteiro. Agora, o órgão agonizava como um carro soltando fumaça, lutando para retornar a algum lugar ao qual nunca havia pertencido.

Pisquei, tentando afastar a pressão que aumentava atrás dos olhos, quando Sloane voltou segurando uma caneca e um pacote dos meus biscoitos amanteigados de limão favoritos. Ficamos em silêncio por um segundo, até que ela disse:


– Preciso afiar minhas facas e elaborar planos de contingência para encarar uma acusação de homicídio? - Consegui dar uma risada fraca.

– Não. Nada tão drástico.

– Isso quem vai decidir sou eu. – Ela estreitou os olhos. – O que aconteceu?

– Eu... Vegas e eu terminamos. - Outra parte do torpor se estilhaçou em um latejar doloroso.

– Isso eu percebi. – A resposta de Sloane foi objetiva, não sarcástica. – O que aquele escroto fez?

– Não foi culpa dele. Não tudo.


Consegui resumir os acontecimentos do dia sem desmoronar, mas minha voz falhou no final. "Sinto muito por você ter sido envolvida em tudo isso. Eu tinha que proteger a minha família... É apenas um negócio". Outro estilhaço, desta vez tão forte que me tirou o fôlego. A pressão atrás dos meus olhos aumentou.

Verdade fosse dita, Sloane não fez um grande drama diante das revelações chocantes. Não era seu estilo, e também por isso eu tinha ido até ela em vez de recorrer a Isabella. Por mais que eu amasse Isa, ela ia querer saber todos os detalhes e discutir a situação infinitamente. Eu não tinha energia nem capacidade emocional para isso naquele momento.

Rei Impetuoso - VEGASPETEOnde histórias criam vida. Descubra agora