Capítulo 36

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PETE


NA QUARTA-FEIRA SEGUINTE À MINHA MUDANÇA da casa de Vegas, fretei um voo para Boston. De acordo com minha mãe, para quem liguei sob o pretexto de discutir os preparativos do casamento, meu pai já estava de volta em casa.

Havia passado a viagem inteira ensaiando o que diria, mas quando me sentei na frente dele em seu escritório, ouvindo o tique-taque do relógio e a cadência superficial de minha respiração, percebi que nenhum ensaio teria sido capaz de me preparar para confrontá-lo.

O silêncio se estendeu entre nós por mais um minuto antes de ele se recostar na cadeira e erguer a sobrancelha espessa e grisalha.


– Qual é a emergência, Pete? Presumo que você tenha algum assunto importante para discutir comigo para aparecer desse jeito sem avisar. - Era ele quem me devia desculpas, mas sua voz severa fez com que uma espiral de vergonha me dominasse. Era a mesma voz que ele usava sempre que eu tirava uma nota que não fosse a máxima. Tentei não me deixar abalar, mas era difícil superar décadas de condicionamento.

– Tenho, sim.

Levantei o queixo e endireitei os ombros, tentando trazer à tona o fogo de dois dias atrás. Tudo o que consegui foram pequenas nuvens de fumaça. Era muito mais fácil confrontar meu pai dentro da minha cabeça do que na vida real.

Parte do motivo era que ele parecia exausto, com bolsas inchadas sob os olhos e linhas de preocupação formando profundos sulcos e fendas em seu rosto.

Matérias de jornal mencionando problemas na Saengtham Jewels já tinham começado a sair. Nada muito sério até então, apenas alguns boatos aqui e ali, mas eram um sinal da tempestade que estava por vir. O escritório fervilhava de tensão e os valores das ações haviam caído.

Uma pontada irracional de culpa atravessou meu estômago. Meu pai era o responsável por aquela confusão. Eu não deveria me sentir culpado por questionar suas ações, não importava como ele estava cansado ou estressado.

– Então? – disse ele, impaciente. – Eu já adiei uma reunião para isso. Não vou adiar de novo. Se você não tem nada a dizer agora, vamos ter que conversar durante o jantar...

– Você chantageou Vegas para que ele se casasse comigo? – perguntei subitamente, antes de perder a coragem. - Meu coração batia forte contra as costelas enquanto a expressão de meu pai endurecia a um molde ilegível. O relógio continuou com sua marcha ensurdecedora.

– Eu ouvi vocês conversando. No escritório de Vegas. - Agarrei a bolsa no colo em busca de apoio. Não estava usando tweed nem tons neutros naquele dia. Em vez disso, optara por um conjunto de seda feito sob medida e uma camada extra de batom vermelho para me dar confiança. Eu deveria ter colocado duas camadas extras.

– Se você nos ouviu, então por que desperdiçar meu tempo perguntando? – O tom de meu pai era tão indecifrável quanto seu rosto. - Uma brasa de raiva se acendeu.

– Porque eu quero que você confirme! Chantagem é ilegal, pai, sem falar que é moralmente errado. Como você pôde fazer isso? – Forcei o ar pelo meu peito apertado. – Será que eu sou tão indesejável que você teve que forçar alguém a se casar comigo?

– Não seja dramático – retrucou ele. – Não era qualquer pessoa. Era Vegas Theerapanyakul. Você sabe quantas portas se abririam se você se casasse com um Theerapanyakul? Mesmo com todo o nosso dinheiro e o casamento de sua irmã, ainda tem quem nos olhe com desprezo. Somos convidados para as festas, eles aceitam nosso dinheiro para arrecadar fundos, mas vivem cochichando pelas nossas costas, Pete. Acham que somos inferiores. O casamento com Vegas teria acabado com esse falatório de uma vez.

Rei Impetuoso - VEGASPETEOnde histórias criam vida. Descubra agora