Penúltimo Capítulo

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VEGAS

– AQUELA É ESCORPIÃO. – Pete apontou para o céu. – Está vendo? - Segui seu olhar em direção à constelação. Parecia outro aglomerado de estrelas qualquer.

– Aham. É linda. - Ele virou a cabeça e estreitou os olhos.

– Você está vendo mesmo ou está mentindo?

– Eu vejo estrelas. Várias. - Pete soltou um ruído, metade resmungo, metade risada.

– Você não tem jeito.

– Eu já disse, não sou e nunca vou ser um especialista em astronomia. Estou aqui apenas pela vista e pela companhia – respondi, beijando o topo da cabeça dele.

Estávamos deitados em uma pilha de mantas e almofadas do lado de fora de nosso glamping resort no deserto do Atacama, no Chile, um dos principais destinos para observação de estrelas do mundo. Depois de todas as merdas que haviam acontecido no mês anterior, aquele era o lugar perfeito para recomeçar antes do nosso casamento, que havíamos adiado para setembro devido às reformas que demoraram mais do que o esperado.

Tínhamos passado os últimos quatro dias escalando vulcões, desfrutando de fontes termais e explorando dunas de areia. Minha assistente quase desmaiara quando contei que tiraria dez dias de folga do trabalho, mas depois preparou o itinerário perfeito para minhas primeiras férias de verdade desde que me tornara CEO.

Havia até deixado o celular profissional em casa. Minha equipe tinha o número do resort em caso de emergência, mas sabia que não deveria me incomodar a menos que o prédio estivesse literalmente pegando fogo.

– Verdade. Acho que você pode continuar só sendo lindo. – Pete deu um tapinha no meu braço. – Cada um tem seu talento... Ele deu um gritinho quando girei para o lado e prendi seu corpo sob o meu.

– Veja lá como fala comigo – disse, dando-lhe uma mordidinha. – Ou vou te dar uma lição aqui mesmo, na frente de todo mundo. - As estrelas refletiam em seus olhos, que brilhavam com malícia.

– Isso é uma ameaça ou uma promessa? - Meu gemido ecoou entre nós, tenso e ardente.

– Você adora me provocar.

– Foi você que começou. – Pete passou os braços em volta do meu pescoço e me beijou. – Não comece algo se vai deixar pela metade, Theerapanyakul.

– Por acaso já fiz isso alguma vez? – Deslizei os lábios pela linha delicada do maxilar dele. – Mas, antes de chocarmos os outros hóspedes com uma performance pornográfica... – A risada dele vibrou pela minha coluna. – Eu tenho uma confissão a fazer.

Meu coração acelerou. Havia passado um mês inteiro me preparando para aquele momento, mas ainda me sentia à beira de um penhasco sem paraquedas. Pete inclinou a cabeça.

– Confissão do tipo "esqueci de agendar nossos passeios a cavalo de amanhã" ou do tipo "matei alguém e preciso da sua ajuda para enterrar o corpo"?

– Por que você sempre acha que é algo mórbido?

– Porque sou amigo da Isabella, e você é assustador.

– Pensei que você tinha dito que meu talento era ser bonito – provoquei.

– Bonito e assustador. – Um sorriso travesso curvou sua boca. – Uma coisa não exclui a outra.

– Bom saber, mas não, não matei ninguém – respondi em um tom seco, então me afastei e me sentei direito. - A noite no deserto era fresca, mas o calor envolvia minha pele como um terno apertado.

– Graças a Deus. Não sou muito bom com pás. – Pete sentou-se também e me lançou um olhar curioso. – Então, essa confissão... é boa ou ruim? Preciso me preparar psicologicamente?

– É boa. Espero. – Dei um pigarro, meu coração agora a toda velocidade. – Você se lembra da minha viagem à Malásia há algumas semanas?

– A que durou 72 horas? Lembro. – Ela balançou a cabeça. – Não acredito que você pegou um avião até lá para ficar só um dia. Deve ter sido uma reunião importante.

– Foi, sim. Eu fui ver minha mãe. - Meus pais haviam se mudado de Bali e agora estavam em Langkawi. Uma ruga surgiu entre as sobrancelhas de Pete, demonstrando confusão.

– Por quê? - Pete sabia que eu não tinha com a minha mãe o tipo de relacionamento em que largaria tudo para ir vê-la. Meus pais ainda me irritavam bastante, mas eu havia feito as pazes com suas falhas. Eles eram quem eram e, comparados a pessoas como Chan Saengtham, poderiam ser considerados santos.

– Eu precisava pegar uma coisa. - Decidi ir direto ao ponto e tirei uma pequena caixa do meu bolso. Pete a encarou com uma expressão atordoado.

– Vegas...

– Quando eu te pedi em casamento pela primeira vez, não foi exatamente um pedido – falei, o sangue latejando em meus ouvidos. – Nosso noivado foi uma fusão, o anel, uma assinatura. Eu escolhi esse aí... – disse, apontando o diamante em seu dedo – porque era frio e impessoal. Mas agora que vamos fazer isso de verdade... - Eu abri a caixa, revelando uma deslumbrante pedra vermelha incrustada em ouro. Existiam menos de quarenta gemas como aquela no mundo. – Queria te dar algo mais significativo.

Pete soltou o ar de uma vez, em um ruído alto. A emoção ficou nítida em suas feições, pintando-a com mil tons de surpreso, prazer e tudo mais entre um e outro.

– Diamantes vermelhos são os diamantes coloridos mais raros que existem. Apenas uns trinta já foram minerados. Meu avô comprou um dos primeiros diamantes vermelhos, na década de 1950, e deu à minha avó quando a pediu em casamento. Ela passou para o meu pai, que deu para a minha mãe... – Engoli o nó na garganta. – Que passou para mim.

O anel brilhava como uma estrela cadente em meio à absoluta escuridão. Minha mãe o usara pouquíssimas vezes. Tinha muito medo de perdê-lo durante suas viagens, mas o manteve guardado para o dia em que eu precisasse. Foi uma das poucas coisas sentimentais que ela havia feito por mim desde que nasci.

– Uma herança de família – murmurou.

– Sim. Uma herança que me lembra muito de você. Lindo, raro e difícil pra cacete de encontrar... mas que vale cada minuto gasto na busca. – Meu rosto relaxou. – Passei 37 anos achando que não existia um par perfeito para mim. Você provou que eu estava errado em menos de um ano. E, mesmo que a gente não tenha feito as coisas do jeito certo da primeira vez, espero que você me dê a chance de provar que sou capaz disso agora. - Meu coração estava acelerado de nervosismo quando a pergunta mais importante da minha vida saiu da minha boca. – Pete Saengtham, quer se casar comigo?

Os olhos dele se encheram de lágrimas. Uma gota solitária escapou e desceu por sua bochecha quando ela assentiu.


– Sim. Sim, é claro que eu quero me casar com você.


A tensão se dissolveu em risos e soluços e em um alívio fresco e angustiante. Tirei a antiga aliança de seu dedo e a substituí pela nova antes de beijá-lo. Feroz e apaixonadamente, com todo o meu amor. Às vezes, precisávamos de palavras para nos comunicar. Já em outras, não era necessário dizer uma palavra sequer.



Continua...

Rei Impetuoso - VEGASPETEOnde histórias criam vida. Descubra agora