Capítulo 1 - De Regresso

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Perspectiva de Sam

Fazia cinco anos que deixei a Tailândia. Cinco anos de dor, de vazio, longe do único amor que conheci. Agora, sentada neste voo, voltando para casa, o coração pulsa como se fosse explodir a qualquer momento. O que me espera? Não vejo Mon há cinco anos... Nem minha irmã Nueng, nem Kate, Tee ou Jim, minhas amigas mais próximas. Mas o rosto de Mon é o único que domina meus pensamentos, queimando dentro de mim. Como ela está? Será que me odeia?

Cinco anos atrás...

— Khun Sam, preciso que entenda — a voz do médico ecoa fria, distante, como se viesse de outro mundo. — Os estudos mais recentes indicam grandes avanços em tratamentos, e, dado que sua doença ainda está em estágio inicial, você é uma candidata ideal para os novos ensaios clínicos.

Eu apenas fixo o olhar nele, tentando processar o que ele está dizendo, mas as palavras parecem bater em um muro de medo dentro de mim.

— Vou perder a minha capacidade motora? — Minha voz sai firme, mas por dentro sinto o pânico crescer.

— Existe uma grande possibilidade de paralisia, sim... Mas já lhe expliquei que é totalmente reversível com o tratamento adequado.

— Não vou poder andar? Não vou conseguir cuidar de mim mesma?

— Haverá momentos em que precisará de ajuda. Mas tenho certeza que sua esposa estará ao seu lado nessas fases até conseguirmos controlar a doença.

Eu me levanto abruptamente, a cadeira arranha o chão, e saio do gabinete do médico, batendo a porta com força. O som ecoa pelos corredores. "Inútil! Eu? Depender de alguém assim? Nunca!" O pensamento queima na minha mente, repetidamente. Eu, Sam, jamais serei um fardo!

Quando volto à sala de espera, Jim está lá, me observando com aquele olhar preocupado, como se soubesse que algo terrível aconteceu.

— E aí, Sam? O que ele disse? — A preocupação na voz dela me irrita, me atinge como um soco no estômago.

— Nada de mais. Estou bem. — A mentira sai amarga, mas necessária.

Jim não se convence. Ela franze o cenho, cruzando os braços como sempre fazia quando sabia que eu estava escondendo algo.

— Sam... Por favor. Você caiu ao almoço! Caiu da cadeira porque não conseguia mexer as pernas ou os braços! — A voz dela treme.

Fico em silêncio, olhando para minha melhor amiga. Jim... Ela foi a madrinha do meu casamento, a pessoa que sempre esteve ao meu lado, nos piores e melhores momentos.

— Jim, eu preciso de um favor. — Minha voz sai baixa, quase um sussurro. Mal consigo encarar seus olhos. — Você não pode contar a ninguém o que aconteceu hoje. Promete. Nem à Mon.

Ela me olha como se eu fosse louca. — Sam, você perdeu o juízo? Temos que contar à Mon! E vamos agora procurar outro médico!

Ela me segura pelo braço, mas eu a puxo de volta, meus olhos ardendo de uma súplica silenciosa.

— Jim. Promete. Por todos esses anos de amizade... Promete que não vai contar. — Imploro, o coração pesado, sabendo o que estou pedindo dela.

Ela fica imóvel, os olhos marejados de tristeza.

— Prometo. — A palavra escapa dela como uma confissão dolorosa.

Eu me afasto, sem olhar para trás. Sabia que não podia continuar ali.

Atualidade

Naquele dia, eu comprei uma passagem para os Estados Unidos com apenas a roupa do corpo. Fugir era a única opção. Eu jamais permitiria que Mon se transformasse na minha cuidadora. A ideia de me tornar inválida, de depender de outra pessoa, especialmente dela... Isso era impensável. Eu sempre fui independente, sempre controlei minha vida, e ver isso escapar pelas minhas mãos era insuportável. Eu preferia desaparecer do que fazer a mulher que amo carregar esse peso. Agora, cinco anos depois, estou voltando.

Mon & Sam - Passado e PerdãoOnde histórias criam vida. Descubra agora