O Lobo E O Coelho

Zero

Cristian voltou para sua base principal, mergulhando novamente nas complexidades de seu império, focado em reorganizar suas estratégias e fortalecer seus negócios. Como sempre, seu olhar calculista buscava maneiras de garantir sua supremacia, enquanto seus pensamentos frequentemente vagavam para um assunto muito mais pessoal e perturbador: Will.

Para Cristian, Will representava uma obsessão incontrolável, um ponto de fraqueza disfarçado de fascinação. Em seu harém, composto exclusivamente por lobos masculinos, essa obsessão se manifestava de forma perturbadora. Cada um desses lobos tinha uma semelhança física com Will, e eles eram classificados de acordo com o quanto lembravam o alvo de sua fixação. O sistema de números que Cristian usava servia para marcar essa proximidade: quanto menor o número, maior a semelhança com Will, no total, haviam 7, incluindo o Zero.

Entre eles, o mais intrigante era o "Zero". Diferente dos outros, que estavam ali de livre e espontânea vontade, Zero não tinha escolhido sua posição. Ele era o mais parecido com Will, tanto nos traços físicos quanto no desprezo que nutria por Cristian. Seus olhos, vermelhos como o sangue, eram idênticos aos de Will, uma característica rara que fazia Cristian vê-lo como uma sombra constante de sua obsessão.

Zero não estava ali por escolha; Cristian o mantinha sob seu controle, ameaçando sua família, mantendo-os reféns para garantir sua lealdade. Ainda assim, Zero se destacava não apenas pela aparência, mas por suas habilidades. Seu porte físico era impressionante, e ele era um soldado formidável, capaz de lutar e proteger os interesses de Cristian com uma destreza inigualável. Essa combinação de força, habilidade e semelhança com Will o tornava o favorito do líder, embora Zero o odiasse com todas as suas forças.

O que Cristian mais apreciava em Zero era o fato de que ele não precisava fingir agradá-lo. Ao contrário dos outros lobos, que buscavam sua aprovação e se submetiam de forma voluntária, Zero era autêntico em seu desdém. Ele fazia o que lhe era ordenado, cumpria as vontades de Cristian, mas nunca escondia o ódio que sentia por ele. E era justamente isso que fazia Cristian mantê-lo tão próximo. A frieza, a rebeldia silenciosa e a força de vontade de Zero eram tão parecidas com as de Will que, de certa forma, mantinham viva a chama doentia da obsessão de Cristian.

Enquanto os outros lobos buscavam conquistar regalias e favores com submissão, Zero se destacava por ser exatamente quem era: um prisioneiro em um sistema que ele odiava, mas que sabia que, por enquanto, não poderia escapar.

No dia do resgate fracassado de Will, Zero estava presente em meio ao caos e destruição. O som ensurdecedor da explosão e o impacto das ondas de choque o atingiram com uma força brutal. A poeira densa se misturava ao calor abrasador das chamas que consumiam o ambiente ao seu redor. Escombros caíam em todas as direções, e o ar estava saturado com o cheiro de fumaça, metal queimado e a iminente desolação.

Zero foi arrastado pelo deslizamento de escombros, seu corpo sendo engolido pela devastação. Apesar de sua força e instinto de sobrevivência, ele não conseguiu escapar da avalanche de destroços que o aprisionou. O fogo varreu seu corpo, queimando seu braço direito e uma parte significativa do seu lado direito, incluindo seu rosto. O calor intenso consumiu a pele de sua face, desfigurando-o e cegando seu olho direito permanentemente. O tormento da dor foi rapidamente substituído pela inconsciência, enquanto ele sucumbia aos ferimentos.

Quando foi finalmente resgatado, Zero já estava em um estado crítico, e a gravidade dos danos que havia sofrido o levou a um coma profundo que durou um mês. Durante esse período de inatividade, seu corpo, embora forte e resiliente, lutava para se regenerar das queimaduras. A maioria das feridas externas foi tratada com sucesso, mas as cicatrizes permaneciam como um testemunho visível da tragédia que havia sofrido. A perda da visão no olho direito e as marcas profundas em seu rosto e braço eram danos permanentes que ele carregaria pelo resto de sua vida.

Enquanto Zero estava em coma, o império de Cristian passou por mudanças silenciosas. Com a morte de Will, Cristian, que já tinha perdido tudo o que mais prezava, agora se via na posição de depender apenas de Zero, o único que, de alguma forma, ainda lhe conectava ao passado. Zero era tudo o que restava para ele. Passado mais um mês após o despertar de Zero, Cristian, embora hesitante e envolvido nas estratégias de seu império, decidiu finalmente visitá-lo.

Dr. Isaac, o médico responsável pela recuperação de Zero, havia lhe dado instruções claras: ele deveria obedecer Cristian em tudo o que fosse pedido, sem questionar. A confiança de Zero em Isaac era sólida, forjada ao longo do tempo em que o médico cuidou dele com diligência. Além disso, Zero encontrou um raro alívio em meio à sua dor na companhia das netas de Isaac, crianças que traziam uma pequena e preciosa distração em meio ao inferno que ele vivia.

Porém, quando Cristian entrou no quarto para ver Zero, o que encontrou foi algo inesperado. O homem à sua frente não era o mesmo que ele conhecia. Zero, antes um soldado forte, obstinado e cheio de ódio, agora parecia uma concha vazia. Os danos causados pelos deslizamentos de pedras durante a explosão haviam lhe roubado mais do que a visão do olho direito e o corpo impecável; eles haviam apagado suas memórias. O olhar de Zero estava perdido, sem direção, como se a essência que o fazia resistir a Cristian tivesse desaparecido.

Para Cristian, no entanto, essa perda de identidade era uma oportunidade. Embora Zero não tivesse mais o corpo perfeito de antes, ele ainda era a lembrança mais próxima de Will. E agora, com a mente de Zero apagada, Cristian viu a chance de moldá-lo como quisesse. Ele poderia recriar Zero à sua própria imagem, transformá-lo em algo mais que apenas um reflexo de Will — um novo brinquedo que ele poderia usar para saciar sua obsessão.

Assim que Cristian deu os primeiros passos dentro do quarto, foi recebido com hostilidade. Zero, mesmo sem memória, confiava nos instintos que ainda permaneciam intactos. O cheiro de Cristian era inconfundível, e algo dentro de Zero reconhecia o perigo. Quando Cristian se aproximou, Zero não disse uma palavra, mas seu corpo reagiu. Ele rosnou, os músculos tensionados, e se afastou, demonstrando claramente que, mesmo sem lembrar, ele sabia que aquele homem era uma ameaça.

Cristian sorriu. Ele adorava desafios, especialmente quando se tratava de domar um predador. A resistência de Zero apenas atiçava sua vontade de controlá-lo. Cristian avançou lentamente, cada passo calculado, até que finalmente conseguiu contê-lo, mas não antes de sentir o corte de um arranhão no rosto. Zero havia reagido instintivamente, mas sua força, agora menor, não era suficiente para impedir Cristian.

Com Zero subjugado, Cristian manteve-o firmemente dominado. Seu olhar percorreu o corpo de Zero, agora marcado pelas cicatrizes da explosão, mas ainda assim, aquilo era mais do que suficiente para Cristian. Ele passou o dedo pelo próprio rosto, onde uma gota de sangue escorria do arranhão. Um sorriso perverso curvou seus lábios. Cristian puxou Zero para si, a força em seus movimentos evidente, e sem qualquer aviso, mordeu sua orelha. Ele mordeu até que sua marca estivesse gravada na carne de Zero, a dor intensa fazendo o lobo reagir, mas incapaz de se soltar.

Depois de deixar sua marca, Cristian finalmente soltou Zero, que ainda estava sob seu controle. Ele segurou o queixo de Zero com firmeza, inclinando sua cabeça para que pudesse encará-lo diretamente no olho escarlate, o único que restava intacto. Aquele olhar era um lembrete da semelhança perturbadora com Will, e Cristian se deleitava com isso.

Com a voz baixa, porém carregada de autoridade, Cristian declarou: "Você pertence a mim, Zero."

O impacto das palavras foi imediato. Zero, antes resistente, abaixou as orelhas em um claro gesto de submissão. O instinto de sobrevivência havia falado mais alto, e ele agora estava diante de um homem que não aceitaria outra resposta senão a total obediência.