Culpa sem limites

17 5 1
                                    

O reino onde encontravam-se Neo e Hector estava imerso em uma tranquilidade momentânea, alheio ao furor dos acontecimentos no reino de Will. A notícia da tragédia, entretanto, não tardou a encontrar seu caminho até eles, trazida por uma harpia, uma mensageira alada que tecia as palavras da tristeza nas cordas de suas asas.

A harpia, carregando consigo a melancolia da notícia, chegou ao castelo pairando nos céus como um mensageiro sombrio. Seu canto, que normalmente era um prelúdio de mensagens alegres, agora ecoava como uma sinfonia de dor.

Ao receberem a notícia, Hector, ciente da frágil saúde de Neo, tomou uma decisão que revelava sua dedicação como irmão e médico. Ele optou por preservar Neo da angústia iminente, da visão dos estragos que a notícia causaria.

Neo, já em um estado delicado de saúde, estava em um limiar perigoso. A notícia da perda de Will, uma figura pela qual ele nutria um laço profundo, poderia ser um golpe devastador para sua saúde já comprometida. Hector, compreendendo a intensidade desse elo emocional, agiu como um escudo para protegê-lo do impacto devastador da notícia.

A decisão de Hector de permanecer em seu próprio reino, longe da tragédia que se desenrolava no reino de Will, era uma tentativa de criar um refúgio temporário para Neo. A saúde de Neo tornava cada movimento, cada emoção, uma peça crítica no quebra-cabeça de sua recuperação.

Enquanto o reino de Will chorava, Hector e Neo compartilhavam o luto em um canto mais reservado. A melodia da harpia que trouxe a notícia ecoava em suas mentes, mas a decisão de Hector de permanecer ao lado de Neo era uma melodia mais suave que buscava acalmar as feridas emocionais que a notícia provocara.

Em seu reino, enquanto o mundo lá fora estava mergulhado em tristeza, Hector e Neo enfrentavam a tempestade juntos, unidos pela dor e pelo desejo de proteger um ao outro nas sombras da tragédia. O futuro, ainda incerto e envolto em melancolia, se desenrolava diante deles, mas juntos, eles enfrentariam o desconhecido, buscando conforto no abraço mútuo em meio ao turbilhão de emoções.

O dia do funeral de Will emergiu como uma sinfonia sombria, envolvendo o reino em um silêncio pesado e solene. O castelo, antes palco de festividades e alegrias, agora se tornava o cenário trágico de uma despedida que marcava o fim de uma era.

A área do castelo foi transformada em um local de homenagem, onde todos os súditos, desde os nobres até os mais simples cidadãos, se reuniram para prestar suas últimas homenagens a Will. O céu, cinza e nublado, refletia o luto que pairava sobre o reino.

A atmosfera era carregada de tristeza e respeito. O som solene de sinos ecoava pelos corredores do castelo, anunciando o início do último adeus. Cada passo dado pelos presentes reverberava como uma marca de respeito pelo príncipe que agora partira.

O caixão de Will, adornado com as insígnias reais e flores que representavam a efemeridade da vida, estava posicionado no centro do local. Uma cortina de flores, um tributo à beleza efêmera, cercava o cenário do luto.

Os rostos dos súditos estavam marcados por lágrimas e olhares vazios, todos compartilhando o peso da perda. Nobres e plebeus, em sua maioria vestidos de preto, uniam-se em uma procissão silenciosa, formando uma trilha de luto que serpenteava pelo castelo.

As palavras do orador ressoavam pelos corredores, destacando os feitos notáveis de Will como um líder, amigo, irmão e príncipe amado. Cada elogio ecoava como um tributo à essência nobre que ele trouxera ao reino.

Enquanto o funeral prosseguia, as chamas de velas acesas projetavam sombras dançantes nas paredes do castelo, como se os espíritos do reino chorassem junto com os vivos. Músicas lentas e melancólicas, tocadas por músicos vestidos de preto, envolviam a atmosfera em uma melodia de despedida.

Amigos de longa data, colegas de armas, membros da família real e súditos se revezavam para lançar flores no túmulo de Will, uma última oferenda de amor e respeito. A cada pétala que tocava o caixão, o reino expressava sua gratidão pela vida e sacrifício do príncipe.

O som do solo sendo lançado sobre o caixão, um som que ecoava como o último adeus, era intercalado com soluços abafados e respirações trêmulas. O reino se despediu de Will com corações pesados, mas a lembrança de seu legado ecoaria nos corredores do castelo e nas histórias contadas aos descendentes, mantendo viva a chama do príncipe que um dia liderou com honra e amor. O funeral de Will não era apenas um ponto final, mas sim o início de uma lenda que se perpetuaria na história do reino.

O desespero envolvia Jhon como uma sombra pesada, cada pensamento e lembrança de Will e do que acontecera pesava sobre seus ombros como um fardo insuportável. O funeral de Will foi para Jhon mais do que um adeus; foi um espelho cruel refletindo as escolhas que ele fizera e o preço que agora pagava.

Seu semblante desolado e olhar vago expressavam o abismo emocional no qual Jhon estava mergulhado. A culpa, como uma fera voraz, devorava sua consciência. Ele se via como o arquiteto de sua própria tragédia, e o luto que sentia estava impregnado com o veneno da autorreprovação.

O peso da culpa era ampliado pela lembrança de que Will morrera com uma raiva que Jhon não teve a chance de dissipar. O desejo de redenção se misturava à dor da perda, criando uma tempestade emocional que ameaçava consumi-lo por inteiro.

Cada suspiro era uma luta contra o remorso. O rosto de Jhon, antes expressivo e determinado, agora refletia a sombra de um homem atormentado. Ele se culpava por não ter feito as escolhas certas no passado, por não ter percebido a profundidade do amor que sentia por Will até que fosse tarde demais.

No funeral, Jhon se isolava em seu próprio mundo de dor. Ele observava a procissão de homenagens a Will, mas seus pensamentos estavam ancorados em uma narrativa de arrependimento. As lágrimas que rolavam por seu rosto eram a manifestação física de uma alma dilacerada.

A imagem de Will, um amigo e amor perdido, tornava-se um fantasma que assombrava Jhon, lembrando-o incessantemente de suas próprias falhas. Ele se perguntava se teria sido diferente se tivesse agido de outra forma, se tivesse sido menos imaturo, se tivesse escolhido um caminho diferente.

Cada palavra não dita, cada gesto não feito, reverberava em sua mente como um lamento constante. O luto de Jhon não era apenas pela perda de Will, mas também pelo que poderia ter sido e nunca seria. A escuridão emocional que o envolvia era intensificada pela sensação de que, de alguma forma, ele próprio contribuíra para a tragédia.

O funeral, embora fosse um ritual coletivo de despedida, era para Jhon um campo de batalha interno. Ele enfrentava não apenas a dor da perda, mas a batalha contra suas próprias escolhas e arrependimentos. Enquanto o reino chorava por seu príncipe, Jhon carregava consigo a carga pessoal de uma culpa que não conhecia limites.

O Lobo E O CoelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora