Seven

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RUBY

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RUBY

O sol estava apenas começando a surgir no horizonte quando eu acordei naquela manhã. As botas novas estavam ao lado da cama, quase como um lembrete silencioso da generosidade de Elijah. Eu ainda não tinha conseguido processar bem o gesto dele, mas ao olhar para as botas, um sorriso involuntário se formou nos meus lábios. Elas eram fortes e robustas, feitas para o trabalho pesado, e se encaixavam perfeitamente nos meus pés. Meus pés já não estavam mais avermelhados e doloridos depois dos dias de caminhada, e eu me sentia um pouco mais preparada para o dia que se iniciava.

Com uma xícara de café quente nas mãos, eu me arrumei rapidamente, vestindo as novas botas com um sentimento de gratidão que eu ainda não sabia como expressar. Eu ainda me perguntava o que Elijah pensaria quando me visse com elas, mas sabia que não era o tipo de pessoa que esperava agradecimentos em troca de suas ações. Ele nunca parecia se importar com o reconhecimento. De qualquer forma, eu não queria parecer desajeitada ou sem jeito por causa de algo tão simples como um presente, então tentei não pensar muito sobre isso.

O motorista da fazenda me levou até o trabalho, como sempre. O caminho até lá era sempre o mesmo, com as vastas plantações e campos de gado se estendendo por quilômetros. Eu olhava pela janela, observando a paisagem tranquila, como se estivesse me acostumando a ela cada vez mais. A vida no campo tinha seus próprios ritmos, algo que eu nunca tinha experimentado antes, e estava começando a ver que havia um certo charme nessa simplicidade. A cidade parecia estar cada vez mais distante, e, por mais que eu sentisse falta da minha antiga vida, algo dentro de mim dizia que eu estava onde precisava estar.

Quando o carro finalmente chegou à fazenda, eu pude ver Elijah lá, de longe, trabalhando com o gado, como sempre fazia. Havia algo em sua postura, a forma como ele se movia entre os animais com uma autoridade natural, que sempre me impressionava. Ele parecia estar no seu próprio mundo, imerso no trabalho, e era difícil imaginá-lo fazendo qualquer outra coisa além disso.

O motorista estacionou o carro e, quando eu saí, senti os olhares dos outros trabalhadores se voltando para mim. Não era novidade para mim que os outros estavam sempre de olho em tudo o que eu fazia, mas hoje, com as botas novas, eu me sentia um pouco mais confiante. Quando meus pés tocaram o chão, o som das minhas botas foi como um eco no silêncio da manhã.

Vi Elijah me olhando à distância e, antes que ele pudesse voltar ao seu trabalho, fui até ele. Quando me aproximei, ele levantou os olhos, e eu percebi que ele não esperava me ver tão cedo.

— Olá, Elijah — falei, tentando não parecer nervosa.

Ele assentiu com a cabeça, mas, antes que pudesse continuar com o que estava fazendo, eu fui direta ao ponto.

— Quero te agradecer pelas botas — disse, olhando diretamente para ele. — Elas são incríveis. Sério, eu não sei nem como agradecer por isso.

Ele a olhou por um momento, como se estivesse avaliando minhas palavras, e então, de maneira simples, respondeu:

— Não foi nada, Ruby. Eu só achei que você precisava delas. Você tem se esforçado muito aqui.

Eu sorri, um pouco surpreso pela maneira como ele falou. Não havia qualquer tipo de vaidade ou desejo de reconhecimento em suas palavras. Apenas uma constatação simples. Ele parecia ter um jeito muito próprio de lidar com as coisas, sem alarde.

— Eu realmente aprecio — falei, tentando encontrar as palavras certas. — Eu estava mesmo precisando de um novo par. E não sabia quando conseguiria comprar um.

Ele fez um leve gesto com a cabeça, como se aquilo fosse algo normal para ele. Elijah era difícil de ler, mas eu sabia que havia algo genuíno em seu comportamento.

— É bom ver que você está mais confortável — disse ele, com uma leve sombra de aprovação na voz.

Eu fiquei ali por um momento, sem saber o que dizer. Mas então, ele voltou ao trabalho com os animais, sinalizando que era hora de seguir em frente. Eu o observei por mais um instante e decidi que era melhor não fazer mais nada além de seguir meu caminho.

— Vou me juntar aos outros — falei, dando-lhe um sorriso discreto.

Ele assentiu novamente e, com isso, voltei ao meu posto.

O dia seguiu com a rotina normal. Eu estava trabalhando com os outros funcionários, fazendo as tarefas que me foram atribuídas, mas estava me sentindo diferente. As botas novas eram um lembrete constante do gesto de Elijah, e mesmo que ele não tivesse feito disso algo grandioso, aquilo tinha um significado para mim. Eu estava começando a perceber que minha vida ali estava se tornando mais do que eu imaginava.

Enquanto o dia passava, eu me encontrava conversando com os outros trabalhadores da fazenda. O clima estava agradável, e o ritmo das atividades era calmo, com o som das vacas e o vento suave que passava por entre os campos. Mas uma conversa em particular chamou minha atenção.

— Vocês ouviram falar da festa que vai acontecer na cidade essa semana? — perguntou John, um dos funcionários mais antigos da fazenda.

Eu parei de trabalhar por um momento e olhei para ele, curiosa.

— Festa? — perguntei, sem entender direito.

Ele sorriu, claramente empolgado.

— Sim, é a festa anual da cidade, Ruby. Todo mundo vai estar lá. Vai ter música, comida e muita diversão. A cidade toda participa — ele explicou, como se fosse uma tradição muito importante.

Eu franzi a testa, um pouco surpresa. Não fazia muito tempo que eu estava morando aqui, e eu não sabia exatamente o que esperar da cidade pequena. Nunca imaginei que uma festa pudesse ser tão grande, mas o entusiasmo de John parecia ser contagiante.

— Quando vai ser? — perguntei, agora mais interessada.

— Vai ser na sexta-feira à noite, Ruby. Vai ser divertido. Todo mundo vai estar lá, e eu aposto que você também vai adorar — disse ele, piscando.

Eu sorri levemente. A ideia de participar de uma festa na cidade era nova para mim. Eu não sabia o que esperar, mas, ao mesmo tempo, sentia que seria uma oportunidade de me integrar mais à vida dali, conhecer mais pessoas e talvez até me divertir um pouco.

— Acho que vou dar uma passada — falei, tentando não parecer tão tímida. — Parece interessante.

Os outros começaram a falar sobre os detalhes da festa, e a conversa se estendeu por um tempo. A excitação de todos era evidente, e, por mais que eu estivesse um pouco nervosa com a ideia de me juntar a um evento tão social, percebi que a oportunidade de me sentir mais conectada à cidade era algo que eu não queria deixar passar.

O restante do dia passou sem maiores acontecimentos. O trabalho continuou como de costume, mas uma sensação de expectativa cresceu dentro de mim. Eu mal podia esperar para ver como seria aquela festa e o que poderia esperar da cidade. Talvez fosse a chance de me sentir mais em casa, de me entrosar com as pessoas de uma maneira diferente.

Quando o dia chegou ao fim, fui até o local onde o motorista da fazenda normalmente me deixava. Ele não estava lá ainda, então, decidi ficar por ali, observando a fazenda. A vasta extensão de terra à minha frente parecia tranquila, mas havia algo sobre ela que me atraía, algo que me fazia sentir que, talvez, esse fosse o meu lugar.

A expectativa pela festa ainda estava em minha mente, e com ela, uma sensação de curiosidade sobre o que mais a vida poderia me oferecer nessa nova cidade, longe de casa, mas, de alguma forma, mais próxima de mim mesma.

𝐓𝐄𝐍𝐍𝐄𝐒𝐒𝐄𝐄 𝐖𝐇𝐈𝐒𝐊𝐄𝐘Onde histórias criam vida. Descubra agora