Two

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RUBY

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RUBY

Três semanas haviam se passado desde que cheguei à pequena cidade do Tennessee. Em alguns aspectos, a vida por aqui era tudo o que eu esperava: o silêncio à noite, o céu estrelado sem as luzes da cidade para encobrir, e a tranquilidade de acordar sem pressa. No entanto, a novidade da mudança logo começou a dar espaço para a realidade financeira que me aguardava. Minha poupança, que um dia parecia suficiente para um bom tempo, estava minguando. Com cada gasto, por mais cuidadosa que eu fosse, percebia que não poderia adiar por muito tempo a busca por um emprego. E quanto mais o tempo passava, mais urgente se tornava essa necessidade.

Tentei algumas abordagens nos comércios locais, perguntando casualmente se precisavam de ajuda. Perguntei na padaria, no café da rua principal, e até na oficina. Mas, ao que parecia, não havia vagas disponíveis, pelo menos não para uma recém-chegada que ninguém conhecia direito. As pessoas eram simpáticas, mas não pareciam prontas para me integrar na comunidade como eu esperava. E, com o passar dos dias, senti que, para ser realmente parte daquele lugar, teria que me provar de alguma maneira.

Naquela manhã, saí para o mercado, tentando esticar o pouco de dinheiro que ainda tinha para fazer a compra da semana. Betty, a dona da pensão, havia sido generosa ao oferecer alguns descontos, mas eu não queria abusar de sua hospitalidade. Estava decidida a viver com o que eu tinha até conseguir um emprego fixo. Ao chegar ao mercado, respirei fundo, pegando um cesto de compras e me preparando para fazer as contas mentalmente antes de cada item que colocasse no cesto.

O mercado era simples, com prateleiras repletas de produtos locais. Encontrei alguns legumes frescos, colhidos nas fazendas da região, que tinham um aroma tão intenso e fresco que me lembraram o porquê de eu estar ali. Coloquei alguns tomates, batatas e maçãs no cesto, e me virei para pegar um saco de arroz na prateleira ao lado.

Foi então que o vi pela primeira vez.

Ele estava a alguns metros de distância, parado na seção de produtos para animais, segurando um grande saco de ração. Era um homem alto e robusto, com ombros largos e um porte que parecia se destacar naturalmente. Vestia uma camisa simples de flanela, de mangas dobradas até os cotovelos, revelando braços fortes, como os de quem trabalha no campo há muito tempo. Havia algo em sua postura que exalava confiança, uma firmeza silenciosa que me fez parar de repente. Era o tipo de presença que parecia encher todo o espaço, mesmo sem dizer uma palavra.

Tentei desviar o olhar rapidamente, mas meu interesse foi inevitável. Aquela era uma pequena cidade, e pessoas novas chamavam atenção. E ele, definitivamente, não era uma figura comum. Sua expressão era séria, quase dura, como se carregasse o peso do mundo em seus ombros. O olhar estava concentrado na ração que segurava, mas de alguma forma parecia notar tudo ao redor ao mesmo tempo, atento aos mínimos detalhes.

Enquanto tentava disfarçar minha curiosidade, continuei colocando algumas coisas no cesto, observando-o de relance. Não demorou muito para que ele percebesse minha presença. Seus olhos se voltaram para mim, e por um instante senti como se estivesse presa, incapaz de desviar o olhar. Seus olhos eram de um tom profundo e penetrante, um castanho que parecia captar a luz de uma maneira única. E, apesar de seu rosto sério, não havia traços de agressividade, apenas uma intensidade que me deixava desconcertada.

—Com licença—ele disse, em um tom que não era exatamente rude, mas carregava uma firmeza que não deixava espaço para perguntas.

Sem perceber, eu estava bloqueando o caminho dele. Sentindo o rosto esquentar de vergonha, dei um passo para trás rapidamente, murmurando um pedido de desculpas.

Ele assentiu, passou por mim e continuou seu caminho até o caixa, sem sequer olhar para trás. Fiquei ali parada por alguns segundos, tentando entender por que aquela breve interação me deixara tão perturbada. Não era só a aparência dele, mas a forma como se movia e a maneira como parecia tão à vontade com sua presença, tão seguro de si. Naquele momento, percebi que ele era diferente de qualquer um que eu já havia conhecido.

Depois de terminar minha compra, levei meu cesto até o caixa e fiquei esperando minha vez. Ao olhar para a frente da fila, o vi entregando as notas para a caixa e pegando suas sacolas. Seus movimentos eram metódicos e práticos, como se cada ação tivesse um propósito claro e preciso. Quando ele finalmente saiu, dei um suspiro involuntário. Por mais que quisesse disfarçar, minha curiosidade sobre aquele homem só aumentava.

Assim que terminei de pagar, resolvi perguntar para a atendente sobre ele, tentando parecer casual. —Quem é aquele homem que estava aqui agora há pouco? Alto, com uma camisa xadrez...

A atendente, uma mulher simpática chamada Mary, que já havia conversado comigo algumas vezes desde que cheguei, deu um sorrisinho e inclinou-se para frente, como se fosse compartilhar um segredo.

—Aquele é Elijah Walker—ela disse. —É dono de uma das maiores fazendas daqui, a Fazenda Walker. Trabalha lá desde que era criança. Ele e a família construíram tudo com as próprias mãos.

Assenti, absorvendo a informação. Fazenda Walker. Eu me lembrava vagamente de alguém ter mencionado aquela fazenda em uma das conversas pela cidade. Aparentemente, eles eram conhecidos e respeitados ali, mas Elijah parecia ter um ar diferente, um certo isolamento.

Mary continuou, quase como se sentisse que eu queria saber mais. —Ele é um homem reservado, sabe? Não fala muito, mas é um dos mais trabalhadores que você vai encontrar por aqui. Cuida dos negócios da família sozinho desde que o pai morreu. Faz quase tudo sozinho, dizem que é até difícil de encontrar alguém que ele confie para ajudar.

—Hm —murmurei, tentando disfarçar o interesse. —Ele parece... determinado.

—Determinado é uma palavra educada para ele, querida—Mary disse com um riso leve. —Dizem que ele é durão e que não tem muita paciência para conversa fiada. Mas é um bom homem, ajuda a cidade de várias maneiras, mesmo que ninguém saiba de tudo o que ele faz.

Agradeci pelas informações e saí do mercado com meus pensamentos à mil. Algo em Elijah despertava um fascínio estranho em mim. Eu não o conhecia, mas tinha essa sensação de que havia mais nele do que aparentava. Ele era o tipo de homem que parecia carregar histórias que ninguém conhecia, alguém que, de alguma forma, resistia às influências do mundo moderno, vivendo de acordo com seu próprio ritmo e regras. E, naquele momento, eu quis entender mais sobre ele, sobre o que o fazia ser tão fechado e distante.

Durante o caminho de volta para a pensão, percebi que, por algum motivo, aquela breve troca me inspirava mais a procurar trabalho. Se aquele homem, que parecia fazer tanto por conta própria, podia lidar com uma vida de trabalho intenso, talvez eu pudesse ser igualmente corajosa. Talvez tivesse chegado a hora de enfrentar minha situação de frente e encontrar um emprego, mesmo que ele fosse difícil.

Naquela noite, enquanto estava em meu quarto, pensando sobre as próximas opções, algo dentro de mim se acendeu. Eu havia fugido da minha antiga vida para ser alguém que, finalmente, controlava suas próprias escolhas. Elijah parecia representar isso de maneira tão firme. Ele era alguém que não dependia de ninguém, alguém que estava, aparentemente, em paz com o que era e com o que tinha.

Eu queria isso para mim também.

𝐓𝐄𝐍𝐍𝐄𝐒𝐒𝐄𝐄 𝐖𝐇𝐈𝐒𝐊𝐄𝐘Onde histórias criam vida. Descubra agora