RUBYO cheiro de madeira e terra seca preencheu o ar assim que saí do ônibus, e senti meus ombros relaxarem pela primeira vez em muito tempo. Em volta de mim, o céu era imenso, sem os edifícios altos para encobri-lo, e o som era puro – só o barulho das cigarras e do vento leve passando pelas árvores. Quando finalmente pisei naquela pequena cidade no Tennessee, me senti como se, pela primeira vez na vida, eu pudesse respirar de verdade.
Vim de uma cidade pequena também, mas bem diferente – o tipo de lugar onde todos se conhecem, mas de uma forma que pode parecer sufocante. Nasci e cresci em Lowell, Massachusetts, em uma casa onde o amor era controlado como se fosse um recurso que podia acabar a qualquer momento. Meu pai era um homem severo, que via o mundo em preto e branco, onde não havia espaço para sentimentos "fracos" ou "desnecessários". Ele era pastor de uma igreja local, e esperava que todos nós, eu e minhas duas irmãs, seguíssemos a mesma rigidez moral que ele impunha. Minha mãe, por outro lado, era mais flexível, mas não ousava desafiar o que meu pai dizia.
Desde pequena, aprendi que precisava ser silenciosa, que deveria abaixar os olhos, concordar e fazer o que era esperado. Meus dias eram divididos entre a escola, a igreja e os serviços domésticos. Aos domingos, minha mãe e eu passávamos horas na cozinha, preparando o jantar que serviríamos para os membros da congregação, enquanto meu pai fazia questão de controlar cada detalhe. E as coisas só pioraram quando entrei na adolescência. Passei a ser vista como alguém que precisava ser "corrigida", alguém que precisava de constante vigilância para não "se perder no mundo". Qualquer coisa fora do padrão – uma saia mais curta, uma amizade que ele desaprovava – se tornava motivo para sermões, castigos e brigas intensas.
Por muito tempo, achei que esse era o único caminho que eu teria, que aquele era o único tipo de vida possível. Mas, conforme fui crescendo, senti uma fome por algo mais. Eu queria experimentar a vida, queria descobrir quem eu realmente era sem o medo constante de desagradar alguém. Lutei para guardar cada centavo que ganhava em bicos esporádicos, um pequeno fundo para um futuro que eu nem sabia como seria. Foi um processo lento, mas cada dólar guardado era uma pequena vitória – e, talvez, minha única chance de liberdade.
A decisão de partir não veio de um dia para o outro, mas em uma noite específica, a escolha foi inevitável. Minha mãe, que sempre fora a mediadora entre mim e meu pai, dessa vez ficou do lado dele numa discussão. Eles queriam que eu me casasse com um conhecido da igreja, um homem que eu mal conhecia, para "cuidar de mim e proteger minha honra". Foi o estopim. Esperei até todos dormirem, arrumei uma pequena mala com as roupas que cabiam e, no silêncio da madrugada, deixei a casa onde cresci e onde tantas vezes me senti tão sozinha. Não deixei bilhete nem despedida – sabia que eles jamais entenderiam ou me perdoariam por isso.
E foi assim que cheguei ao Tennessee, ainda sem um plano concreto, mas decidida a encontrar alguma paz. Eu só queria um lugar onde pudesse recomeçar e onde ninguém soubesse meu passado ou carregasse expectativas. O Tennessee parecia o destino perfeito, uma cidade pequena o suficiente para eu não me sentir perdida, mas distante o bastante de Massachusetts para que eu me sentisse livre.
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𝐓𝐄𝐍𝐍𝐄𝐒𝐒𝐄𝐄 𝐖𝐇𝐈𝐒𝐊𝐄𝐘
FanfictionEm uma pequena cidade do Tennessee, Ruby Mae Caldwell busca um recomeço, deixando para trás a vida agitada da cidade grande. Lá, ela conhece Elijah Walker, um fazendeiro reservado e determinado, que a contrata para trabalhar em sua fazenda, mesmo du...