ELIJAH
Os primeiros raios de sol atravessavam a cortina do meu quarto, iluminando as madeiras rústicas do teto com um calor suave e dourado. Acordei com a sensação familiar de um peso leve sobre o meu peito. Ruby ainda estava encolhida contra mim, respirando de forma tranquila, com o rosto descansando na curva do meu ombro. Acordar assim, com ela nos meus braços, era uma mudança na rotina que eu jamais imaginaria meses atrás, mas agora não conseguia pensar em outra maneira de começar o dia.
Ruby se mexeu, murmurando algo entre o sono e o despertar. Seu cabelo estava espalhado pelo travesseiro, e as mechas bagunçadas faziam cócegas no meu pescoço. Sorri, observando-a por um momento antes de acariciar suas costas levemente.
— Bom dia, dorminhoca — falei, a voz ainda rouca da manhã.
Ela abriu os olhos devagar, piscando algumas vezes antes de sorrir preguiçosamente. — Bom dia, cowboy.
Essa era uma das nossas piadas internas, o apelido que ela tinha começado a usar quando nos reencontramos. Eu adorava como ela dizia isso, com uma mistura de ironia e carinho.
— Dormiu bem? — perguntei, puxando-a um pouco mais perto, como se precisasse confirmar que ela estava mesmo ali.
Ela suspirou, ainda com aquele sorriso suave. — Acho que é impossível não dormir bem com você ao meu lado. Além disso, esta cama é muito mais confortável do que a da pensão.
— Que bom que reconhece o conforto da minha humilde morada — brinquei, rindo.
Ela me empurrou de leve, mas a risada dela se misturou com a minha, criando um som que fazia meu coração disparar. Momentos como esse, simples e tranquilos, me enchiam de uma felicidade que eu tinha esquecido que existia. E eu sabia que, aos poucos, a presença dela estava se infiltrando não só na minha casa, mas na minha vida de uma maneira completa.
Depois de mais alguns minutos preguiçosos, finalmente saímos da cama. Ruby jogou um dos meus moletões, que ficava enorme nela, enquanto preparávamos o café da manhã juntos na cozinha. Ela estava cortando frutas quando eu me aproximei, passando os braços ao redor da sua cintura.
— Sabe que eu poderia me acostumar com isso, não é? — sussurrei, beijando o topo de sua cabeça.
Ela se virou em meus braços, segurando uma fatia de maçã entre os dedos e me oferecendo com um olhar brincalhão. — Eu também, mas não se acostume demais. Eu ainda gosto de manter um pouco de mistério.
Mordi a maçã que ela segurava e ri. — Ah, é? Que tipo de mistério?
Ruby sorriu, puxando minha nuca para um beijo rápido. — O tipo que mantém você sempre intrigado, Elijah.
Eu adorava isso nela. Ruby sempre conseguia manter as coisas leves, divertidas, mesmo que estivéssemos nos aprofundando em algo tão significativo como a forma como nossas vidas estavam se entrelaçando. Durante os últimos dias, ela tinha começado a trabalhar no escritório da fazenda comigo, e surpreendentemente, nós éramos uma boa equipe.
No escritório, era difícil não me distrair com ela ao meu lado, principalmente porque ela parecia tão confortável na posição. Eu a via lidando com a papelada, organizando documentos, e até dando ordens com a mesma determinação que eu via quando ela discutia comigo por alguma besteira. Era difícil não me perder observando o jeito como ela mordia o lábio quando estava concentrada, ou como ela ria de alguma coisa boba que acontecia no meio do expediente.
Certa tarde, após um longo dia de trabalho, Ruby estava empilhando algumas pastas na prateleira do escritório quando parei o que estava fazendo para observá-la. Ela estava de jeans e uma camiseta, algo simples, mas eu ainda achava que ela era a coisa mais bonita do mundo.
— Ei, Ruby — chamei, minha voz mais baixa.
Ela se virou, uma sobrancelha levantada. — Sim, Elijah?
Me aproximei e tirei uma folha de papel que tinha ficado presa em seu cabelo. — Isso é um novo tipo de penteado?
Ela revirou os olhos, mas o sorriso não saía de seu rosto. — Você sabe que a administração de uma fazenda é mais complicada do que parece, certo? E olha quem fala, o homem que tem mais papel espalhado do que o chão consegue aguentar.
Rimos juntos, e ela se inclinou para me dar um beijo leve, um gesto que se tornou tão natural entre nós. Eu me senti completo, como se algo tivesse se encaixado de uma forma que nunca fez antes.
Às vezes, após um dia cansativo, íamos jantar em algum lugar na cidade. Gostávamos de lugares tranquilos, onde podíamos conversar sem pressa. Uma noite, escolhemos um pequeno restaurante italiano. O lugar estava iluminado com luzes suaves, e a atmosfera era acolhedora. Pedimos pratos simples, mas o melhor de tudo era a companhia um do outro.
— Sabe, eu realmente sinto falta de Massachusetts às vezes, mas esse lugar... — Ruby fez uma pausa, olhando ao redor. — Tem algo especial aqui.
Segurei a mão dela sobre a mesa, o polegar acariciando sua pele. — Talvez seja porque agora você tem algo especial aqui também.
Ela corou, algo que eu amava ver, e apertou minha mão. — Talvez seja isso.
Outras vezes, íamos até a pensão de Betty, que tinha começado a tratar Ruby como uma filha. Ver as duas juntas era uma das coisas mais satisfatórias, e eu sabia que Ruby sentia o mesmo. Betty sempre nos recebia com um sorriso caloroso e pratos deliciosos que faziam qualquer um se sentir em casa. Era como se, de alguma forma, todas as peças da minha vida estivessem finalmente se encaixando.
Mas o que mais me deixava feliz era como Ruby estava, lentamente, se acomodando aqui. Suas coisas já estavam começando a tomar conta do banheiro e do closet. Vi escovas de cabelo, produtos que eu não fazia ideia para que serviam, e até mesmo um par de chinelos cor-de-rosa que, de alguma forma, tinham encontrado um lar ao lado da minha cama.
Uma noite, enquanto jantávamos juntos no campo, sob as estrelas, Ruby olhou para mim e segurou minha mão.
— Você acha que isso vai durar? — ela perguntou, a voz suave mas carregada de algo que eu não conseguia decifrar.
Apertei sua mão de volta. — Eu espero que sim. Não quero que isso acabe.
Ela sorriu, mas havia uma melancolia em seus olhos. — Eu também. Só... às vezes é difícil acreditar que as coisas boas possam durar.
Puxei-a para perto, beijando sua testa. — Então, vamos fazer isso durar. Um dia de cada vez.
E era isso que estávamos fazendo. Cada dia, com suas surpresas e desafios, estava nos trazendo mais perto, e eu não podia estar mais feliz. Não era o que eu tinha planejado, mas às vezes, as melhores coisas são aquelas que a gente nunca espera.
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𝐓𝐄𝐍𝐍𝐄𝐒𝐒𝐄𝐄 𝐖𝐇𝐈𝐒𝐊𝐄𝐘
FanficEm uma pequena cidade do Tennessee, Ruby Mae Caldwell busca um recomeço, deixando para trás a vida agitada da cidade grande. Lá, ela conhece Elijah Walker, um fazendeiro reservado e determinado, que a contrata para trabalhar em sua fazenda, mesmo du...