ELIJAH
Eu estava saindo de casa naquela manhã, debaixo do céu limpo e ensolarado, quando me dei conta de algo. O trabalho estava tomando muito da minha atenção ultimamente, e eu não estava dando o tempo necessário para algo mais. Algo simples, como... sair um pouco, mudar a rotina.
Foi então que tive a ideia. Chamar Ruby para me acompanhar na viagem rápida até a cidade vizinha. Precisávamos comprar algumas vacinas para o gado, e seria uma boa desculpa para sairmos um pouco da fazenda. Não era muito, mas talvez fosse o suficiente para dar um respiro. Ela tinha se mostrado uma pessoa interessante, alguém com quem eu poderia conversar sem a pressa do trabalho ou das obrigações do dia a dia. Algo me dizia que essa pequena viagem poderia ser mais reveladora do que eu imaginava.
Eu a encontrei na garagem, preparando-se para o dia, vestida com suas roupas de trabalho, como sempre. Seus olhos estavam concentrados nas tarefas da fazenda, mas assim que me viu, seu semblante se suavizou.
— Oi, Ruby. — Falei, me aproximando com um sorriso. — Eu estou indo até a cidade comprar umas vacinas para o gado. Queria saber se você quer vir comigo. Vai ser uma viagem rápida. Talvez até possamos parar para um sorvete depois, se você quiser.
Ela me olhou, parecia surpresa, mas de forma positiva. Acho que ela não esperava esse tipo de convite. Ela deu uma pequena risada, provavelmente tentando esconder a curiosidade que estava em seu olhar.
— Claro, Elijah. Eu não tenho muito o que fazer mesmo por aqui. E um sorvete não parece uma má ideia. — Ela sorriu, e algo me fez sentir que ela estava um pouco mais à vontade com a ideia de sair comigo. — Deixe-me só pegar minha jaqueta e já vou.
Eu assenti e aguardei. Enquanto isso, pensei sobre como os dias na fazenda tinham sido corridos, e como essa pequena pausa para a cidade poderia ser uma oportunidade de conhecê-la melhor. Ruby sempre teve aquele jeito tranquilo, um pouco distante, mas ao mesmo tempo, ela parecia ser muito presente. Era difícil de explicar, mas algo me fazia querer estar ao lado dela por mais tempo. Algo que eu não podia negar.
Quando ela voltou, já estava com a jaqueta e um sorriso mais confiante. Ela entrou no carro sem hesitar, e o silêncio que normalmente existiria entre nós foi quebrado por sua voz.
— Então, Elijah... — ela disse enquanto se acomodava no banco do passageiro. — O que você faz nas suas horas vagas? Quero dizer, além de trabalhar na fazenda.
Eu olhei para ela, surpreso com a pergunta, mas também aliviado por saber que ela estava interessada em conversar, em descobrir mais sobre mim.
— Nas minhas horas vagas? — Perguntei, refletindo um pouco. — Bem, eu gosto de passar um tempo ao ar livre. Às vezes, gosto de pescar ou apenas andar pela fazenda para observar o que está acontecendo. Gosto do silêncio do campo. E você? O que faz quando não está trabalhando?
Ela sorriu levemente, como se tivesse gostado de saber algo mais pessoal sobre mim.
— Eu... bem, eu não tenho muitos hobbies fora da fazenda, mas eu sempre gostei de ler. E às vezes, gosto de sair para dar uma volta e explorar a cidade ou algum lugar diferente. O campo é tranquilo, mas de vez em quando eu sinto falta de algo mais movimentado.
Eu acenei com a cabeça, entendendo o que ela queria dizer. Eu também gostava da tranquilidade, mas entendi a necessidade de um pouco de agitação de vez em quando.
— Ler é bom. Eu também leio de vez em quando, especialmente livros sobre a natureza ou até sobre a história local. É interessante ver como o passado molda o presente, sabe? — Comentei.
Ela assentiu com um sorriso, concordando.
— Eu gosto disso também. Já li alguns livros sobre história, mas sempre gosto de aprender mais. Quem sabe um dia eu encontre um livro interessante sobre a história da fazenda.
A conversa fluía com facilidade, o clima estava mais descontraído. A viagem até a cidade parecia ser mais curta com Ruby ao meu lado, e as trocas de palavras entre nós faziam o tempo passar mais rápido. No entanto, logo chegamos ao nosso destino: a cidade vizinha.
Assim que estacionamos o carro perto da farmácia, onde íamos comprar as vacinas, olhei para ela e sugeri:
— Vamos pegar o sorvete primeiro, depois a gente compra o que precisamos. Acho que a viagem já valeu a pena, não acha?
Ela me olhou surpresa, mas com um sorriso suave.
— Acho que você tem razão. Vamos, então.
Entramos na sorveteria e pedi um sorvete de chocolate, enquanto ela escolheu um de morango. Ficamos ali, em pé, conversando e comendo, até que, sem perceber, Ruby acabou se sujando um pouco com o sorvete. O chocolate tinha escorrido para o canto de sua boca, e eu me peguei observando. Fui tomado por um impulso sem pensar direito. Peguei um guardanapo e, sem dizer nada, me aproximei dela e, com a suavidade de quem não queria invadir seu espaço, limpei a mancha em seu rosto.
Ela olhou para mim com uma expressão surpresa, e um rubor apareceu em suas bochechas, mas ela não se afastou. Em vez disso, ela riu baixinho, mas de forma leve, como se aquilo fosse algo natural entre nós. Algo que, de certa forma, até me deixou mais à vontade.
— Eu... eu não sou muito boa com sorvetes — ela disse, rindo de si mesma.
Eu sorri de volta, tentando esconder o quanto estava me sentindo mais próximo dela.
— Está tudo bem, Ruby. Eu só não queria que você ficasse com chocolate por aí. — Falei com um tom brincalhão, ainda segurando o guardanapo.
Ela ainda parecia um pouco sem jeito, mas aquele gesto de simplicidade entre nós parecia quebrar a barreira que existia. Eu estava me sentindo mais confortável do que imaginava. A tensão, que até então pairava no ar entre nós, desapareceu por um instante.
Após o sorvete, compramos as vacinas e resolvemos algumas pendências. Mas, à medida que nos dirigíamos de volta ao carro, um silêncio mais pesado caiu sobre nós. A leveza do momento tinha se dissipado, e havia algo diferente no ar. Talvez fosse o fato de que, após o gesto espontâneo de limpar o rosto dela, algo tinha mudado entre nós. Ou talvez fosse eu, que estava começando a perceber como minha presença ao lado de Ruby estava se tornando algo mais importante do que eu imaginava.
Sentamos no carro e o ambiente estava mais tenso, mas de uma forma silenciosa, como se estivéssemos ambos cientes do que acabara de acontecer, mas sem saber o que fazer com isso. Eu a olhei brevemente, e ela desviou o olhar para a janela, como se estivesse tentando processar tudo.
— Vamos voltar para a fazenda — falei por fim, tentando dissipar a tensão que se acumulava.
Ela apenas assentiu, sem dizer nada. E então, a viagem de volta para a fazenda se passou em silêncio, mas um silêncio carregado de pensamentos e emoções não ditas.
Eu não sabia o que exatamente havia acontecido naquele dia, mas, ao olhar para Ruby, sabia que algo tinha mudado. Eu só não sabia o que isso significava, nem o que viria depois. Mas uma coisa era certa: o clima entre nós, agora, era diferente.
VOCÊ ESTÁ LENDO
𝐓𝐄𝐍𝐍𝐄𝐒𝐒𝐄𝐄 𝐖𝐇𝐈𝐒𝐊𝐄𝐘
FanfictionEm uma pequena cidade do Tennessee, Ruby Mae Caldwell busca um recomeço, deixando para trás a vida agitada da cidade grande. Lá, ela conhece Elijah Walker, um fazendeiro reservado e determinado, que a contrata para trabalhar em sua fazenda, mesmo du...