ELIJAH
A manhã estava sendo mais tranquila que de costume. Ruby e eu tínhamos resolvido muitas pendências no escritório, e o clima parecia estar ótimo. Ela estava se adaptando bem à rotina da fazenda, e eu ficava impressionado a cada dia com sua dedicação. Mas, por mais que tudo parecesse se encaixar perfeitamente, o trabalho sempre traria algum tipo de pressão. Eu sabia disso.
Quando a conversa começou a se intensificar sobre os fornecedores, Ruby e eu divergimos em um ponto crucial. A negociação com os fornecedores de ração estava um pouco mais difícil do que o esperado. A fazenda estava crescendo, e eu precisava de bons preços para manter tudo funcionando sem afetar o nosso lucro. No entanto, Ruby, sempre tão meticulosa, começou a questionar as condições que eu estava disposto a aceitar. Ela sugeriu que poderíamos buscar uma alternativa mais cara, mas com um produto de qualidade superior.
— Elijah, você não está pensando no longo prazo, está apenas olhando para o agora! — Ruby falou com firmeza, apontando para os números na tela do computador. — Isso vai prejudicar a fazenda no futuro, se continuarmos com essas condições péssimas. Eu sei que você quer economizar, mas esse não é o caminho mais inteligente.
Eu respirei fundo, tentando manter a calma. O tom de voz dela já estava começando a me irritar, e eu sabia que não ia ser fácil convencer ela de que eu estava fazendo o melhor. Eu era o chefe ali, afinal, e sabia muito bem o que estava em jogo.
— Ruby, eu sei o que estou fazendo — respondi, tentando controlar o tom. — Eu sou o responsável pela fazenda. Eu tenho experiência nisso. Não importa o quanto você pesquise ou estude, eu sei o que é melhor para o negócio. Você pode ser boa no que faz, mas eu sou o chefe aqui.
O silêncio que se seguiu foi denso. Ruby me olhou, surpresa, como se o que eu tivesse dito tivesse atingido um ponto sensível. Mas eu estava furioso, e não conseguia me controlar.
— Eu entendo muito bem o que você está dizendo, mas você não pode simplesmente fazer o que sempre fez e esperar que funcione. Você não pode continuar ignorando as implicações de cada decisão — ela contra-argumentou, com um tom mais firme agora. — Não estou questionando sua liderança, mas você tem que entender que, no fundo, quem vai ter que lidar com as consequências disso sou eu também.
Eu me levantei da cadeira, minha paciência começando a se esgotar. Não havia como eu não ficar irritado. Ela não entendia, e eu estava cansado de tentar explicar.
— Então, você acha que eu não sei o que estou fazendo? — minha voz saiu mais áspera do que eu queria, e percebi que o clima havia mudado totalmente. — Eu sei o que é melhor para a fazenda, Ruby! Você pode me ajudar, mas não quer aceitar que, no final das contas, a decisão é minha! Eu sou o chefe aqui!
Ela levantou os olhos para mim, como se tivesse sido atingida por uma flecha. A dor na expressão dela foi imediata.
— Eu nunca disse que você não sabia o que estava fazendo. Só acho que você está sendo muito teimoso. Eu sou sua parceira nesse processo, Elijah. Não sou só mais uma funcionária para ser ignorada!
Eu a encarei, sem palavras, sentindo a frustração crescer dentro de mim. Não queria que ela fosse embora, mas naquele momento, estava difícil controlar a raiva.
— Se você não concorda com as decisões que estou tomando, então o que está fazendo aqui? — fui mais ríspido do que deveria.
Ela respirou fundo, como se tentando se acalmar, mas sua voz estava trêmula de raiva e mágoa.
— Se você acha que sou apenas uma peça nesse jogo, então talvez seja melhor eu sair e procurar outro lugar para trabalhar — ela disse, sua voz vacilando por um instante, mas logo se tornando firme.
Fui tomado por um impulso. Eu sabia que tinha exagerado, que tinha ido longe demais, mas naquele momento, a ideia de perder o controle sobre a situação parecia algo inevitável.
— É melhor você sair, então — falei, e a palavra "sair" ecoou no ambiente com mais força do que eu imaginava.
Ruby não respondeu. Ela apenas pegou sua bolsa, sem olhar para mim, e saiu do escritório. O som da porta fechando atrás dela foi como uma lâmina cortando o ar.
Eu fiquei ali, imerso em uma nuvem de frustração e arrependimento. Como eu tinha deixado as coisas chegarem a esse ponto? Eu sabia que precisava dela, mas eu não sabia como lidar com a situação sem perder a compostura.
O resto da noite passou devagar. Ruby não apareceu mais, nem para o jantar. Eu fiquei ali, sozinho, tentando processar tudo o que havia acontecido. O silêncio da casa parecia ainda mais ensurdecedor do que antes.
Eu tentei dormir, mas as horas se arrastavam. Me virava na cama, pensando nela, e me sentindo cada vez mais culpado por tê-la afastado. O que eu tinha feito? Como podia ter sido tão insensível? Mas a raiva ainda estava dentro de mim, misturada com a culpa.
Eu não conseguia suportar ficar ali sozinho, então, no meio da noite, decidi que precisava ir até o quarto de Ruby. Eu não sabia o que diria, mas sabia que não poderia dormir sem ao menos tentar me reconciliar.
Quando cheguei ao quarto dela, a porta estava entreaberta. Eu toquei suavemente na maçaneta e entrei. Ruby estava deitada na cama, virada para a parede, o corpo imóvel. Eu sabia que ela estava acordada, provavelmente remoendo tudo o que aconteceu.
Eu me aproximei dela, a respiração pesada. — Ruby? — falei, em um tom baixo, quase temendo que ela me afastasse de novo.
Ela virou a cabeça para me olhar, e a expressão dela era de dor. Não havia raiva agora, só tristeza. — Eu não quero falar sobre o que aconteceu hoje. Não sei se podemos resolver isso, Elijah.
Eu me sentei na beirada da cama, minha mão balançando no ar, sem saber como tocar nela sem parecer invasivo. — Eu sinto muito, Ruby. Não era para ter dito o que eu disse. Eu estava frustrado, e... não sei como explicar, mas eu não queria te afastar.
Ela olhou para mim por um longo tempo, e só então, com um suspiro, se mexeu para me dar um pouco de espaço na cama. — Você não tem ideia do quanto isso me magoou. E eu não sei se posso simplesmente esquecer o que você disse. Não só sobre o trabalho, mas sobre como você me trata quando não concorda comigo.
Eu deitei ao seu lado, o espaço entre nós ainda grande. Não sabia o que mais dizer, mas não queria mais ficar longe dela. Eu sabia que as palavras não iam consertar tudo, mas eu precisava estar perto dela.
Eu a puxei para mim lentamente, e ela não fez resistência. Ficamos assim por um momento, sem palavras, apenas sentindo a presença um do outro. Era reconfortante, mas ainda havia uma tensão no ar. Ela suspirou profundamente.
— Eu ainda estou chateada, Elijah. Isso não vai desaparecer assim — ela disse, a voz baixa, mas firme.
Eu fechei os olhos, abraçando-a com mais força. — Eu sei, Ruby. Eu sei. E vou fazer tudo o que for preciso para consertar isso. Eu só... não consigo mais ficar longe de você.
Ela se acomodou em meus braços, mas o silêncio entre nós continuou, pesado e difícil. Eu sabia que tínhamos muito o que conversar, mas naquele momento, o simples fato de estarmos juntos novamente já era um pequeno passo na direção certa.
A madrugada passou lenta, mas, aos poucos, eu senti a tensão diminuir. Eu sabia que o caminho seria longo, mas, por agora, estava ali, ao lado dela, e isso era tudo o que eu precisava.
VOCÊ ESTÁ LENDO
𝐓𝐄𝐍𝐍𝐄𝐒𝐒𝐄𝐄 𝐖𝐇𝐈𝐒𝐊𝐄𝐘
FanfictionEm uma pequena cidade do Tennessee, Ruby Mae Caldwell busca um recomeço, deixando para trás a vida agitada da cidade grande. Lá, ela conhece Elijah Walker, um fazendeiro reservado e determinado, que a contrata para trabalhar em sua fazenda, mesmo du...