Twelve

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RUBY

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RUBY

Ruby

Era uma tarde quente de sexta-feira, e o som dos insetos no campo era quase hipnótico. Eu estava sentada na grama, encostada em uma árvore, com os olhos perdidos no horizonte. O dia tinha sido longo, e o sol já começava a se esconder atrás das montanhas, pintando o céu de tons laranja e dourado. A brisa suave balançava a grama ao meu redor e, por um momento, eu me senti em paz. Mas não era uma paz completa. Algo estava faltando.

Eu esperava o motorista de sempre, o homem que trazia o carro para me levar para a cidade toda sexta-feira, mas ele estava um pouco atrasado. Por mais que eu estivesse cansada, minha mente não conseguia parar. Desde o dia em que fui à cidade com Elijah, algo havia mudado. Eu sabia disso, mas não conseguia entender completamente o que era. O simples fato de passar mais tempo com ele estava mexendo comigo de um jeito que eu não queria admitir.

Eu estava absorta nos meus pensamentos quando senti uma presença. Levantei os olhos e vi Elijah se aproximando, com seu jeito calmo e sua expressão serena, que de alguma forma ainda tinha uma carga de mistério. Ele estava parado ali, olhando para mim, como se soubesse exatamente o que eu estava pensando.

— O motorista está demorando, hein? — Ele comentou, quebrando o silêncio entre nós.

Eu dei de ombros, tentando parecer despreocupada.

— Sim, mas está tudo bem. Acho que é só um pequeno atraso. Não tenho pressa.

Ele deu um sorriso suave, mas não se afastou. Pelo contrário, se aproximou e se sentou na grama ao meu lado, com a mesma calma de sempre, mas agora parecia haver uma tensão no ar que eu não conseguia explicar. Era como se ele tivesse algo para dizer, algo que estava pesando sobre ele.

Eu olhei para ele, tentando captar qualquer sinal, mas ele parecia distante. Eu não queria pressioná-lo, então me concentrei no campo à nossa frente.

— Eu sei que você tem ficado muito quieto ultimamente — falei, quebrando o silêncio. — Está tudo bem com você, Elijah?

Ele me olhou de relance, talvez surpreso com a minha pergunta, mas então suspirou, como se soubesse que não podia mais esconder o que estava sentindo.

— Eu... eu não sou bom em falar sobre certas coisas, Ruby. Às vezes, é mais fácil se fechar, guardar tudo para si. Não sei se você entenderia, mas eu sempre fui assim. Desde que... desde que algumas coisas aconteceram no meu passado. — Ele olhou para a grama, como se estivesse escolhendo as palavras com cuidado.

Eu fiquei em silêncio, esperando. Havia algo mais. Ele queria me contar, eu sabia. E ele confiava em mim, de alguma forma. Eu não queria forçar, mas sabia que ele precisava desabafar.

— Você não precisa contar se não quiser — falei, tentando ser compreensiva.

Mas ele balançou a cabeça, como se fosse algo que ele tivesse que fazer.

— Eu já fui muito próximo de alguém, Ruby. Uma pessoa que eu amei muito. Mas a vida... as coisas mudaram. Eu... eu terminei com ela. — A voz dele ficou mais baixa, mais difícil de entender. — Eu não sabia lidar com o que estava acontecendo dentro de mim. Foi difícil e doloroso, e eu não soube como continuar. Por isso, eu me fechei. Não queria que ninguém visse o quanto eu estava quebrado por dentro. Quando alguém é importante demais, a perda é muito grande. E eu não sabia mais como confiar em mim, ou nas pessoas ao meu redor.

Ele olhou para mim agora, seus olhos carregados de algo profundo, algo que ele não estava disposto a revelar por completo. Eu não sabia o que responder a isso. As palavras pareciam pequenas demais para tentar consolar alguém que carregava tanto.

— Isso deve ter sido difícil, Elijah. — Eu disse, finalmente, de forma suave. — Eu entendo o que você quer dizer. O que você está dizendo... às vezes é difícil abrir o coração, especialmente quando a dor é muito forte.

Ele assentiu, e o silêncio se fez presente novamente. Mas agora, ao invés de desconfortável, o silêncio era mais como uma compreensão silenciosa entre nós dois. Eu podia sentir que ele queria se abrir mais, que havia algo mais profundo naquelas palavras não ditas.

E, de repente, sem mais nem menos, eu também senti uma vontade irreprimível de me abrir. Era como se, de alguma forma, ele tivesse quebrado uma barreira dentro de mim, e agora, era a minha vez de compartilhar a minha dor.

Eu respirei fundo e me virei para ele, sentindo o peso das palavras que estavam prestes a sair da minha boca.

— Eu... eu também tenho algo para te contar. Algo que não contei a ninguém ainda. — Eu disse, a voz mais firme do que eu esperava. Ele me olhou com um interesse genuíno, como se estivesse realmente querendo saber. — Eu não vim para o Tennessee por acaso, Elijah. Eu... eu estava fugindo. Fugi de casa, da minha família.

Eu senti uma pressão no peito ao dizer isso. Falar sobre a minha família nunca foi fácil, mas ao olhar para Elijah, eu sentia que poderia confiar nele. Que ele entenderia de alguma forma.

Ele ficou em silêncio, esperando, então eu continuei, me sentindo cada vez mais vulnerável.

— Eu vinha de uma família complicada. Eu sempre fui a filha do meio, sabe? E havia muita pressão para ser algo que eu não era. Eu não consegui aguentar. Minhas decisões nunca foram boas o suficiente para eles. Meus pais... eles não entendiam, não viam a mim como eu realmente sou. Eu me sentia invisível, sufocada, e quando eu percebi que não podia mais viver daquele jeito, decidi partir. Fui para o Tennessee, sem saber o que me aguardava, sem um plano. Só precisava de um lugar onde eu pudesse respirar, onde ninguém me julgasse.

Eu parei por um momento, sentindo o nó na garganta. As palavras haviam saído mais facilmente do que eu imaginava, mas ainda assim, o peso daquelas memórias me atingiu em cheio.

Elijah me olhou com uma intensidade silenciosa, e então, com uma suavidade rara, ele falou.

— Eu entendo, Ruby. Eu sei o que é se sentir preso. Sei o que é sentir que você não é bom o suficiente para aqueles que mais deveriam te apoiar. — Ele se aproximou um pouco mais, como se quisesse se conectar ainda mais. — Você tem razão em ter fugido. Às vezes, precisamos de um novo começo, de um lugar onde possamos nos encontrar novamente. Não podemos viver para os outros. Temos que viver para nós mesmos.

Eu não sabia o que responder. As palavras dele tinham tocado algo em mim, algo profundo e genuíno. Nós dois éramos dois estranhos, mas ao mesmo tempo, parecia que estávamos começando a nos entender de uma maneira que poucas pessoas seriam capazes de.

Eu respirei fundo e olhei para ele.

— Obrigada por ouvir, Elijah. Eu... eu realmente aprecio que você tenha me escutado.

Ele sorriu, mas de uma forma diferente agora, mais suave, mais acolhedora.

— Não precisa agradecer. Eu sei o que é precisar de alguém. E eu estou aqui, Ruby. Sempre que precisar, pode contar comigo.

Aquelas palavras, simples e sinceras, foram como um bálsamo para a minha alma. Eu sabia que, naquele momento, algo havia mudado entre nós. Algo real e significativo.

Nós dois ficamos em silêncio por um tempo, o sol já se pondo no horizonte, colorindo o céu de rosa e lilás. Mas, embora o tempo tivesse passado, a sensação de conexão, de empatia, de compartilhar algo verdadeiro, continuava entre nós, silenciosa, mas forte.

E, pela primeira vez em muito tempo, eu me senti realmente vista.

𝐓𝐄𝐍𝐍𝐄𝐒𝐒𝐄𝐄 𝐖𝐇𝐈𝐒𝐊𝐄𝐘Onde histórias criam vida. Descubra agora