SWEET NIGHTMARE

Capítulo 51

ARIELLA

A chuva fina caía do céu nublado, como se o próprio clima respeitasse a solenidade do momento. O cemitério de Wallace, antigo e repleto de esculturas de mármore cobertas por musgo, exalava um ar de melancolia que combinava com o estado de espírito dos presentes.

Parei entre as lápides frias e as coroas de flores que emolduravam o caixão de vovó. Olhei para meu pai que permanecia imóvel à beira do túmulo, os ombros tensos e os olhos fixos no chão. As rugas em sua testa pareciam mais profundas, e ele lutava para manter a compostura que sempre foi uma marca de sua personalidade. Uma dor silenciosa e respeitosa, mas profundamente marcada. Ele havia perdido a mãe, a mulher que, apesar de suas falhas, ajudou a moldá-lo no homem que é hoje.

Eu sentia um turbilhão de emoções dentro de mim. Não era a tristeza pela perda de vovó que me afetava, pois ela nunca foi uma avó calorosa, mas sim pelo meu pai, que, mesmo sendo alvo de uma educação rígida e de poucas palavras de afeto, ainda demonstrava amor por ela. Era como se eu pudesse sentir a solidão e o vazio que ele enfrentaria a partir daquele momento.

As palavras do padre ecoavam pela área, dizendo preces que falavam de redenção e descanso eterno. Mas, para mim, tudo parecia um borrão, uma névoa onde apenas a dor contida de papai se destacava. Queria me aproximar, segurar sua mão, mas permaneci onde estava, respeitando sua necessidade de luto particular.

— Genevieve Roux, filha única de Roux Bing de Wallace, — disse o padre. — mãe, avó, bisavô, amiga, uma grande líder. foi fundamental na construção e desenvolvimento da cidade que conhecemos hoje como Wallace. Sua história é marcada por bravura e sacrifício, deixando um legado que até hoje ecoa nos corações dos habitantes, relembrando como a determinação de uma mulher e a força de seu espírito moldaram gerações. — ele esqueceu de mencionar bruxa malvada, mas relevemos.

O vento frio soprou e trouxe o som das folhas farfalhando, interrompendo o silêncio por um momento. Minha avó não tinha ninguém de família direta além do meu pai e nós, então os outros presentes não passavam de conhecidos da família, eles se entreolhavam, alguns com lágrimas verdadeiras, eu diria as amigas malvadinhas da vovó, pois sua líder se foi, outros com a expressão neutra de quem estava ali apenas por obrigação social. O coveiro aguardava pacientemente, com a pá nas mãos, para que o processo final começasse assim que todos se despedissem.

Quando a última palavra foi dita e o padre fez o sinal da cruz, meu pai deu um passo à frente, lançou uma rosa branca sobre o caixão e sussurrou algo que só ele poderia ouvir. Uma despedida que, de certa forma, me cortou por dentro. Genevieve Roux pode não ter sido uma avó amorosa, mas, naquele momento, seu papel como mãe fez uma sombra longa sobre nós, e meu pai foi quem mais sentiu o frio dessa ausência.

Eu respirei fundo e dei um passo, finalmente parando ao lado dele. Ele não olhou para mim, mas a tensão em seus ombros pareceu suavizar levemente, como se soubesse que, apesar de tudo, ele não estava sozinho. Mamãe também estava ao lado dele, de mãos dadas todo o tempo, pelo menos ele tinha sua armadura com ele.

[...]

O céu ainda chorava gotas finas quando a cerimônia chegou ao fim. As pessoas começaram a se espalhar, murmurando palavras de conforto e despedindo-se com olhares carregados de solidariedade. Permaneci ao lado de papai, sentindo o peso do momento, até que ele se afastou, recebendo os cumprimentos dos presentes com a dignidade de sempre. Eu mesma estava prestes a me mover quando, ao levantar os olhos, meu coração quase parou.

Lá estava ele, entre as sombras projetadas pelas grandes árvores que rodeavam o portão do cemitério — Tristan Falcone. O homem que, apesar de todos os conflitos e mágoas, ocupava cada recanto do meu coração. Sua presença imponente parecia se destacar contra o cinza do dia, o sobretudo escuro ajustado aos ombros largos e os olhos penetrantes que imediatamente encontraram os meus.