O vale dos corpos

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Diante de mim, estavam pessoas...não vivas, estavam todos mortos, montoados uns em cima dos outros o chão estava vermelho de tanto sangue derramado, tive vontade de gritar, sair correndo ou vomitar, mas não sou mais uma garotinha, acredito que tenho maturidade o suficiente para lidar com uma visão assim...pelo menos enquanto eu tiver companhia.
- É bem pior do que eu imaginei.- Patrick disse desviando o olhar, eu não conseguia parar de olhar todas aquelas pessoas, todos os olhos sem vida, conseguia imaginar seus gritos de dor, seu sofrimento, aquilo foi um grande choque.
- Eles estão matando humanos por prazer, não mais uma questão de rivalidade, é um hobby deles, eles não vão parar mais, é só o começo da nossa aniquilação.
- Dá pra parar de me fazer pensar em coisas ruins? Não basta o que vejo agora? Pra você não é suficiente? Deveria aprender a calar a boca Hunter, pelo menos em momentos como esse!
Kindness veio em nossa direção de cabeça baixa, ela realmente não queria olhar mais aquilo.
- Líder disse que devemos atravessar.
- O que?!- Patrick disse olhando para ela e franzindo as sobrancelhas.
- Tá me zoando né Kindness?
- Sem brincadeira, precisaremos atravessar.
- Aí eu não sei se você reparou mas não tô a fim de pisar em gente morta.
- Como se eu estivesse a fim.
Ela saiu de perto de nós e voltou para o lugar dela na fila.
- Ótimo viu o que você fez Hunter?
- Não me julgue, sabe que sou assim.
- Você conseguiu fazer a Kindness ser grossa pela primeira vez na vida.
- Aquilo não foi ser grossa Kimberly.
- Tá, que se dane. Vamos voltar para o nosso lugar na fila.
- Não se cansa de me dar ordens mesmo?
- Desculpe, o que disse?
- Isso mesmo que você ouviu.
- Só uma coisa, não dou ordens, dou instruções, se vai seguir ou não, já não é problema meu.
Saí de perto e voltei para o meu lugar na fila, logo depois vejo ele vir também.
- Foi mal.
- Você pede muito perdão.
- Às vezes é a única coisa que você precisa ter, principalmente se souber de que veio da única pessoa da qual você quisesse o perdão.
- Você é tão bipolar, não te entendo, uma hora você é grosso e frio e em outro momento já fica completamente dócil...é tão difícil conviver com você.
- É por isso que eu te admiro.
- Por que?
- Porque você consegue conviver comigo, o que é muito difícil.
- Você só precisa deixar de ser tão rude às vezes.
A fila começou a andar de novo e fui andando.
- Agora por favor não diga nada, preciso de silêncio.
- Tudo bem.
Íamos andando e pisando em cima de faces mortas, corpos sem oxigênio nem órgãos funcionando, eram apenas cadáveres, mas sem dúvida é a coisa mais traumatizante que já vi em toda a minha vida.
O cheiro podre me dava ânsia, minha vontade era de desmaiar a cada passo que eu dava, Patrick andava rápido, e eu sabia que, no fundo, ele estava tão louco para sair de lá quanto eu.
Olhei para o lado e vi um lago, era completamente vermelho e vários corpos flutuavam pela água.
Eu queria correr e sair dali o mais rápido possível, mas do jeito que a fila andava, demoraríamos algumas horas para atravessar todo o "vale dos corpos". (Foi o nome que inventei em mente a partir do momento em que começamos a atravessar.)
Depois de mais ou menos três horas atravessando aquele lugar horrível, finalmente chegamos ao fim da trilha onde os corpos acabavam.
Eu não estava passando muito bem, fui até uma árvore e vomitei.
- Kim...você está bem?
- Acho que a resposta está meio óbvia, não?
- Nem quando está passando mal perde o sarcasmo, parabéns Kimberly.
- Tento me sentir bem em situações ruins como esta. É bem melhor do que ficar reclamando.
- Meu Deus, que milagre.
- O que?
- Você falando que ficar reclamando é chato, porque, sem ofensas, o que você mais faz é reclamar.
- É sempre tempo de mudança, e não há relógio que mude isso.
- Talvez seja assim, mas e se talvez o tempo quiser que continue a mesma pessoa?
- O que quer dizer?
- Quero dizer que gosto de você assim, não gostaria que mudasse por nada nesse mundo.
- Eu não sou ninguém Patrick, sou só mais uma célula no universo, eu não quero sobreviver, eu preciso sobreviver, pelo bem da humanidade.
- Sei o quanto é forte Kimberly, você não tem que morrer, ninguém aqui tem.
- E se eu quiser morrer?
- Você me disse que antes de fazer qualquer coisa contra si mesma...
- Eu sei o que eu disse; mas...Pat, olha só pra gente, todo esse sofrimento, está se transformando em uma bola de neve, e se tudo acabar logo? Não seria melhor?
- Kim, você abriu meus olhos...agora faça o favor de abrir os seus.
Dei um suspiro.
- Precisamos ir.
Ele agarrou meu braço.
- Promete para mim que não vai tentar nada contra si mesma, prometa que vai lutar até o fim se puder.
- Juro pela minha vida.- Eu disse irônicamente.
- Eu estou falando sério.
- Acha que eu tô brincando?
- Blade eu não aguentaria perder você! De jeito nenhum! Será que você ainda não percebeu isso?!
Eu franzi as sobrancelhas e fiquei quieta.
Ele se aproximou um pouco mais, e olhou diretamente nos meus olhos, me fazendo desviar o olhar.
- Eu só...quero que prometa.
Fiquei quieta por um tempo.
- Não posso prometer nada Hunter.
Ele colocou a mão no meu rosto.
- Se você morrer, muitos morrerão com você. Tenta se lembrar disso...tá?
- Tá.
Ele me deu um abraço bem apertado e voltamos para nossos lugares na fila...

Diário de uma sobrevivente_Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora