Algumas pessoas acreditam que a vida tem uma trilha sonora. Para elas, é impossível não ter um momento, pessoa ou lugar que não recorde a uma canção, seja aquela que foi mais tocada no dia ou ano que você nasceu, a que servia de plano de fundo para o seu primeiro beijo, ou para se afogar em lágrimas depois do primeiro pé na bunda. Sempre que há um acontecimento, há uma música.
Mas se minha vida tinha uma trilha sonora eu não sabia.
Ao contrário do que suponho ser a maioria, eu não costumo agregar música a acontecimentos, pessoas ou lugares. Não é como se eu estivesse no Empire State Bulding e de repente começasse a tocar "Empire State of Mine" como acontece nos filmes - e eu sequer gosto dessa música. Mas alguns momentos da minha vida mereciam trilha sonora, como agora, que eu deixava "Dancing In The Dark" do Bruce Springsteen, tocar pela quinta vez no volume mais alto permitido, enquanto eu me encarava no espelho esperando alguém vir me chamar para entrar no palco.
Você não pode começar um incêndio sem uma faísca.
Ele repetia no refrão.
Mesmo se estivermos apenas dançando no escuro.
E terminava com o trecho que fazia jus ao nome da música.
Eu olhava meu reflexo a procura de algo que não sei dizer o que era, enquanto prestava bastante atenção quando o cantor dizia que a vida dele era chata e que agora estava faminto por mudança. Eu até cantarolava junto, prestando atenção em todas as pausas, frases e significados.
Mesmo se estivermos apenas dançando no escuro.
Eu sei o que é isso, "dançar no escuro". A minha vida desde que fiquei famosa tem sido isso, fazer as coisas sem conseguir imaginar as consequências que elas iam trazer. Quem diria? Uma música lançada cerca de 10 anos antes de eu nascer me servindo de trilha sonora quase 30 anos depois.
Quase 30 anos da música, eu só tenho 18.
- Lizzie! Abaixe esse som e se prepare. Você entra em 5 minutos.
A moça que veio me chamar fechou a porta na mesma rapidez que abriu, o que me poupou de respondê-la, já que eu sequer lembrava seu nome mais. E me poupou também de me mover para desligar o som ou coisa parecida, porque eu definitivamente não queria parar a música agora. Tudo bem que eu sei que deveria realmente estar me preparando para o show, no intuito de evitar vexames ou coisa que o valha, mas não me importo.
A voz do Bruce começou a soar pela sexta vez e eu continuei a me encarar no espelho com a expressão impassível perante meus próprios olhos, mexendo a boca pronunciando palavra por palavra.
Você não pode começar um incêndio sem uma faísca.
Você não pode começar um incêndio sem uma faísca.
A frase continuou na minha cabeça mesmo depois de virem me buscar e de me empurrarem para a entrada do palco. Começaram a por o equipamento em mim, tentando não me desarrumar. Sempre todos falando ao mesmo tempo e eu assentia sem realmente ouvir nada.
- 30 segundos! - Alguém gritou no fundo.
Eu não posso começar um incêndio sem uma faísca.
Mas que faísca? Eu quero um incêndio? Eu preciso de um?
- 10 segundos! - a mesma voz soou enquanto preparavam meu ponto.
Ouvi a bateria dar as primeiras notas e o barulho de uma multidão gritando. Em seguida veio o som do baixo e a gritaria se reduziu a focos.
- 5 segundos Lizzie!
- Está pronta? - alguém do meu lado perguntou ao entregar o microfone.
Assenti.
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18 [Suspenso]
Ficção AdolescenteEstar no foco da atenção da mídia, revistas, jornais e sites de fofocas pelo seu grande sucesso no auge de seus 18 anos parece melhor do que qualquer conto de fadas da Disney. Afinal, o show business é, de fato, um mundo tentador, mas também é cruel...