Capítulo 40

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Gotas de suor despencavam do meu rosto, algumas caiam nos meus olhos me incomodando, mas eu continuava a mexer meus pés pelo chão de linóleo sem abrir a boca para cantar uma só nota da música que tomava conta da sala de ensaio, permintindo assim que a voz da Florence passeasse por todo meu corpo e mente, me levando com suas modulações poderosas.

Que mulher. Que voz.

Algo que jamais terei. Alguém que jamais serei.

Deslizei meus pés sedenta pela exaustão, não sabia quanto tempo estava fazendo aquilo, mas nunca parecia o suficiente portanto eu dava replay até não errar mais um passo e então colocava uma próxima começando tudo de novo. Eu sentia que se parasse, eu desmoronaria e isto era algo que não podia me permitir fazer. A música entrava na minha mente e não me deixava pensar em mais nada além da melodia e dos meus passos.

Um.. Dois... Três... perna direita para frente, braços para o alto. Direita, esquerda, giro. Um... Dois... Três...

Em um dos passos no chão, meu suor criou uma pequena poça bem na marcação do passo seguinte me fazendo escorregar e voltar para o chão - dessa vez não de propósito. O ar saiu da minha boca com o baque, me olhei no espelho sem me levantar e ofegante, meu rosto estava em um tom vermelho difícil de alcançar devido ao meu tom negro, a parte do cabelo que não estava para cima caia no meu rosto quase tampando meus olhos com cachos desfeitos.

Continuei olhando procurando algum sinal, algum demônio, algum rastro que me fizesse sentir algo diferente.

Nada, só o mesmo maldito buraco negro.

Eu precisava voltar a dançar, mas primeiro devia limpar o chão antes que me fraturasse. Estamos nos últimos dias de gravações e nada pode dar errado.

Levantei devagar, sentindo meus músculos latejarem por quase todo corpo. Fui até o canto, peguei o controle do rádio e desliguei a música que já até havia começado de novo. Peguei minha água e uma tolha de rosto pendurada na barra para tirar o excesso de suor da testa enquanto tentava me controlar na quantidade de água que bebia, mesmo com uma sede absurda.

- Meus parabéns, havia tempo que não te via dançar assim.

Olhei de canto de olho em direção a porta e vi Tom com suas roupas pretas de sempre e uma mochila. Em outro momento da vida eu teria me assustado com a entrada silenciosa do garoto em questão, mas não dessa vez.

- Qual milagre te traz aqui? Não nos vimos desde...

- Desde que você me viu beijar o cara que você estava pegando, então eu te contei todo drama do meu passado e você abriu mão do cara que curtia.

- É... desde essa vez aí mesmo. Inclusive, como vocês estão? Não tenho falado muito com Hunter depois de tudo.

- Não estamos. - eu devo ter feito alguma expressão confusa ou coisa que o valha porque Tom continuou. - Qual é, Liz, você esperava o que? Que depois disso seriamos um casal e viveríamos felizes? Que ele conseguiria apagar todas as minhas cicatrizes? Ninguém estava a procura de nada sério. Além do mais, como você acha que eu olharia para Hunter depois de tudo?

Lembrei de Ethan me confidenciado a razão da briga com seu melhor amigo e de que nem eu mesma conseguia agir com Hunter Johnson da mesma forma de antes.

- Eu entendo.

- Mas não vim aqui para falarmos dessa situação fodida e sim de uma outra. - Bebi outro gole de água enquanto sentia meu corpo começar a relaxar e a, consequentemente, doer devido ao esforço de horas sem descanso. - Liz, quando você vai encarar Josh?

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