Capítulo 12

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Família é um termo relativo. Eu entendo como um grupo de pessoas unidas por laços seja pai, mãe, dois pais, duas mães, avós, tios ou primos, de sangue ou adotivos. Família são aquelas pessoas com quem você se importa e que se importam com você. São quem você ama, cuida e protege e sabe que pode contar a qualquer hora. Porém a sanguínea você não escolhe, você não pede para nascer ali, você simplesmente nasce e tem que lidar com todas as merdas porque simplesmente faz parte daquilo por nascença.

Não escolhemos, mas sofremos por eles mesmo assim.

Na hora de ir embora do prédio da K.A.R, Isa ainda não parava de tagarelar no meu ouvido. Aparentemente eu havia ganhado mais alguns milhões de compromissos novos, somados aos antigos sobre o Hollywood Festival.

- Tenho alguma coisa para hoje?

- Não, Alexa adiou a prova da roupa para amanhã.

- Certo, então Ewan, me deixa na casa do Josh, por favor.

- Mas, Liz, nós precisamos...

- Você consegue fazer sozinha, Isa. Tenho fé, agora Ewan, dirige esse carro até Greenwich Village, pelo amor de tudo que é mais sagrado.

Eu estava exausta, essa era a palavra. Exausta de como as coisas da minha vida estavam caminhando, porém era só o começo. Eu sequer havia começado a gravar o filme e estava tudo desmoronando aos poucos, mas essa história ainda estava com muitas pontas soltas, muitas coisas a serem resolvidas.

Na casa do Josh, Cecília abriu a porta.

- Eliza! Quanto tempo! - ela me abraçou.

- Oi, dona Cecília, como vai?

- Vou bem, querida! Entre, entre, por favor. Josh! Sua amiga está aqui! - ela gritou em direção a escada. - Aceita alguma coisa, Eliza?

- É Elizabeth, mãe! - Josh apareceu no topo da escada e veio descendo.

- Elizabete - disse praticamente em português, devido ao seu sotaque marcado de brasileira nordestina, que jamais perdera - eu sei, eu sei. Só não digo quatro letras, isso é um problema, querida?

- Claro que não. - Sorri simplesmente porque eu adorava Cecília.

- Esse meu filho é muito chato, você não acha? - ela disse em português, sorrindo para mim.

- Concordo totalmente! - respondi também em português e eu senti algo desconfortável dentro de mim, uma espécie de nostalgia por raramente falar minha língua materna.

Eu sentia falta do meu país às vezes, apesar de que não havia nada para mim lá. Quero dizer, minha família estava lá, mas o que eles mais queriam era me amarrar na fogueira. Eu até havia alguns amigos, mas a maioria das pessoas da minha escola pouco se importava comigo, então não foram amizades tão firmes porque eu era uma zero a esquerda durante a maior parte da minha vida escolar no Brasil.

Minha vida se fez e se transformou aqui em Nova York, posso não ter nascido aqui, mas fui criada. Eu pertenço a esse lugar, mas minha raiz é Brasil, minha cor, meu sangue, minha língua.

Mas eu jamais voltaria, apesar de ser minha origem, eu nunca fui um símbolo brasileiro. Quando cheguei ao EUA como uma estrangeira, viviam me perguntando se eu gostava de futebol e carnaval, quando a resposta foi um sonoro "não", ninguém conseguiu acreditar. Por que é isso, não é? Brasileiros são pessoas felizes e simpáticas que adoram futebol e carnaval, certo? Tão errado que depois que completei meu "não" com: "na verdade detesto. Futebol até que não, mas carnaval para mim é apenas uma desculpa para as pessoas ficarem bêbadas, solteiras e peladas" até pararam de perguntar.

18 [Suspenso]Onde histórias criam vida. Descubra agora