Capítulo 33

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Mesmo que por algumas vezes decidimos ignorar nossos problemas, eles voltam para que os enfrentemos. O que é bom, tirar o peso das nossas costas é importante mesmo que doloroso.

Cheguei em casa praticamente virada das gravações. Dormi bem pouco antes de ir, mas fazia eras que eu não sabia o que era uma boa noite de sono de qualquer forma. Eu andava muito preocupada, com bastante coisa na cabeça e mesmo que estivesse morta de cansaço, durante a noite eu virava de um lado para o outro e nada de fechar o olho. Quando conseguia, acordava várias vezes até ter que levantar de vez.

Um verdadeiro inferno.

Mas evitava reclamar, falta de sono e noite mal dormidas já eram comuns.

O que não era habitual, mas estava começando a ficar, era chegar em casa e ter aquele clima estranho porque Johnny, ao contrário de mim, só dormia. Ele ficava o dia todo no quarto e se comia, era porque Isa levava algo até lá e, por muitas vezes, ele nem mesmo tocava direito no alimento.

Mas naquele dia era diferente. Entrei no quarto e encontrei Johnny sentado na beirada da cama de samba-canção e camiseta, cabelo desgrenhado e rosto pensativo. Não falei nada, mas segui até o lado dele e me sentei. Contei os segundos que se passavam na minha cabeça enquanto esperava ele falar ou fazer algo.

1... 2... 3... 4... 5... 6... 7..

- Meu pai me ligou.

- Huh, você atendeu?

- Dessa vez sim.

- E o que ele queria?

- Que eu fosse lá, hoje. No almoço. Conversar.

- E você vai?

Ele demorou um tempo para dar uma resposta, comecei a contar os segundos de novo e, como se adivinhasse, respondeu quando cheguei no número três.

- Pretendo.

- Bom.

Silêncio de novo.

Isso era fodidamente esquisito e eu não sabia o que pensar mais. Era como se eu pensasse em tudo e em nada ao mesmo tempo. Pior que até procurei a Becca para uma consulta, mas eu não sabia me expressar bem, não sabia dizer o que me incomodava ou se até mesmo havia algo me incomodando propriamente dizendo.

- Posso dizer algo estupidamente idiota? - perguntei.

- Por favor.

- Eu sinto falta do meu twitter. - Johnny virou a cabeça gradativamente na minha direção.

- Vince ainda não te liberou?

- Não. - Fiz voz de choro e foi aí que aconteceu.

Johnny riu.

Foi uma risada curta, mas verdadeira, daquelas gostosas de se ouvir. Quase tive vontade de o abraçar e gritar "VOCÊ VOLTOU!", mas achei que não seria apropriado. As coisas estavam apenas começando a ficarem normais, afinal, ainda nada estava resolvido.

E falando em resolver...

- Que horas pretende ir? - ele virou o rosto de novo e encarou o chão.

- No almoço.

Olhei a hora no celular, estava quase em cima.

- Vou tomar um banho e trocar de roupa então.

Me levantei e fui até o closet escolhendo uma calça, blusa e jaqueta. Voltei para o quarto e Johnny continuava na mesma posição de olhar para o chão, mas aquilo era importante, ele precisava ir e era minha função incentivá-lo.

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