Capítulo 27

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Uma vez eu li que a vida não é anticlimática. Acredito que seria até hipocrisia uma pessoa como eu, com tanta confusão ao redor, dizer que a vida é sim anticlimática, mas, mesmo para as pessoas "normais", acredito que a nossa vida só não tem clímax se quisermos.

A vida tem sim seus altos e baixos, seus clímax e anticlímax. Nós só precisamos nos permitir.

E comecei a me permitir quando fui percebendo que as coisas estavam indo bem.

Kiara chegou do aeroporto durante a tarde, entretanto, eu cheguei das gravações apenas durante a madrugada. Mesmo assim, quando abri a porta de casa, lá estava aquele par de olhos multicoloridos tão abertos quanto o de uma coruja no escuro.

Kiara era apenas iluminada pela TV e o resto da sala pelas luzes da cidade que entravam pela pequena varanda. Ela deu um salto do sofá quando abri a porta e nós duas ficamos imóveis olhando uma para a cara da outra, sem saber muito bem como reagir.

- Você demorou.

E foi isso. Depois de no mínimo três anos sem se ver e se falar, estas foram as primeiras palavras dela para mim. E não havia nada de poético nas entrelinhas, Kiara não estavam falando desses três fucking anos, mas de hoje.

Depois disso, me certifiquei que ela já estava instalada; tomei meu banho e vesti qualquer um dos meus pijamas; desci para sala onde Kiara permanecia e nós assistimos a um filme comentando tudo de ruim que havia nele.

No dia seguinte, mais gravação.

Nos sets Hunter, Ethan e eu passávamos muito tempo juntos e conversando. Eles são garotos incríveis! Ethan é a pessoa mais fofa e calma que conheci, anda sempre com um sorriso no rosto e os olhos azuis quase cintilantes. É o tipo de genro que toda mãe pediu a Deus. Seu personagem, Noah, também tem essa áurea de bondade, mas acaba ajudando os principais e, por um puta azar do destino, se apaixona por Megan - eu sei, clichê.

Hunter não é o genro que toda mãe pediu a Deus, a não ser que a mãe em questão não se importe com tatuagem, festas noturnas e uma boa vodca.

Isso só o fazia ser ainda mais legal do que já aparentava ser.

A característica que mais marca Hunter, para mim, é a impulsividade. Não do tipo que eu tenho, que explode e sai atirando para todos os lados, mas aquela que te faz viver a vida de verdade. Ele não pensa muito no que tem que fazer, só vai lá e faz. Só vai lá e vive à vontade dele.

Inveja.

Seu personagem se chama Ryan, é mais velho do que a Megan e seu melhor amigo. Eles moram juntos desde que se mudaram para cidade grande, para que Megan fizesse faculdade e Ryan passou a trabalhar numa loja de informática onde conhece Noah - ambos com habilidades absurdas de hackers.

Analisando o roteiro do filme eu fico pensando que ou Ed realmente acha que isso tem alguma chance de Oscar ou ele pensa que eu sou otária para acreditar nisso. Harrison sempre arrecada muita bilheteria, mas bilheteria não quer dizer o maior prêmio do cinema. Além do mais, apesar do suspense dramático, não chega ao ponto de dramaticidade, historicidade e estranhice dos filmes que são indicados, muito menos, dos vencedores.

Eles sempre vêm com essa conversa de indicação ao Oscar, mas eu sei que minha especialidade é a música. Ok, eu fui lançada através do meu filme com Asher e ok, eu fui descoberta num festival de curtas, mas a vida me levou para os palcos, os shows e gravações de CD's. Telonas é só esporádico.

Talvez eu faça algum filme com o nível certo de dramaticidade, historicidade e estranhice? Talvez, quem sabe? Eu, particularmente, acredito não ser merecedora de tal prêmio, não tenho esse talento.

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