18 [Suspenso]

Capítulo 20

Relações interpessoais são difíceis, não que ser uma pessoa intrapessoal seja fácil. Entretanto, é diferente quando você se põe em um plano e tenta entender seus próprios pensamentos e sentimentos de quando existem outras pessoas nesse mesmo plano e você precisa lidar com elas sem saber o que se passa dentro.

Mas no final, a conclusão que se chega é que pessoas são complicadas, sejam elas intrapessoais ou interpessoais. É difícil lidar com si mesmo quando se olha por dentro e é difícil lidar com o outro quando se olha por fora.

- Mi, definitivamente é melhor em mi - Josh repetiu a nota no violão e eu cantei algumas palavras rascunhadas.

- Então vai ser mi - risquei a folha já toda rasurada pondo o "mi" em cima das palavras.

Lá estávamos nós no Aquário mais uma vez para finalizar a música. Já era noite e passamos o final da tarde toda tentando acertar os detalhes já que sexta deveria estar tudo pronto para ensaiarmos e viajar sábado de manhã, sendo que a apresentação seria de tarde.

Minha recepção em casa depois do programa da Eve não foi das mais calorosas, mas agi como a rainha da Inglaterra, fingindo que nada havia acontecido, o que acabou deixando todo mundo irritado. Alguns gritos para cá e outras reclamações para lá, todas envolvendo principalmente a tatuagem e a notícia repercutindo na TV, jornal, revista e internet sobre Josh me carregando bêbada. Depois do barraco, sentamos todos na sala - Lucas agarrado em mim num abraço - e contei basicamente o que eu disse para Josh no Central Park.

Foi uma conversa densa. Primeiro tentaram fazer parecer com que era por eu ser fraca e que tudo o que fizeram era porque desejavam o melhor para mim, mas tentei não me deixar levar, já estava saturada de sofrer por isso. Contra-argumentei que de boas intenções o inferno ta cheio, porque tudo me fez muito mal e não sou eu falando, foi o psiquiatra, a terapia e algumas marcas no meu corpo de arranhados muito fortes.

Foi complicado. Fui extremamente julgada pela bebedeira e ninguém pareceu entender o meu lado por ter feito isso pela primeira vez. Depois a tatuagem entrou em foco e agiram como se eu tivesse vendido minha alma para o diabo. Todo meu comportamento, até mesmo o meu respirar que é um processo natural do corpo humano, parecia errado aos olhos delas. O fato de eu ter passado três dias na casa do Josh também não foi aprovado, mas eu não precisava mais de "aprovação" nenhuma, nem legalmente - por ser emancipada desde os 15 - e muito menos psicologicamente.

O que me deixou brava e prolongou a conversa por várias horas foi por parecer querer tirar a responsabilidade toda delas mesmas, como se eu tivesse adquirido um transtorno psicológico simplesmente porque eu quis. Não preciso nem comentar o quanto isso é uma mentira, ninguém quer precisar tomar remédios para poder sair da cama todos os dias.

Mas no final minha tia me abraçou e pediu desculpas, repetiu o discurso que só queria meu bem e que não queria me ver assim - provavelmente isso também incluía as "loucuras" que tenho feito enquanto famosa, mas ela não deixou isso tão claro. Minha mãe também pediu desculpas e eu descobri que era muito esquisito abraça-la, não lembrava a última vez que havia feito isso.

Por fim, Lucas grudou em mim novamente e não me soltou mais por um bom tempo. Minha tia resolveu fazer o almoço - mesmo que Isa insistisse para nós pedirmos comida já que havia passado da hora - e questionou sobre o fato de não ter feijão. Expliquei que não era muito típico por aqui, feijão só enlatado ou em restaurante brasileiro. "Por isso você está tão anêmica, tem que tomar ferro também", ela disse e eu revirei os olhos, mas estava aliviada pelo clima aliviando aos poucos.

Mamãe foi acabar com seu quarto maço de cigarros desde que chegou, mas dessa vez ela foi até o terraço do prédio, ao invés da varanda do meu apartamento.