Capítulo 35

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No noite do Central Park, quando Josh estava jogado no chão comigo bêbada, comentei que até melhores amigos tem seus segredos. Mas a verdade é que todas as pessoas tem segredos, isso faz parte de quem nós somos. A diferença é que alguns podem ser simples como ter comido a sobremesa antes do jantar, outros podem ser cruéis ao serem guardados e mudar drasticamente quem o mantém.

Juro que quando fui para a cama minhas reais intenções eram dormir, mas todas as vezes que eu fechava os olhos, memórias daquela noite vinham tão vívidas que me faziam sentir como se ainda estivesse na festa. Me revirei na cama a noite todinha, até olhar as horas no celular e ver que estava prestes a amanhecer, então fui até o assento da janela do meu quarto e encolhi as pernas as pondo para cima enquanto encarava o sol surgir por trás dos prédios.

Eu não estava sabendo o que pensar e muito menos como reagir a tudo aquilo. Ver Tom e Hunter juntos doeu mais do que eu poderia imaginar, porque simplesmente nunca cruzou minha cabeça a possibilidade de um amigo meu pegar o cara com quem eu estava. E confesso que não queria ficar com raiva de Hunter e nem de Tom, talvez estivesse sendo a trouxa das trouxas, mas não queria permitir que o bom sentimento que tenho pelos dois amargasse.

Além do mais, Tom disse que me explicaria tudo.

Ainda na festa, quando Tom olhou para mim como se o mundo estivesse acabando naquele exato momento, ninguém soube muito bem como reagir. Nós três ficamos nos encarando sem se mover ou piscar direito, até Hunter falar alguma coisa com Tom que o fez ficar ainda mais horrorizado e eles trocaram palavras provavelmente duras ao julgar pelo maxilar trancado de Tom e os olhos confusos de Hunter.

Só sei que, seja lá o que tivessem dito um para o outro, foi Tom que veio até mim.

- O que você está fazendo aqui?

- Ele me chamou. - Apontei feito uma criança para Hunter ainda perto da parede atrás de Tom.

Meu amigo número três abaixou meu braço e olhou para os lados como se estivesse garantindo que ninguém estava prestando atenção na gente.

- Então você era a companhia que ele estava esperando... ele me disse que não viria. Meu Deus, Liz!

- "Meu Deus, Liz"? Meu Deus, Tom! Você estava... e Hunter! Um garoto... Eu... não consigo pensar. Essa música...

- Amanhã a gente conversa, pode ser? Eu passo na sua casa, Liz, a gente precisa conversar.

- Ta, eu... eu concordo. Mas saio para gravar às cinco.

- Certo, estarei lá umas três. Por favor, eu... - ele olhou para Hunter parado feito dois de paus.

- Tom. - Ele voltou o olhar para mim. - Amanhã.

O garoto assentiu e pareceu respirar pela primeira vez desde que me viu. Depois, virou as costas e se afastou de volta enquanto eu ia atrás de Kiara e implorei por todos os deuses nórdicos que fossemos embora e até ameacei enviá-la direto para Valhala* se não saíssemos dali. Mas na verdade bastou um "por favor" sincero e suplicante para ela abrir seus olhar de compreensão e acatar meu pedido sem mais perguntas.

O céu estava tingindo de laranja bem forte, isso quer dizer que já passava das seis da manhã e eu precisava sobreviver, pelo menos, até as três. Afastei o corpo da janela e o estiquei todo até o criado mudo, apoiando uma das pernas no chão para não cair de cara, e peguei meu celular. Voltei a posição inicial e tirei algumas fotos da luz surgindo através dos prédios e do céu mesclado de tons quentes do dia e frios do que era a noite. Depois usei alguns aplicativos para dar outra cara a imagem, um pouco mais de cor, contraste e conceito.

18 [Suspenso]Onde histórias criam vida. Descubra agora