Capítulo 23

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O que difere os seres humanos dos outros animais é a capacidade de raciocinar e de manter a informação por mais tempo para que possa ser utilizada outras vezes. A diferença também é que eles são menos complicados do que nós. Animais seguem sua natureza, agindo conforme seus instintos. A natureza do ser humano é ser complicado, agindo divididos entre razão e emoção.

Tentamos evitar olhares curiosos, mas alguns foram inevitáveis, outros estavam chapados demais para notarem até si mesmos. Seguimos até o corredor entre a entrada principal e a do salão, onde ninguém tramitava e o som podia ser escutado bem abafado por causa das portas fechadas.

Os garotos sentaram Johnny no chão com as costas encostadas na parede. A cabeça dele pendia, o corpo todo estava mole. Havia parado de balbuciar coisas sem sentido e agora parecia totalmente apagado.

- Isso é sua culpa! – demorei um tempo para registrar as palavras, para virar o rosto na direção do Josh e para entender sua reação.

- Minha?

- Sua e do seu amiguinho lá. Foi ele que fez isso com o Johnny!

- Asher e eu não somos amigos! Além do mais, eu não vi nenhum de vocês à festa toda porque, certo alguém não quis vir no mesmo carro que eu. Preciso citar nomes?

- Calem a boca vocês dois! Temos um problema maior aqui – nossa atenção voltou para Tom. – Ele precisa ir para um hospital. Agora.

Senti o olhar de Josh queimar meu rosto, como se ele realmente jogasse a culpa toda em mim.

- Liz, você não voltou a beber, né? Acho que é a única entre nós que ta podendo dirigir.

- Só uma taça de champanhe, mas faz horas. Espera! Vocês vieram de carro?

- Isso realmente importa agora? – ele arqueou a sobrancelha em minha direção e segundos depois neguei com a cabeça.

Realmente, o que menos importava agora era o porquê deles terem vindo de carro e com que carro.

Quando chegamos até o estacionamento descobri que era com o meu carro.

Sim, eu também tenho um carro na minha casa na Califórnia.

Josh ficou com Johnny no banco de trás e Tom no lado do carona. Busquei no GPS a Emergência mais próxima e não demorei a arrancar. Tom foi me guiando já que meu senso de direção em lugares que não estou acostumada é tão ruim que ninguém sabe até hoje como tirei carteira.

Acho que nunca ouvi tanto a voz do Tom de uma só vez. Ele deve ter falado em uma noite a mesma quantidade que falara nos últimos cinco meses. Por causa de Johnny ainda, logo a pessoa que ele mais ignorava.

Mas tenho certeza que Tom gosta da gente, mesmo que não demonstre. E com Josh e eu brigados, acaba sendo dele a função de ajudar.

Estacionei na entrada da Emergência e Tom logo saiu para ajudar Josh tirar Johnny do carro. Eu fui na frente e pedi pelo amor de Deus que alguém ajudasse meu amigo enquanto os outros dois carregavam ele com seus braços ao redor do ombro de cada um. Disse que ele bebeu e estava apagado.

Uma enfermeira apareceu e analisou Johnny superficialmente, depois chamou um enfermeiro com certa urgência e este veio com uma maca e outro cara puxando. Os dois homens colocaram Johnny deitado e a moça pediu para que esperássemos ali.

Então sumiram hospital adentro.

E nós ficamos lá, por minutos ou horas, ninguém se preocupou em olhar o relógio.

Ninguém queria falar. O silêncio só não era pior devido ao telefone da recepção que tocava vez ou outra e uma televisão que passava algum programa estupido de madrugada.

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