Emoções são difíceis de controlar, mas as minhas parecem ser impossíveis.
Eu treinava fielmente as falas do teste, e estava odiando tudo o que eu fazia. Pior que não era exagero, até Isa já havia dito que eu precisava melhorar em uma coisa aqui e acolá. Mas eu não estava melhorando, a impressão que eu tinha era que cada vez estava pior e isso estava fazendo uma irritação crescer por mim me tirando do estado de torpor que eu me encontrava nos últimos dias.
- Arrrgh! - grunhi com raiva e lancei o roteiro com força pelo quarto, ouvindo um baque quando ele encontrou o chão.
Podia ter rasgado, mas ao invés de me preocupar com isso e me irritar ainda mais por ter sido tão impulsiva em jogar aquele monte de papel no chão, fui direto para o meu closet, parando logo ao lado da porta, onde meu equipamento ficava. Vesti um short de cetim, tirei a blusa e fiquei só com o top preto que já vestia, peguei as ataduras, as luvas e saí do quarto deixando minhas antigas roupas jogadas no chão e ignorando completamente as caneleiras - o que sempre é um grande risco, mas eu não queria nem saber.
Andei a passos pesados pelo corredor do andar de cima enfaixando minhas mãos do melhor jeito que meu nervosismo permitia. Entrei na porta dupla a minha esquerda, onde eu aproveitei um grande salão com janela de vidro ao fundo, para fazer um pequeno estúdio.
A parede do lado esquerdo é de espelho do teto ao chão, para praticar dança e fazer as coreografias e etc. Por isso, o piso é de madeira. Ao fundo há um tablado, como uma espécie de palco e é exatamente como isso que serve. A cima dele, há uma tela que desenrolamos quando queremos fazer uma sessão de filme ou maratona de séries de TV, e então jogamos os pufes coloridos localizados a minha direita pelo centro vazio para assistir. Ao lado esquerdo da porta estava o que eu queria: o equipamento de muay thai.
Enfiei as luvas na mão e parti para o saco de areia com mais fúria do que joguei o roteiro no chão.
Eu praticava muay thai por recomendações médicas, na verdade, recomendações psicológicas. Rebecca, a minha psicóloga que me acompanha desde sempre, disse que eu tinha uma puta facilidade de ficar irritadiça e que eu precisava jogar essa energia em algum lugar, então, era melhor fazer algum esporte. Escolhi o muay thai e agora estava espancando o saco de areia até superar toda a frustração que eu sentia.
- Liz! - Dei um pulo e se meu coração já não estivesse acelerado o suficiente, estaria bem mais depois do susto de ouvir Josh me gritar. - Onde você estava? Eu te chamei três vezes!
- Foi mal - segurei no saco para manter o equilíbrio, fechei os olhos e respirei fundo bem devagar tentando deixar meus batimentos cardíacos em um ritmo aceitável.
Josh caminhou da porta até ao meu lado se apoiando em uma mesa escorada a parede.
- A aconteceu algo sério para dar os chutes que estava dando? Você poderia quebrar a perna, sua louca! - sorri de lado, ele não dissera isso como bronca ou algo assim.
- Minha cabeça está lotada de coisas esses dias e ainda tem a porra da audição do filme - comecei a retirar as luvas e estendi uma das mãos para ele me ajudar.
- Acha que não consegue o papel?
- Talvez. A personagem está muito além dos meus limites.
- Mas, não é esse seu propósito de atuar? Testar seus limites, ser quem você não é?
- Não, quero dizer, sim! Mas talvez seja demais para agora, sabe?
- E...?
- E que eu quero esse papel de qualquer jeito, mas talvez não esteja pronta para ele e mesmo assim não quero largar.
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18 [Suspenso]
Teen FictionEstar no foco da atenção da mídia, revistas, jornais e sites de fofocas pelo seu grande sucesso no auge de seus 18 anos parece melhor do que qualquer conto de fadas da Disney. Afinal, o show business é, de fato, um mundo tentador, mas também é cruel...