18 [Suspenso]

Capítulo 26

Alguns laços – que você pensa serem muito resistentes – se rompem com uma fragilidade inacreditável, enquanto outros se permitem a serem reconstruídos, porque, na verdade, nunca foram realmente rompidos.

- Como é?

- Isso mesmo.

- E quando ela chega?

- Amanhã, pela manhã. Inclusive, peça a Ewan para ir buscar no aeroporto com uma plaquinha com nome e tudo. O sobrenome é Fragoso.

- Liz, me explica como você simplesmente envia uma garota do Brasil para cá. Alguém que você não fala há uma eternidade! Mas simplesmente paga uma passagem para ela de um dia para outro.

Assim que as pessoas ao meu redor se afastam, giro a cadeira na direção de Isa a encarando com a expressão mais tranquila do mundo, como se não tivesse nada de doido na situação.

- Kiara sempre foi a única pessoa que eu pude chamar de amiga no Brasil e agora ela está vindo. Aceite.

A verdade é que a notícia sobre a Jaqueline me baqueou. Eu passei o máximo de tempo que pude fugindo da vida de Liz para ser Megan e aliviar todas as tensões que ser Liz trazia, para uma dessas tensões – adormecida há vários meses – vir para dentro dos sets de filmagem, justamente onde todas as bombas entre ela e eu poderiam explodir fortemente.

Eu só queria ficar longe de confusão, é pedir demais?

Quando cheguei em casa naquele dia, não caí na cama morta de cansaço como geralmente fazia, minha cabeça estava turbulenta demais para conseguir dormir. Eu já estava mostrando os sinais de ansiedade para o dia que teria que encontrar a senhorita Hernandez nos bastidores e como seria esse confronto.

E o que terminou de foder com tudo foi a falta de alguém para contar o que estava acontecendo.

Na cama, sem conseguir dormir, peguei meu celular e vasculhei todos os números da minha agenda de contatos. Em situações normais, eu ligaria para Josh e despejaria tudo o que eu estava pensando, mas como não estamos nos falando, logo pulei para a segunda opção que era o Johnny, que também não estava falando comigo. Então lá fui eu para a terceira pessoa, Tom, mas a ideia foi tão rápido quanto veio.

Eu estava sozinha.

E isso foi me deixando triste de uma forma que há muito tempo não me sentia. Fazia anos que eu nunca estava sozinha dessa forma e agora lá estava eu, encolhida de baixo do edredom, me sentindo de volta ao fundamental quando todos mostravam desprezo e/ou indiferença por mim.

Mas ao pensar no fundamental, lembrei de alguém. Peguei meu celular então jogado sobre a cama e vasculhei novamente toda a minha lista de contato esperando que o nome dela estivesse lá e que o número ainda fosse o mesmo. E então encontrei e fiquei na dúvida se devia ou não mandar uma mensagem.

Quando foi a última vez que nos falamos?

Eu ainda podia confiar nela?

Seria muita filha da putice aparecer depois de anos?

Não sei, mas engoli todas as perguntas à força e mandei uma mensagem.

"oi"

Olhei o celular por cerca de dez minutos, mas nenhuma novidade. Pensei então que talvez ela estivesse dormindo, já devia ser mais de duas da manhã no Brasil. Estava quase desistindo e largando o celular de novo quando ele vibrou.

"Caralho, que susto! Demorei muito tempo para raciocinar que você é você, mas enfim. E aí?"

E pela primeira vez, desde que voltei de L.A., ri de forma sincera. Eu pude ler a mensagem na voz de Kiara, como se não tivéssemos passado tanto tempo sem falar uma com a outra. Era como se o nosso laço nunca tivesse se rompido, então eu não estava mais sozinha.