- O que você está fazendo? - Kiara se aproximou de mim no sofá e se sentou ao meu lado, enquanto eu endireitava a coluna e tirava um dos fones.
- Criando uma coreografia.
- Ta, como assim?
- Foi uma coisa que a Marina me ensinou.
- Quem é Marina?
- Minha coreógrafa.
O mais legal de ter Kiara por perto é que eu precisava contar e explicar tudo a ela, o que me fez perceber que eu literalmente construí uma nova vida em Nova York. Antes eu achava que só era uma segunda etapa, mas não, eu comecei do zero e perdi contato com Kiara em nem dois anos, pois era como se a vida passada nunca estivesse existido mesmo ou tivesse sido substituída. E agora ela estava aqui, sem querer me reconectando com o passado e me vendo perceber que, na verdade, foi sim uma primeira etapa, minha vida antiga não deixou de ser real porque eu tenho uma totalmente diferente agora.
- Você tem uma coreografa chamada Marina e uma preparadora vocal chamada Miranda? - assenti. - Se fosse no Brasil, seriam confundidas com dupla sertaneja.
Gargalhei alto.
- Cala a boca e presta atenção aqui. Coloca no ouvido e presta atenção na música, não na letra, mas na sonoridade, ok? - ela assentiu e eu dei play, mas ela continuou parada. - Conforme vai prestando atenção no ritmo, você deixa a sua mão seguir o fluxo. Não pense, só sinta. - Fui mexendo as mãos, jogando o pulso para frente, balançando os dedos. - Conforme vai se empolgado, explore outras partes do corpo. - Passei a usar meus braços ocupando um espaço maior ao redor do corpo e a mexer os ombros, depois o tronco por uns 5 segundos antes de pausar. - Entendeu?
- Entendi.
- Vai tentar? - Ela simplesmente olhou para mim e eu sabia que a resposta era não. - Tudo bem, já sabia.
Kiara se levantou e foi até a geladeira, pegou uma garrafa de água e depois se escorou no balcão que separava a cozinha de todo o resto.
- Apple pie é boa?
Me levantei e fui até ela, largando o os fones e o celular na mesinha ao lado do sofá.
- Eu não gosto, prefiro cheesecake, mas... - dei de ombros.
- Queria comer - deu outro gole na garrafa.
- Lembra daquela confeitaria que eu falei? Podemos ir lá agora.
Outra qualidade de ter Kiara por perto: minhas conversas com ela eram sempre inúteis. Com os meninos, Isa e afins sempre havia trabalho e compromisso no meio, enquanto com Kiara eu falava de comida, vídeos de internet e posts de animais fofos no Facebook.
Ela topou sair, mas ainda precisava trocar o pijama. Peguei o celular de novo e voltei a ouvir música, já que não tinha amigos para trocar mensagens ou redes sociais para vasculhar o que estavam dizendo e o que outros famosos estavam fazendo. Quando desceu, ela perguntou se eu não ia "passar uma base ou algo assim" porque eu sou "famosa e famosos costumam sair apresentáveis". Respondi que não, estava bem satisfeita com meus shorts jeans e blusa 3/4, e que é bom sair sem maquiagem, faz com que eu pareça um ser humano normal e automaticamente, as pessoas se sentem mais próxima de mim ou do que eu sou.
Ela me olhou meio confusa, mas isso estava escrito em uma revista e se estava na revista, era porque é verdade.
Tudo bem, nem sempre era verdade.
Quase nunca era, para ser mais sincera.
Saímos até a confeitaria sem parar de falar um segundo sobre coisas inúteis, incluindo como estava a vida de alguma galera que havia estudado com a gente. Sentamos nas mesas da vitrine e comemos todos os doces prometidos e de salgado só apple pie, acompanhadas com soda italiana. Quando pessoas paravam para tirar fotos, eu percebia que Kiara tentava disfarçar, mas ficava satisfeita que estava sendo alvos de paparazzi - alguns profissionais outros só curiosos de rua.
VOCÊ ESTÁ LENDO
18 [Suspenso]
TienerfictieEstar no foco da atenção da mídia, revistas, jornais e sites de fofocas pelo seu grande sucesso no auge de seus 18 anos parece melhor do que qualquer conto de fadas da Disney. Afinal, o show business é, de fato, um mundo tentador, mas também é cruel...