Capítulo 15

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Há certos momentos da vida que você não sabe mais a quem pedir, implorar e/ou reclamar. Deus parece que não te escuta, então você apela para Zeus ou Júpiter, ou qualquer outra entidade religiosa, até mesmo para as não religiosas tipo Buda ou Papai Noel, mas nada adianta.

Se a vida quer te ferrar, ela te ferra sem dó nem piedade.

- Elizabete! Por que não foi nos receber no aeroporto? - minha mãe disparou logo que me viu atravessando a porta.

Dei um sorriso que poderia ser muito bem confundido com uma careta.

- Não sou muito boa com aeroportos, costumo chamar muita atenção.

Encarei as quatro pessoas postas na minha sala: minha mãe, minha tia, meu irmão e Isa. Eu não sabia o que fazer, deveria abraçá-las? Pois não queria, eu não queria mesmo.

Mas eles vieram me abraçar, meu irmão foi o primeiro, mas logo se dispersou admirando o resto da casa. Depois a minha mãe e, sem seguida, minha tia, ambas dizendo o quanto sentiram saudades e blá blá blá. Eu respondia tudo murmurando, nem negando, muito menos concordando.

- Isa, er... - cocei a garganta, totalmente desconfortável com a plateia. - Bem, você poderia fazer aquele bolo de chocolate hoje? Os garotos vão ficar por aqui para ensaiarmos.

- Hum... ah, o Hollywood Festival, é claro! - Isa parecia estar tão desconfortável quanto eu, nenhum de nós duas sabíamos ao certo onde as consequências dessa visita podiam parar. - Desculpa não ter lembrado antes, Liz, é que...

- Tudo bem, eu entendo, tudo bem. Mas e aí? O bolo... pode ser? - Isa assentiu. - Você tem tudo o que precisa? Acho que o mercado ainda está aberto caso precise comprar, você poderia ir lá agora.

- Você quer que Isa faça o bolo e não pode, ao menos, ir comprar os ingredientes para ela?

Respirei fundo.

- Não é como se eu pudesse ficar na rua o tempo todo por qualquer coisa - respondi a minha tia em um tom calmo.

- Então onde estava esse tempo todo? Huh? Na rua, não é? E não pode comprar os ingredientes para a sua prima.

E aqui está! Este é o pontapé inicial da aparente excelente semana que terei com a minha família na minha cobertura.

Meu coração começou a acelerar me atrapalhando a respirar, mas tentei inspirar e expirar fundo, para que ele voltasse ao ritmo normal.

- Essa coisa de fama e ser famosa não te melhoraram em nada, só piorou - olhei para minha tia desapontada, mas não surpresa.

Meu coração acelerou de vez e eu sabia que nenhuma respiração especial, meditação ou mantra iria me salvar agora.

- Liz, fica tranquila, eu tenho tudo aqui - olhei pra Isa que me encarava quase com misericórdia e assenti totalmente sem jeito.

Me dirigi as escadas, minha visão ficando quase turva. Eu passava as unhas na perna, mas não podia me machucar por causa da calça jeans, mas isso quase aumentava o tumor crescendo dentro de mim. Subi uma parte do lance calma para que parecesse que eu estava no controle, mas a verdade é que eu não estava calma porra nenhuma.

- Liza, nós podíamos fazer umas compras qualquer dia desses! Você poderia me ajudar com essa coisa do inglês.

- Claro, mãe - respondi tentando forçar outro sorriso. - Porém só posso na segunda, eu preciso ensaiar e...

- Você nunca tem tempo para nada - ela resmungou me interrompendo.

Voltei a subir as escadas e fui direto para o banheiro do meu quarto. Enchi um copo com água da pia e olhei para os frascos laranja organizados por ordem alfabética - eu precisava criar algum padrão para organizá-los. Eram cinco no total e eu peguei o que costumava tomar mais vezes, coloquei na ponta da língua e enfiei goela abaixo junto com a água.

18 [Suspenso]Onde histórias criam vida. Descubra agora