Estar no foco da atenção da mídia, revistas, jornais e sites de fofocas pelo seu grande sucesso no auge de seus 18 anos parece melhor do que qualquer conto de fadas da Disney. Afinal, o show business é, de fato, um mundo tentador, mas também é cruel...
Eu sei, faz tempo que não gravo vídeos para vocês e bem, andei sumida nos últimos tempos. Mas vocês devem imaginar o motivo.
Devem estar acompanhando na televisão o fato que eu bati em um cara, mês passado, em uma festa da escola. E aqui está minha confissão para vocês: sim, eu fiz. Eu bati no garoto durante a festa da escola. Dei um soco nada mirado que acabou atingindo o rosto dele. E sim, ele está me processando nesse momento. E por último, sim, esse vídeo pode servir para que eu perca o caso, porque bem, eu confessei.
Sim, eu bati em um garoto que nem sei o nome.
O que eu não estou vendo ninguém falando, ou, pouco falando é o porque de eu ter feito isso. E é por isso que estou aqui.
Se for para perder esse processo ainda na primeira instancia, que seja com todo mundo sabendo a verdade.
E a verdade é que ele me assediou durante a festa toda.
Pois é, eu nem acredito que estou falando isso em voz alta pela primeira vez em tantos dias. Só as pessoas que estavam comigo sabiam e foram elas que tiveram que dizer para o meu advogado sobre toda a situação, porque eu me sentia culpada. Eu me sentia um lixo.
Eu fui para aquela festa pelo Johnny, ele queria ir e não ficar sozinho. E desde o momento que eu cheguei o tal garoto já veio ficar no meu pé. Acho que o nome dele é David, ou Daniel, algo assim. Eu fiquei na minha, com minhas calças jeans e blusa de manga longa. Tenho fotos, eu posso provar que estava vestida desse jeito, e eu estava em um ambiente escolar com professores e a diretora.
Por que estou falando isso? Para não usarem argumentos chulos como "olha a roupa que ela estava usando", "o que ela foi fazer lá", "isso não é lugar para uma garota ir sozinha" ou qualquer outro argumento estúpido que não justifica em nada o comportamento nojento de alguns seres humanos.
O garoto me seguiu durante a festa inteira. Não importava aonde eu ia, não importava o quanto eu falava para ele se afastar de mim. Ele estava lá na mesa do ponche, na pista de dança, na arquibancada da quadra. E cada vez mais bêbado (adolescentes sempre dão um jeito de arranjar álcool), suas investidas ficavam mais invasivas.
No começo eu me desvencilhava com tranquilidade, é normal as pessoas se aproximarem de mim. Eu tentava ser simpática e se passei a ser agressiva foi pelo incomodo que a situação me fez sentir. Não é legal ter alguém... bem, eu não sei explicar bem a situação, porque não é como se ele tivesse realmente feito algo comigo, fisicamente. Mas ele encostava em mim, ou tentava, e dizia coisas, mas a única que consigo lembrar agora é dele repetindo "você não vai se arrepender", "para de se fazer de durona, você não vai se arrepender".
O limite para mim foi quando eu precisei ir ao banheiro e ao sair da cabine, lá estava ele, dentro do banheiro feminino. Ele foi atrás de mim. E nós estávamos sozinhos.
Eu não aguentei e comecei a gritar. Xinguei ele de tudo o que me veio a cabeça. Eu estava nervosa, com raiva, incomodada. Eu me sentia muito mal. Era um sentimento muito ruim. Eu gritava para ele me deixar em paz e sair de perto. Em um momento ele até riu de mim, disse que eu me achava superior demais por ser famosa, me sentia melhor do que todo mundo ali e por isso estava esnobando tanto ele.
Minha garganta doeu quando engoli o choro, mas continuei gritando, dizendo para ele sair de perto de mim e corri para fora do banheiro. As pessoas não estavam ouvindo aquilo, o som na quadra estava alto. Mas então assim que eu saí, ele veio atrás e me puxou pelo braço. Foi aí que o soco veio. Foi aí que as pessoas pararam para olhar. Foi quando Josh e Johnny vieram e me tiraram dali.
Eu tremia. Eu chorava.
Eu precisei agredir alguém para notarem.
E agora estamos aqui. Eu vejo vocês aí do outro lado me chamando de vagabunda, dizendo que fui desnecessariamente agressiva. Agora aqui está o meu lado da história.
Algumas pessoas podem estar vendo esse vídeo e pensando que eu só quero comover ou "livrar minha cara". Porque claro, é muito mais fácil me por como errada da situação do que acreditar que assédios e abusos são reais e acontece o tempo todo, com qualquer garota.
É por isso que resolvi contar o meu lado da história, porque eu pude me defender. Porém, mesmo que se ele tivesse tentado algo físico, eu estava tão instável e abalada já que não sei se teria conseguido reagir.
Agora pensem: quantas garotas não tem a mesma chance que eu? Ou a mesma sorte. Quantas sofrem abusos morais, psicológicos e físicos todos os dias, sem a menor chance de se defender? E isso pode vir da rua, da escola e, ou se não, da própria casa.
A gente vive numa merda de sociedade totalmente machista, onde nós, garotas e mulheres, temos culpa do mal que nos atinge, porque nós deveríamos "nos dar ao respeito", mas porque nós temos que nos dar ao respeito e os homens não podem nos respeitar?
Por que nós temos que nos diminuir, nos calar, nos poupar de nós mesmas? Por que são as garotas que são as putas quando os garotos fazem o mesmo, ou pior? Por que são as garotas culpadas por dizer não? Por que garotas não podem dizer não? Ou melhor, o que os garotos tem contra ouvir um não? Avisem ao ego de vocês, homens, que nós também temos o nosso.
Sei lá, essa conversa toda é tão frustrante que já não sei mais o que dizer. Já faz alguns minutos que isso deixou de ser sobre o meu caso e virou sobre um problema enraizado socialmente. Chega a ser absurdo precisarmos falar de que mulher não é objeto, nem propriedade de ninguém. Que temos voz e um cérebro com as mesmas capacidades de um homem. Que temos direito de escolha e de dizer não.
Mulheres morrem por machismo, saber disso não incomoda vocês?
Enfim, aqui está o meu lado dessa história. Espero que vocês entendam.
Câmera off
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SURPRIIIIIIIIIISE!!!!!!!!!!!!!!!!! Ou nem tanta
Eu sei que disse que ia ficar de hiatus por todo o período de junho e bem, tecnicamente eu estou, porque tecnicamente isso não é um capítulo. Eis que eu tive uma ideia para depois que a "18" acabar, e eis que esse capítulo (talvez) seria parte dessa nova ideia. MAS, devido aos ultimos acontecimentos, eu tenho estado querendo falar sobre feminismo há um tempo, aqui mesmo na história, e acabou que essa ideia me veio de repente e eu não quis desperdiçar.
Então aqui estamos, as 1h23 da manhã sendo que eu tenho que acordar as 5h, com um capítulo que eu escrevi as pressas hoje mesmo só porque eu queria por isso pra fora de algum jeito. Não sei se foi o melhor jeito, se eu consegui colocar o que eu pretendia, mas bem, eu tentei. Talvez no futuro, eu melhore esse texto, traga mais informações, mas bem, é o que temos para hoje.