Capítulo 5 - Bíceps

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ACORDO COM O SOM DE BATIDAS SUAVes na porta.

— O que foi? — pergunto sonolenta, virando-me na cama. Meus olhos pesam e meu corpo dói.

— Arrume-se. Seu treinamento já vai começar. Coloque a roupa da terceira gaveta e venha.

Treinamento...? As memórias do dia anterior surgem lentamente conforme meu cérebro vai percebendo que aquele hamster de dois metros e meio, com a boca escorrendo saliva e olhos vermelhos e vazios de puro ódio me perseguindo, na verdade, não passa de um sonho.

Estou segura, repito. Em uma casa onde não sei a localização, em um quarto decorado bem demais para acreditar que foi Halt quem o fizera, mas segura. Tenho poderes.

Abro os olhos devagar e encaro a cortina pesada ao lado da cama. Não parece haver luz atrás dela. Franzo o cenho.

— Já amanheceu? — ainda estou dormindo acordada e meu corpo insiste em pensar que o hamster pode estar em baixo da cama.

Uso o cobertor de escudo, cobrindo-me e voltando a dormir. Odeio acordar de manhã. Nem para estudar é bom.

Na verdade, nunca é bom. Acordar de manhã deveria ser considerado um crime.

— Levantou?

— Uhum — está tão quentinho... quentinho e seguro. O hamster mutante nunca vai me pe...

— ALYSS! — levo um susto tão grande com esse grito que rolo para fora da cama, caindo com tudo no chão.

— Ai... — gemo de dor baixinho. — Ok, ok. Estou indo! — vou apalpando em cima da minha cama e puxo o cobertor de cima dela, enrolando-me nele. Tento me levantar, porém estou com muito sono para isso. Então fico sentada mesmo.

Observo um ponto aleatório na parede e fico encarando-o sem objetivo por algum tempo, os pensamentos confusos e vagos. Estou quase dormindo novamente quando Halt dá mais três batidas na porta.

Olha aí, ele vai derrubar a porta de novo. Será que meus pais já consertaram a de casa? Consigo visualizar um pano sobre o buraco e um recado na geladeira me pedindo para que eu faltasse a aula hoje para esperar o marceneiro vir colocar uma nova.

— Já está pronta? — Halt grita da sala novamente.

— J-já! — desvio o olhar da parede e corro até o armário, abrindo a terceira gaveta. Nela, há cinco pares de roupas exatamente iguais: uma camisa de mangas curtas preta e uma calça verde musgo, com bolsos laterais. Pego-as e coloco sobre a cama.

De quem são essas roupas? Na verdade, olho o quarto, de quem é tudo isso? Dou uma olhada nas outras gavetas, mas todas estão vazias.

— Halt? — chamo. — Esse quarto e essas roupas são de quem?

A resposta vem da sala de jantar:

— Ambos são seus — a voz soa despreocupada. — As roupas são seu uniforme para os treinos. Você verá o quanto são confortáveis.

— Alguém morava aqui antes de mim?

A resposta demora alguns segundos para vir:

— Não. Mas o quarto foi preparado por uma amiga há alguns meses para o caso de me designarem para um cinético. — ele faz uma pausa antes de acrescentar mais baixo: — Por quê? Não gostou?

— Não! — Exclamo. — Não, não, é só que ele... é muito bonito.

Acendo as luzes e então tiro a minha roupa suja antes de jogá-la em um canto do quarto.

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