Nunca pensei que algum dia eu seria enterrada viva, muito menos em uma luta como essa. É cruciante ter pedras e mais pedras sobre você, pressionando seus ferimentos e, consequentemente, abrindo-os mais ainda, como se já não fossem grandes ou sérios o bastante.
A sensação é claustrofóbica. Respirar é algo praticamente impossível. Sangue quente e pegajoso escorre pelas minhas mãos, braços e pernas, e eu não posso fazer nada para ao menos tentar estancá-lo ou mesmo acabar logo com a dor. Meus poderes não funcionam. Não me sobra quase energia. Não tem jeito: terei uma morte lenta e sofrida.
Klonthus também foi soterrado e, apesar de aparentar estar confiante, não haveria como ele escapar disso, há? Acho que posso considerar essa luta como um empate....
Não. Chacal está morto. Tudo isso foi pra nada. Sabíamos que era uma armadilha, mas mesmo assim fomos lá.
Tolos.
Não consigo processar direito a perda de Chacal. A esta altura, Keyla já deve ter evacuado toda a comunidade. Pelo menos eles devem estar a salvo.
...mas e quando eles percebem que Chacal não vai voltar? Como vão reagir? Como...
Perco a linha de raciocínio no momento em que minha respiração se torna superficial, o ar não entra mais em meus pulmões. Sinto meu corpo ficando dormente, e sei que é apenas questão de alguns poucos segundos para que eu deixe de pertencer a este mundo. Relaxo meus músculos, sentido uma pressão ainda maior nas pedras acima de mim, mas não me importo.
Eu falhei. Estão todos mortos.
— Alyss! — Uma voz conhecida exclama, fazendo com que meus músculos se contraiam novamente de forma involuntária. Reconheço essa voz.
É de Keyla.
Meus instintos assumem o controle e eu abro a boca. O movimento faz com que pedra e poeira entre em minha boca, mas consigo soltar um gemido.
Não tenho forças e nem posição para tossir a sujeira para fora da minha boca e a sensação é como se eu estivesse comendo cinzas.
Sinto a pressão sobre o meu corpo diminuir quando a protetora começa a me desenterrar.
E mais uma vez estou sendo salva quando estou prestes a me encontrar com a morte, penso irônica enquanto que os primeiros feixes de luz lunares começam a penetrar por entre as rochas que estão sobre mim. Ainda não me decidi se considero isso como sorte ou azar...
A última pedra que Keyla tira é a que está bem em cima da minha cabeça, o que me permite finalmente abrir os olhos completamente e respirar fundo. Imediatamente tenho um acesso de tosse, cuspindo tudo o que entrou na minha boca.
— Aqui — uma outra voz se pronuncia. — Tome um pouco.
Observo a menina de cabelos ruivos com o cenho franzido quando ela me estende uma garrafa de água. Eu já a vira antes, em um sonho.
Não, não em um sonho. Em uma previsão do futuro.
Balanço a cabeça, afastando a náusea. Klonthus está morto. Isso não vai mais acontecer.
Aceito a garrafa com um sorriso e a garota se levanta.
— Halt! Horace! — A voz de Keyla volta a chamar. Ela anda pelas pedras com cuidado, o couro preto camuflando-a no céu sem estrelas.
A lua continua forte. Apenas algumas horas se passaram desde que entramos. Entretanto, parece que isso fora há mil anos.
Um helicóptero está pousado alguns metros à minha direita, dentro da parte demolida. Uma breve olhada em volta me diz que alguns corredores sobreviveram e que a caverna não fora toda destruída, afinal.
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Cryokinesis
Science FictionAlyss nasceu com um dom. Um dom que por muitas vezes desejou não tê-lo. A habilidade de poder controlar o gelo e as baixas temperaturas tornou-se um fardo em sua vida; principalmente porque agora ela está sendo caçada. O que para ela era julgado c...