Capítulo 28 - Chocolate-quente

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Mas é claro que é justamente em uma noite tão boa que Klonthus decide fazer uma visita.

Estamos em uma clareira na floresta, um de frente para o outro, e o líder kallckara sorri para mim.

— Sentiu minha falta?

Observo por alguns segundos o rosto branco doente e os olhos vazios. Já o vi tantas vezes em meus pesadelos que, apesar de ainda me causar arrepios, ele acabou se tornando um pouco menos intimidador.

Por isso, consigo manter a voz firme quando digo:

— Não.

O sorriso aumenta.

— Fico desapontado — diz, a voz soando como o sibilo de uma cobra. —Mas, se não está de mim, tenho certeza que sente falta daqui ao menos, não é?

Franzo o cenho com a pergunta. Não, não exatamente uma pergunta. Pelo tom, sei que é uma afirmação disfarçada.

Olho em volta, percebendo o quanto essa clareira se parece com a da comunidade. Em um piscar de olhos, como se estivessem ali o tempo inteiro, as sete cabanas surgem. Meus olhos se arregalam ao ver que o líder kallckara sorri.

— O que você fez com eles?

— Nada ainda — ele coloca as mãos para trás enquanto observa a cabana mais próxima que sei que é a de Chacal. Meu estômago se aperta. — Não tenho a intenção de gastar minha energia com criaturinhas tão... insignificantes. Mas sei que você se importa com alguém aqui.

— Se você tocar em Chacal, eu...

— Chacal — ele me interrompe, como se ouvisse o nome pela primeira vez. Automaticamente sei que cometi um erro grave.

Ele observa a estrutura com atenção. Não sei se ele sabe que de quem é a cabana.

— A essa altura você já deve saber quais são minhas habilidades, não?

Tenciono meu maxilar para que nenhuma outra palavra comprometedora escape. Não sei o que ele pretende com Chacal, mas definitivamente eu não devia ter revelado seu nome.

O líder kallckara me analisa com uma expressão fria, cortante. Cada centímetro do meu corpo tenso é processado através dos olhos pretos apáticos.

— Eu sempre gostei do gelo — comenta. Ele parece contar meus fios de cabelo com o olhar. — É uma força impressionante. Tão bela quanto mortal. A dor da queimadura que o gelo causa é tão ardente quanto a do fogo.

Cerro os punhos e sei que o movimento fora captado pelo monstro. Satisfeito, ele continua:

— E por falando em morte... já refletiu sobre as crenças do fim do mundo? — Não respondo. — Eu já. E reparei que, de um lado, as pessoas dizem que o mundo acabará em fogo, e do outro, que acabará em gelo. Eu fico com quem prefere o gelo. Conheço o bastante do ódio para saber que a ruína causada pelo gelo seria algo ótimo — ele abre um sorriso satisfeito, aproximando-se de mim lentamente. — A humanidade a teme, Alysson, teme seu dom: a mais pura expressão da morte.

Como se fosse um movimento natural, ele ergue a mão pálida e ressecada na altura do meu rosto e, com uma delicadeza tão grande que parece que eu sou uma pequena bolha de sabão, coloca uma mexa do meu cabelo atrás da orelha.

O gesto me causa repulsa. Sua mão é fria, mas é um frio diferente do que eu conjuro. É como um réptil.

— Quero que saiba, doce menina, que eu farei um uso bem melhor do seu poder do que você. Nas minhas mãos, a criocinese ajudará na evolução humana.

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