Capítulo 17 - Caça

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Sou desperta pelo calor e por uma sensação forte de enjoo. Olho em volta, desnorteada, percebendo que estou no meio da rua. A calçada pega fogo nas partes em que a gasolina do carro capotado a uns vinte metros de mim escorreu e eu sei que é questão de segundos até que o veículo exploda.

Bile sobe em minha garganta quando noto que o carro destruído é um sedan preto e que o homem que está forçando a porta do motorista é Halt. Ele está coberto de sangue e fuligem e, quando doze kallckaras se aproximam da porta do passageiro, ignorando meu protetor, sei onde estou.

É o dia do ataque; o dia em que fui capturada.

Minha conclusão é reforçada quando os kallckaras tiram a porta do sedan e tiram de lá um corpo inerte.

O meu corpo.

Estou deplorável e o ferimento em meu braço está pingando sangue. Desvio o olhar. Não consigo me ver daquela forma, completamente indefesa nas mãos das cruéis invenções de Klonthus.

Halt, aproveitando a falta de atenção, manca até o outro lado da rua e se esconde atrás de uma casa. Sigo-o, desesperada para desviar minha atenção dos kallckaras com meu corpo.

Halt vai se mancando por entre as casas. Seus passos são silenciosos e decididos, como se soubesse a rota perfeita para chegar em seu objetivo, mas quando ele se escora em uma parede para checar se a rua está deserta, seu semblante é de alguém completamente perdido. Aproximo-me e tento tocar em seu ombro, mas minha mão para quando noto que lágrimas escorrem pelo seu rosto, fazendo traços em meio à fuligem negra.

Nem nos meus sonhos mais loucos eu consegui imaginar Halt chorando. Não, eu não tenho toda essa criatividade. Mas aqui estou eu: vendo as lágrimas silenciosas de meu protetor deslizando para o chão.

Não é possível que eu tenha voltado para o passado. Além do mais, estou ao lado de Halt e ele está alheio à minha existência. Então a conclusão mais lógica é que tudo isso é um sonho.

Então eu sou sim extremamente criativa..., mas por que a visão das lágrimas me causa tanta dor? É apenas um sonho, não é?

Com as costas das mãos, Halt limpa o rosto e atravessa a rua, na direção do jardim de uma bela casa de três andares. Há uma garagem com uma dois carros grandes estacionados, sendo um deles uma picape com uma lona sobre a caçamba e eu imediatamente sei que é ali onde Halt pretende se esconder.

Seus passos ficam mais decididos quando ele caminha até a garagem e tira a lona de cima da caçamba, concentrado demais na tarefa para notar uma agitação dentro do outro carro.

— Halt! — grito inutilmente ao notar que a agitação, é, na verdade, o líder kallckara abrindo a porta para sair do carro.

Halt apenas nota que não está sozinho quando Klonthus fecha a porta com um sorriso. Meu protetor se vira em um salto, a respiração arfante. Ele abre a boca para falar algo, mas não sai nenhum som dela.

— Achou mesmo... — começa ele, a voz cortante pela raiva gélida. — Que iria conseguir fugir?

Com as mãos trêmulas, Halt solta a lona e dá um passo para trás.

— Mais uma cinética perdida. Mais uma falha — ele mostra os dentes, divertindo-se com o terror do homem à sua frente. — E você continua saindo vivo. Curioso, não?

Halt respira profundamente. O esforço para olhar nos olhos do monstro é nítido, mas ele consegue.

— Ela sobreviverá — a voz é tão rouca que eu mal escuto.

— Acha que ela voltará para você depois que virou as costas para ela? — ele sorri quando não há resposta. — Não vê que o lado mau desta história sempre foi você?

CryokinesisOnde histórias criam vida. Descubra agora