Os gritos de Will. Ao invés de atraírem algum animal, chamaram a atenção de seres humanos. Por um momento, penso que topamos com as coordenadas de Halt, mas se fosse isso, seria a voz dele que eu estaria ouvindo.
Então deve ser algum caçador.
— Identifique-se!
Respiro profundamente antes de responder, e me pergunto em que momento esse ato instintivo se tornou tão exaustivo.
— Alysson — digo, baixo. — E o que gritava é o Will.
— Alysson...? — O homem parece confuso. Há uma pausa antes falar novamente, mas pela forma que sai sua voz, não está se dirigindo a mim. — Chacal, chame o Arqueiro.
Escuto um "ok" fino e em seguida mais movimentação nas árvores.
Tento me sentar e minha cabeça gira absurdamente ao fazê-lo, porém consigo. Estou tentando focalizar a minha visão na direção do homem, mas, antes que alguma coisa fique nítida de fato, ele volta a gritar:
— Jogue qualquer arma que tiver no chão!
Ergo os meus braços de dez quilos na altura da minha cabeça.
— Estou desarmada — digo, e então olho para Will, que ainda segura a faca. Não por desafio, mas por simplesmente estar fraco demais para se mover.
Estendo o braço para pegar a faca da mão dele, mas, no momento em que toco no metal quente, uma flecha se finca a centímetros do meu braço. Recolho-o por instinto, com um soluço.
— Não se mova!
Olho para o homem mais atentamente e noto que não se trata de um caçador. Digo, que tipo de caçador se veste com linho fino e usa um arco e flecha de madeira?
— Só fui jogar a faca do meu amigo no chão — digo. — Não quero confusão.
— Tudo bem. Jogue a arma para longe. Se você tentar qualquer gracinha... — ele arma outra flecha. Engulo em seco, desejando por um segundo que animais selvagens tivessem nos encontrado ao invés dele.
Até que uma voz conhecida diz, em um tom divertido:
— Se eles quisessem fazer alguma gracinha, Jaeger, acredite, não precisariam de arma alguma para isso.
Por um segundo, observo a figura alta alguns metros atrás do homem com arco e flecha, sem conseguir acreditar no que vejo. Os cabelos castanhos, sempre perfeitamente alinhados, estão desgrenhados e a expressão está em uma mistura de alívio e divertimento.
Totalmente o oposto da que ele estava no sonho.
— Halt! — Exclamo, sentindo o gosto metálico do sangue que escorre da minha boca seca por causa do sorriso que se abre. Tento me levantar, mas isso só causa uma tontura forte.
Meu protetor corre em minha direção e segura meu braço, ajudando-me a levantar. Preciso passar um braço em volta de seu pescoço para eu não cair novamente.
Vivo. Ele está vivo. Klonthus mentira e toda aquela cena não passara de um pesadelo.
— Essa é quem você estava esperando, arqueiro?
Halt concorda com a cabeça. Não posso deixar de notar em como o homem de nome Jaeger o chama: arqueiro. Faço uma nota mental para perguntar isso a ele depois.
— Céus, como você está quente! — exclama. — Quem é aquele garoto?
Olho na direção que Halt está apontando. Will ainda está consciente, mas não consegue se sentar. Ele responde, quase em um sussurro:
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Cryokinesis
Science FictionAlyss nasceu com um dom. Um dom que por muitas vezes desejou não tê-lo. A habilidade de poder controlar o gelo e as baixas temperaturas tornou-se um fardo em sua vida; principalmente porque agora ela está sendo caçada. O que para ela era julgado c...