Capítulo 9 - Soldado

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A VIAGEM ATÉ ESSE "LUGAR MISTERIOSO" DURA CERca de uma hora, porém não consegui arrancar nenhuma dica de Halt além da que "tem muito gelo" e eu não tive coragem de ficar insistindo.

— Chegamos — diz ele saindo do carro.

Olho em volta. Halt estacionou no canto da estrada de terra, onde, de ambos os lados, há um campo aparentemente sem fim. As únicas provas de que os humanos realmente passaram aqui são esses precários postes de luz de madeira que duvido muito que se acendam de noite, um galpão metálico de dois andares e, obviamente, a estrada pela qual viemos.

— Você não disse que a gente ia para um lugar com gelo? — indago, observando o galpão. Não tem como ter gelo lá dentro. E o campo... bem, está verde.

Mas Halt não responde e anda rapidamente até a majestosa porta de metal. Ele abre o cadeado com uma pequena chave e em seguida puxa a porta, revelando o interior do galpão que, para o meu espanto, além de ser menor do que a vista de fora, está com o chão congelado, como uma pista de patinação. Meu queixo cai.

— Você descobriu a entrada pra Nárnia?

— Nunca julgue nada precipitadamente, Alyss. As melhores armadilhas são aquelas que parecem impossíveis — ele faz uma pausa, observando todo o gelo. E é então que eu percebo o som dos compressores trabalhando atrás das paredes e da ventilação mecânica no teto — Parece que Marshall resolveu te fazer uma surpresa — murmura, mais para si do que para mim. — Venha. Não acho que você vá querer perder essa oportunidade.

— Foi você quem fez isso?

— Não — responde Halt, coçando a nuca. — Quero dizer, a ideia foi minha. Queria utilizá-la em um treinamento em conjunto com outros cinéticos, para aprenderem a lutar mesmo durante o inverno e utilizar o gelo como forma de defesa — ele faz uma pausa, observando a pista como se pudesse ver sua ideia em ação.

Por um momento, permito-me imaginar adolescentes, como eu, lutando em meio ao gelo, lançando poderes assombrosos e saindo com incontáveis hematomas. Apesar disso, eu acho que eu sorriria. A ideia de me fortalecer com pessoas como eu me anima.

— O projeto acabou não dando muito certo.

— Por quê?

Ele olha para o chão, desviando o olhar da pista.

— Muitas coisas aconteceram com o grupo. Ir para cá seria arriscado demais.

— Ao menos que seja um grupo pequeno?

Halt assente.

— Acabamos transformando o lugar em um ponto de encontro e escritório. Mas não sei se algum protetor o usou para treinar.

— Isso é maravilhoso! — exclamo admirada. O galpão tem dois andares: o primeiro não há nada além de gelo e uma escada estreita de metal que dá acesso a uma plataforma, no qual só consigo ver uma portinha no meio.

— Esse galpão foi um grande achado — concorda Halt — Quinhentos metros quadrados que apenas guardavam entulhos e papéis velhos e ainda localizado totalmente fora de qualquer rota dos kallckaras. Foi muita sorte.

Um momento de silêncio. Observo o galpão, sentindo o contraste do ambiente frio à minha frente com o quente, às minhas costas. Meu protetor parece se divertir com meu semblante.

— Bem, aqui estão os patins — diz ele, tirando sua mochila do ombro. Ele me estende um par de patins pretos.

— P-patins? Viemos patinar? — não consigo evitar o tom inseguro. Eu não sei patinar.

Ele revira os olhos.

— Claro que não. Nós viemos raspar o gelo do chão para fazer sorvete.

CryokinesisOnde histórias criam vida. Descubra agora