É um urso polar de dois metros. Ou pelo menos o que um dia poderia ter sido um urso polar, caso sua mandíbula não estivesse deslocada em um ângulo nada natural, com duas fileiras de dentes, afiados como os de Klonthus, o impedindo de conseguir fechar a boca. Apesar disso, ele tenta, mas o movimento só machuca ainda mais o interior. O sangue escorrendo pela pelagem suja e o bramido de dor do animal faz meu coração se compadecer um pouco por ele.
No entanto, o urso está magro e com certeza está vendo nós dois como seu jantar, sentindo dor para fechar a boca ou não.
— Distrairei ele — informa o garoto, correndo até uma das cadeiras. Ele pega uma, levantando sobre a cabeça com um grunhido rouco.
Seguro o punho da espada até sentir os nós dos meus dedos ficarem brancos. O Kollon me observa com voracidade, os olhinhos pretos sofridos encarando sua presa, o que o distraí da cadeira voadora que o atinge com força no focinho. Ele brame de dor e olha para o aerocinético com uma fúria selvagem.
Ele não perde tempo e pega outra cadeira, jogando no Kollon que dessa vez se desvia do ataque, agachando-se nas patas traseiras, aproveitando para usá-las de alavanca e avança sobre o garoto em uma velocidade impressionante.
Quando o aerocinético pula sobre a mesa, deslizando para o outro lado, eu obrigo minhas pernas se moverem. Rápido demais, urso não consegue parar a tempo de se chocar contra a mesa com um estalo surdo.
O ambiente é pequeno. Com toda a sua velocidade, ele fica desajeitado aqui.
Pisco, o plano surgindo em minha mente.
— Vou congelar o chão — anuncio. — Faça o Kollon bater nas paredes, ele não vai conseguir parar!
— Deixa comigo.
Corro até um canto enquanto a criatura se levanta devagar, encarando o garoto, e visualizo o chão polido da sala se congelando. Quando o Kollon corre na direção do aerocinético, seus pés deslizam no chão, o que diminui sua velocidade o suficiente para ele pegar outra cadeira e jogar em sua direção, chamando o Kollon para a parede à minha direita.
Concentro-me em fazer uma trilha de gelo no lugar que a criatura provavelmente vai passar. Minha visão escurece, mas é o suficiente para que ela deslize e se choque contra a prede com um estrondo.
— Isso com certeza vai fazer os kallckaras descerem até aqui — diz o garoto, mas eu o ignoro e disparo na direção da criatura, a espada em riste.
— Rawrrrr! — percebendo minha chegada o Kollon vira o rosto para mim em um giro, obrigando-me a dar meia volta para desviar de sua mordida.
A criatura solta um bramido de dor quando os próprios dentes se encontram com o céu da boca, e sangue jorra no chão.
— Corra até as celas! — grita do outro lado da sala. — Eu tenho um plano!
Não tenho tempo de questionar ou fazer qualquer outra coisa além de obedecer, aproveitando a curta brecha de tempo para me jogar no corredor da qual viemos. Meus ouvidos zunem, mas eu acelero o passo quando escuto que a criatura já se levantou, mais furiosa do que nunca com o novo ferimento.
O corredor se abre para a sala que encontrei o aerocinético e eu vou em disparada até as duas barras quebradas. Talvez... se eu me esconder na cela... eu tenha uma chance.
Talvez, só talvez, o Kollon não consiga tirar as barras e eu esteja segura ali.
O cheiro pútrido invade minhas narinas e escuto o bater das garras do urso contra o chão de pedra, mas não ouso olhar por cima do ombro. O fedor já é o bastante para me dizer o quanto ele está perto.
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Cryokinesis
Science FictionAlyss nasceu com um dom. Um dom que por muitas vezes desejou não tê-lo. A habilidade de poder controlar o gelo e as baixas temperaturas tornou-se um fardo em sua vida; principalmente porque agora ela está sendo caçada. O que para ela era julgado c...