Capítulo 36 - Carta

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ASSIM QUE EU ENTRO AOS TROPEÇOS NA CASA, BASTA APEnas um olhar para Keyla entender que algo está errado. Depois que me ajuda a me sentar no sofá, completamente exausta, a protetora vai até o quarto de Halt, que entra na sala segundos depois, sentado em uma cadeira de rodas.

Seu rosto está tão inchado que meu peito se aperta. Ele está usando uma camisola de hospital que evidencia o quanto está fraco.

E enfaixado.

— O que houve? — indaga, olhando para mim. Suspiro antes de começar a contar tudo o que ocorrera no lago com uma voz que não parece a minha.

No final, estou rouca e minha voz está falhando. Não por causa do tamanho da história — na verdade, eu resumi até mais do que deveria — mas pelo esforço que estou fazendo para não chorar.

— Coma algo sólido e se vista apropriadamente — pede Halt antes de se virar para a protetora. — Conseguimos sair em quanto tempo?

— O quê? — indago, sentindo minha garganta apertar mais ainda.

— Horace pode já ter dado a nossa localização para Klonthus — diz ele. — É apenas questão de tempo até que ele reúna forças o suficiente para terminar o serviço.

Tudo isso porque eu não o matei. Teremos que partir porque fui misericordiosa. Mas, mesmo assim, tento fazer meu protetor mudar de ideia.

— Mas não podemos ir! — protesto. — Halt, eu andei pensando e...

Halt arqueia uma sobrancelha, dando-me permissão para continuar.

— Will deve estar por perto. Pode estar escondido aqui dentro, inclusive.

Keyla abre a boca para responder com um olhar triste, mas Halt a interrompe.

— O que te fez chegar nessa conclusão? — Seus olhos verdes estão brilhando da forma que sempre brilham quando ele me pede pra desenvolver alguma questão de lógica que ele propõe. Era um olhar comum quando estudávamos na segurança de casa há mil anos atrás.

Engulo em seco conforme tento colocar minha conclusão em palavras.

— Ele está ferido demais pra caminhar muito — digo. — Eu tive dificuldades pra chegar no lago sozinha. Will jamais conseguiria chegar na metade do caminho, considerando o estado dele.

Halt suspira.

— Keyla já mandou procurarem por ele em um raio de três quilômetros daqui, incluindo na casa. Ele... — o protetor se interrompe, parecendo ainda estar pensando nas palavras, o que é muito incomum. — Seja lá onde ele estiver escondido, Will não quer ser encontrado, Alyss.

Abaixo a cabeça e me pergunto, talvez pela centésima vez, o porquê de tudo isso. Por que ele não quer que o encontremos? Por que ele está se escondendo de nós?

A ideia de ele ter nos traído assim como Horace me invade e eu tenho que fazer um tremendo esforço para afastar a ideia da minha mente.

Will não é como ele.

— Consigo levar vocês até um aeroporto — informa Keyla enquanto coloca o celular de volta no bolso. — Mas infelizmente, eu não posso ficar mais do que um dia com vocês...

— Até o aeroporto está ótimo — diz Halt em um tom agradecido. — Obrigado.

Ele volta a olhar pra mim e, percebendo minha expressão, diz:

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