Acordo com o peso de um corpo humano sendo jogado sobre mim. O susto é tão grande que dou um grito.
— Calma, sou eu! — apesar de encarar a estaca de gelo em minha mão, Will não tira o sorriso do rosto. — Vá pra sala do Halt. Você tem que ver isso!
Franzo o cenho quando jogo a estaca para o lado e, curiosa, deito-me novamente. Por que sempre que Klonthus me deixa em paz durante a noite, alguém ou alguma coisa faz questão de me acordar cedo?
Mas Will está disposto a me fazer levantar da cama e, antes que eu sequer formar qualquer outro pensamento incoerente, uma ventania bagunça todo o meu cabelo e derruba meu cobertor.
Apesar de não sentir frio, eu simplesmente não consigo dormir sem um sob o corpo e, por isso, resmungo alto quando me levanto, esfregando os olhos.
— É sério, você não vai querer perder isso.
Resmungo algo parecido com um xingamento e Will pega na minha mão esquerda, os dedos quentes contrastando com os meus frios conforme ele me guia para a sala.
Não ouso fazer perguntas enquanto andamos por três motivos: primeiro porque estou com sono, segundo porque não quero atrair atenção para o meu pijama de bonecos de neve — qual é, estava em promoção! — e terceiro porque devo estar com um bafo do cão.
A sala de Halt é basicamente uma sala de câmeras. Há diversas telas nas paredes e uma escrivaninha com alguns papéis. O protetor não está aqui, mas, nas telas, há as imagens das câmeras das ruas. Will aponta para uma delas no canto superior direito da parede e, com a visão ainda embaçada de sono, tenho que semicerrar os olhos para enxergar a figura de Horace em frente a um café, tentando se esconder atrás de uma mesa.
Ele observa atentamente um grupo de homens altos de sobretudos pretos. Definitivamente não são kallckaras, mas Horace não parece notar isso e tenta engatinhar na direção deles.
É um processo tão lento que chego a considerar voltar para a cama, mas então, uma velha senhora, não vendo o garoto agachado, se choca contra ele.
Assustado, Horace se levanta em um pulo, o que faz com que o andador da velhinha voe para longe e, como resultado, ela cai de costas no chão, fazendo um escândalo.
Obviamente está tudo sem som, mas ao julgar pela expressão raivosa da velhinha ainda no chão, e da cara desesperada de Horace, está rolando uma boa discussão.
Will gargalha e bate palmas para a cena. Não ouso fazer o mesmo. Eu realmente tenho muito trauma com bafos matinais.
Meu tio Gilbert seguia a filosofia de que não se deve escovar muito os dentes porque isso faz com que a boca perca a proteção natural dela contra as bactérias, então ele só escovava após o almoço e antes de se deitar.
O problema mesmo era que ele acordava muito cedo e ele sempre fazia questão de se aproximar de mim quando ia conversar pela manhã e, cara, eu sempre saia roxa das conversas, pela quantidade de ar que eu segurava.
Coitada da velhinha... penso, quando Horace dá uma puxada brusca no braço dela para a levantar. Visto daqui ele parece tão frágil que penso que vai se desgrudar.
Uma multidão curiosa fica ao redor do Horace e da senhora para ver o que está acontecendo, cercando-os.
Ele tenta a todo custo atravessar as pessoas para chegar nos "kallckaras", mas não dá muito certo, pois a velhinha, extremamente irritada, bate na cabeça dele com sua bolsa assim que alguém lhe entrega seu andador novamente.
Horace cai no chão, desmaiado, quando é atingido e até mesmo eu não consigo segurar a risada.
Will bate palmas.
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Cryokinesis
Science FictionAlyss nasceu com um dom. Um dom que por muitas vezes desejou não tê-lo. A habilidade de poder controlar o gelo e as baixas temperaturas tornou-se um fardo em sua vida; principalmente porque agora ela está sendo caçada. O que para ela era julgado c...