Capítulo 31 - Batalha

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MEU PRIMEIRO PENSAMENTO ASSIM QUE CONSIGO DESviar o olhar de Chacal é pegar meu fuzil e descarrega-lo em Klonthus, mas sei não sou tão precisa assim. Além disso, quando analiso um pouco melhor, noto que ele está com uma armadura extravagante, preta como obsidiana e como as espadas kallckaras. Dois acessórios pontudos saem de seus ombros, que servem para prender uma capa curta de couro. Cada parte dele, desde seu sorriso sádico até a pose de superioridade, faz jus ao poder que ele possui — na mesma medida que a loucura.

Ele limpa a garganta enquanto observa Chacal com um sorriso sádico. Quando ele se vira para sua tropa, sua voz de trovão soa penetrante.

— Meus soldados! — começa. Com o canto dos olhos, vejo Halt tirar a mochila do ombro, aproveitando-se da voz do líder para camuflar os ruídos que o movimento gera. — Hoje, como podem ver, temos um visitante.

Os kallckaras urram em comemoração quando Klonthus puxa a coleira de Chacal, obrigando-o a ficar mais perto dele.

— Não é uma criança tão frágil? — pergunta a si mesmo, observando o ruivo com uma falsa admiração, como se fosse um gatinho que fez algo fofo. — Quando eu o encontrei na tarde anterior, ele estava vivendo no meio da floresta, a trinta quilômetros de nossa casa. O quão insignificante para a sociedade este garoto devia ser para que ele achasse melhor viver na mata como um animal?

Estático, Chacal estremece. Seja lá a droga que Klonthus deu a ele antes de vir aqui, não permite que o ruivo reaja nem mesmo com uma expressão diferente.

— Eu gostaria de entender porque os nossos dois cinéticos fugitivos têm tanto apreço por ele... — ele parece refletir por alguns segundos. — Talvez eles estejam confundindo curiosidade com estima... O meio de vida desse garoto é como o de um selvagem0p e, convenhamos, que humano não gosta de visitar um zoológico?

Os kallckaras riem em uníssono. Alguma coisa brilhante escorrega pelo rosto de Chacal e eu rezo para que não tenha sido uma lágrima. Por favor, que não seja uma lágrima.

Halt cutuca meu ombro e me estende um rifle de longo alcance. Em silêncio absoluto, ele ergue o dedo indicador e o dobra algumas vezes.

Atire.

A arma parece quente contra minha pele conforme, devagar, me deito no chão pedregoso. Apoio-a com cuidado contra o chão e coloco um olho na mira e observo cada kallckara daqui.

"Nunca tenha certeza de algo até saber quais são todas as opções." É uma das frases que Halt sempre repete nos treinos. "Se você agir precipitadamente e atirar na sua primeira opção, por exemplo, você vai acabar se arrependendo amargamente quando perceber que podia ter atirado em outro cara mais forte. E esse é um erro que pode custar a sua vida".

Claro que Klonthus é o mais forte daqui, mas procuro descobrir uma vantagem que eu posso usar contra kallckaras. Um desabamento não seria muito inteligente, já que Chacal poderia ser atingido também. Porém, essa seria a única opção além de tentar a sorte em acertar Klonthus.

— ... emocionados — a voz de Klonthus volta a ser captada pelos meus ouvidos. É incrível como ele praticamente quase não mudou seu discurso até agora. Volto a mira para o líder, o zoom deslizando pelo grande tronco dele, procurando o ponto perfeito para o tiro. — E pode apostar que terão a punição que merecem.

Já tive experiência o suficiente com essa arma para saber que mirar na cabeça funciona apenas nos treinamentos. Em uma situação real, o melhor a se fazer é buscar as vísceras, porque, além do alvo ser maior, poucos sobrevivem a um ferimento na barriga.

Por isso, paro de mover a arma quando a mira fica direcionada na altura do umbigo de Klonthus. Seguro a arma com força e respiro fundo. É muita responsabilidade.

CryokinesisOnde histórias criam vida. Descubra agora