NÃO SEI QUANTO TEMPO SE PASSA QUANDO RECobro a consciência. Mas é a sensação sufocante do corpo mole de Halt em cima de mim me esmagando que faz com que eu desperte. Tudo está abafado e em câmera lenta. Há um zunido no meu ouvido que não me deixa ouvir sequer minha própria respiração.
— Halt? — chamo, e me desespero por não ouvir minha própria voz.
Empurro seu corpo para o lado e vejo de relance a minha barreira de gelo com um buraco enorme derretido. O tiro a atravessara e atingira o outro lado da caverna. Há uma pilha de mortos no chão a minha volta. Seria impossível andar sem pisar em algum.
Não há mais sequer um kallckara em pé. Grito, chamando Halt novamente, meu coração disparado. Sei que estou gritando porque minha garganta dói. Suas costas estão em carne viva e pulsam conforme, para o meu alivio, ele respira fracamente.
Mas sei que se algo não for feito ele não vai sobreviver por muito tempo.
Sua mochila fora desintegrada, mas eu ainda tenho a minha.
Olho para trás, onde vejo Klonthus travando uma batalha com Will. Ele rola para frente enquanto o subordinado atira em sua direção. Suas pernas estão sangrando e ele manca, mas continua avançando. Com as mãos para cima, ele reúne uma ventania forte o suficiente para desarmar o kallckara. Klonthus não se move, concentrado em recarregar a arma.
Sinto o soluço de alívio em minha garganta quando noto que eu tive apenas um apagão momentâneo.
Rapidamente, abro minha mochila e tiro dela o rolo com bandagem e passo pelo corpo de Halt para estancar o sangramento. O trabalho é incrivelmente difícil com o corpo dele inerte, mas consigo terminar a tempo de ver a ventania que Will está criando. A velocidade do vendo cresce, levantando poeira e pedregulhos junto. Klonthus e o kallckara são atingidos por alguns deles, mas Will não para.
E então percebo: ele está criando um tornado.
Vejo sua boca se mover. Ele está falando alguma coisa que não escuto.
O aerocinético está prestes a deixar o tornado correr solto quando vejo que Klonthus entrega a bazuca descarregada para o kallckara e, abaixando-se para pegar uma pistola do chão, atira.
O vento desvia a bala, mas vejo que acerta a coxa de Will, que cai para frente, o tornado ainda incompleto voando na direção dos dois.
— Will! — grito, levantando-me.
Faço um casulo de gelo ao redor de Halt antes de correr na direção de meu amigo. Sinto algo viscoso escorrendo pela lateral do meu rosto e eu toco no local.
Vem do meu ouvido.
Será que eu ensurdeci? A ideia me assusta. Confio tanto em meus ouvidos quanto em meus olhos, principalmente em batalhas como essa. Afinal, como eu irei saber se há algum kallckara atrás de mim querendo me atacar? Halt nos ensinou a confiarmos em nossos sentidos e a audição é um dos principais.
Minhas mãos começam a tremer descontroladamente conforme eu corro; minha respiração fica mais acelerada e meu coração bate mais forte do que nunca. O que antes estava em câmera lenta, agora está quase parando.
Quando alcanço Will, Klonthus já se recuperara da ventania. Com um olhar de relance, vejo que o subordinado está morto, a cabeça sangrando e escorada em uma parede, onde ele a bateu.
Ele está a vinte metros do líder e eu sei que Klonthus fará questão de recuperar sua bazuca antes de qualquer coisa
Assim como ele sabe que minha prioridade é Will.
Por isso, tenho tempo de correr até meu amigo e segurá-lo pela cintura, ajudando-o a se levantar.
Ele me olha e diz alguma coisa, mas não consigo entender. Aponto para meu ouvido para tentar informa-lo que eu não escuto e, em resposta, ele levanta a mão esquerda, colocando-a atrás da cabeça. Cubra minha retaguarda.
Não tenho tempo de impedi-lo quando ele avança, manco, até Klonthus, que a essa altura já tem a arma em mãos.
Vejo Will gritar quando ele finca os pés no chão abruptamente e faz outra rajada de ar tão poderosa que lança Klonthus uns cinco metros longe.
Ele não dá tempo sequer para o líder bater no chão quando pega uma arma jogada e corre em sua direção, mirando.
É agora. Este é o fim. Will destrava a arma e aperta o gatilho.
Não vejo o disparo acontecer e, ainda se levantando, Klonthus ri, recuperando-se do desequilíbrio.
A arma está descarregada.
Will recua alguns passos com alguma coisa que o líder kallckara diz. Ele larga a arma no chão e fica imóvel.
Klonthus ergue a bazuca em sua direção, mas não atira. É claro que não. Sua intenção não é nos desintegrar. Ele quer nossos poderes.
Ele precisa de nós dois vivos.
Will parece falar alguma coisa e eu aproveito o momento para fazer uma shuriken e atirar na direção da testa de Klonthus.
A distância é muito grande para eu fazer um ferimento profundo o suficiente para mata-lo instantaneamente, mas o monstro grita tão alto que ouço até mesmo por cima do zumbido:
— Fiquem com esses seus poderezinhos de merda! Quero que todos morram!
Talvez eu não esteja surda, afinal.
Em um segundo, ele está tirando a shuriken da testa. No outro, mirando a bazuca no teto alto de pedra e atirando repetidas vezes em diferentes pontos.
A caverna começa a tremer e o teto, a desabar. O grande líder kallckara solta um xingamento e começa a correr na direção do corredor. A perna ferida o impedindo de ir tão rápido.
Will não permite e, correndo em sua direção, pula em cima dele, derrubando-o.
— Saia! — grita, mas Will não cede.
— Te vejo no inferno, seu canalha.
Klonthus se remexe em baixo dele e arruma uma forma de se virar e prender o aerocinético em um abraço.
— Você é um tolo! Vamos ver se você vai ser tão corajoso assim se voltar a ser um selvagem.
Will grita no momento em que começa a brilhar como se tivesse luz própria. Apesar da caverna desabando, Klonthus sorri.
O teto começa a cair, mas o som é baixo em relação aos gritos agudos de Will que penetram em meus tímpanos feridos como uma faca quente. Klonthus não parece ter terminado o que quer que está fazendo quando um casulo de gelo se forma ao meu redor.
E então, a caverna, literalmente, cai inteira em cima de todos nós.
|Prendeu a respiração? Dá pra fazer isso enquanto dá votinho!|
Geeeeente, o que foi isso?!!! Eu to chocadissima com a falta de espírito esportivo do Klonthus. Tipo, "se eu vou perder, todo mundo também vai, tchau casa!"
Otário demaissss.
O que vocês acharam dessa lindissima batalha? O que acham que aconteceu com o Will? (ok, mais da metade de vocês já sabe, mas ok ahuahuas).
Contem-me, contem-me! Adorarei saber aaaaa
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Cryokinesis
Science FictionAlyss nasceu com um dom. Um dom que por muitas vezes desejou não tê-lo. A habilidade de poder controlar o gelo e as baixas temperaturas tornou-se um fardo em sua vida; principalmente porque agora ela está sendo caçada. O que para ela era julgado c...