Capítulo 10 - Jogo

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— VOCÊ PRECISA SE ESFORÇAR MAIS, ALYSS... EU AInda nem comecei a suar... — Debocha Halt assim que eu caio novamente no chão por um de seus golpes.

Dois meses se passaram desde que eu ouvi aquela conversa entre Halt e Marshall e que eu deslizei como um pinguim nas escadas. Não consegui descobrir nada sobre aquela conversa e muito menos sobre o significado de ser uma dos Grandes ou algo do tipo. Mas Halt também não obteve sucesso em descobrir como que consegui me machucar tanto, pois as marcas roxas que as escadas me causaram se misturaram com as que eu já tinha, o que tornava impossível chegar à conclusão de que virei uma pinguim por alguns segundos. Então, de certa forma, estamos quites.

Halt me deu dois dias para me recuperar daquilo, mas assim que voltamos a rotina, mesmo com ele afirmando que os treinos estavam na mesma intensidade de sempre, senti que meu protetor estava pegando mais duro, com mais críticas e pouco espaço para falhas.

Mês passado, ele afirmou que eu já estava pronta para diminuir o período de treinos. Lembro até hoje que fiquei radiante por finalmente poder acordar às sete da manhã, mas logo me foi provado que era melhor acordar às cinco. "Como vamos treinar apenas duas horas, você pode dar mais de si agora", foram as palavras de Halt que, nitidamente, marcaram o começo do meu inferno matinal.

E aqui estava eu: em mais um dos treinos físicos, recebendo minha dose diária de hematomas.

— E você precisa maneirar na força — reclamo, ofegante, ao me sentar no chão branco — Você está exigindo muito de mim, Halt. Não sou tão boa assim — arrisco.

Ele me olha com uma expressão dura.

— Já estamos há um mês nessa rotina. Estou surpreso por você não ter se acostumado ainda.

— Talvez você tenha se precipitado ao mudar os horários.

— Seus reflexos já estão na média e você está mais forte e confiante — elogia, e eu não consigo evitar arregalar os olhos. Halt me elogiando??

Estou aqui, com ele, há três meses e ele apenas me elogiou... o quê? Duas vezes?

— Além disso, — continua e eu vejo um brilho de diversão passar por seus olhos. — As bolinhas de tênis não te assustam mais.

Nisso, eu tenho que concordar. Os pesadelos sobre bolinhas de tênis gigantes me perseguindo como se eu fosse uma raquete pararam de me atormentar há algumas semanas.

— Então, não. Não há mais nada que eu possa fazer para aprimorar esses pontos. É melhor que se acostume logo — ele estende a mão para me ajudar a levantar. Sorrio irônica, sabendo o que irá acontecer se eu aceitar sua ajuda: ele me puxará com força, fazendo com que eu tropece e caia de novo. "Nunca confie no seu oponente" é o que ele sempre diz quando eu aceito sua mão.

Então faço diferente: estendo minha mão, fingindo que vou aceitar sua ajuda, porém, no momento que estou prestes a pegá-la, impulsiono minha perna em sua direção e dou uma rasteira em meu protetor, que consegue pular no último segundo para se desviar.

Antes que eu sequer tenha tempo de recolher o pé, Halt avança em um salto, colocando o pé direito em cima do meu rosto. Praguejo alto ao ver que perdi.

— Mas toda essa exigência está rendendo frutos — ele diz, tirando seu pé de perto de mim. — Pelo menos você parou de aceitar a minha mão.

Reviro os olhos e me levanto, sabendo que não acabou. Não fico surpresa quando sou recebida por um gancho de direita e consigo me desviar ao agachar. Halt não perde o ritmo e mira seu joelho na direção do meu abdômen.

Não tendo tempo para me levantar, faço o melhor escudo de gelo que consigo para aparar seu golpe. O meu melhor escudo tem um pouco mais de dois milímetros de espessura e o joelho de Halt tem a força de um mamute. Quando os dois se encontram, o escudo se quebra e eu recebo o golpe mesmo assim. Felizmente, um pouco da força é amortecida e eu consigo me manter em pé, apesar da súbita falta de ar.

CryokinesisOnde histórias criam vida. Descubra agora