Capítulo 13 - Dor

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ACORDO COM UM BARULHO IRRITANTE DE GOteira ao meu lado.

Meu corpo inteiro dói, principalmente a minha cabeça que lateja ao ritmo da água pingando. Movo-me alguns centímetros, sentindo a superfície dura e áspera na qual estou deitada. Deve ser o chão.

Devagar, tento me recordar dos acontecimentos anteriores. Consigo lembrar do calor e do carro capotando. Do ataque e....

Arquejo com a dor. Preciso me levantar. Clarear a cabeça. Apoio os braços no chão e faço força para me sentar. O movimento gera a sensação de uma faca fumegante entrando em meu braço direito.

Grito, fechando meus olhos com força e cerrando os dentes com a dor cruciante que toma conta do meu corpo.

Não consigo enxergar um palmo a minha frente, mas não preciso da minha visão para saber que meu braço ferido está sangrando. E muito.

Minha mente enevoada dá um tranco ao notar essa informação: um tiro. Eu levei um tiro de um kallckara.

Desesperadamente contorno meu braço ferido e ensanguentado e prendo a respiração ao notar que apenas tem um buraco, simbolizando o que eu mais temia: a bala não saiu.

Isso somado ao fato de eu não saber há quantas horas eu estou desacordada, tirando toda a minha noção de quanto sangue eu perdi, faz eu começar a entrar em pânico.

Tateio à minha volta, subitamente me sentindo em uma caixa minúscula. Não sei se isso tudo é sangue, mas o chão ao meu redor está úmido.

Ok, é o lugar mesmo. Esse som de goteira está perto de mim e... espera aí, isso é musgo? dou um salto por impulso, tirando a minha mão da superfície macia como se ela estivesse em chamas. Espero muito que seja.

Rastejo-me apenas com a força das pernas até encostar na parede fria de pedra e respiro fundo, porque a última coisa que eu preciso no momento além de uma bala enterrada no meu braço dominante, dois galos na cabeça e um senso de direção totalmente inútil é entrar em pânico.

Fico sentada por algum tempo que eu torço para que não tenham sido horas, mas que me acalma o suficiente para eu voltar a sentir a dor latejante do meu braço.

— Certo... — respiro fundo mais uma vez. — Vou precisar tirar essa belezinha de você, Alyss.

Com os olhos fechados, tateio o buraco da bala, descobrindo logo que ele mede mais ou menos dois centímetros.

ALERTA DE PERIGO. Muito sangue escapa daí.

— Até que não é tão ruim assim — minto. — Dá pra espremer — Tentando ignorar o fato de que estou falando sozinha e me referindo a mim mesma na terceira pessoa, faço de tudo para me lembrar das aulas de Halt. — Como uma espinha.

Contenho um grito quando pressiono levemente o ferimento em busca da bala. Ela não está muito funda e, quando encosto no metal, prendo a respiração.

— Okay, vamos no três — sussurro. — Um, dois...

Sabendo da minha coragem inferior à de um coelho, não espero chegar no três para, com os dedos em forma de pinça, espremer a bala para fora.

Sinto o sangue escorrer pelos meus dedos e minha pressão cair, mas tento novamente, em silêncio, sem energia para emitir qualquer ruído.

Eu devo ter perdido a consciência por alguns segundos, pois não ouvi o leve tinido do projétil de uns três centímetros caindo no chão. Apenas sei que ele não está mais em meu braço porque o fluxo de sangue aumenta.

Eu preciso levar pontos para que a cicatrização se realize. Mesmo tendo uma recuperação mais rápida do que de pessoas comuns, eu tenho certeza de que isso não vai se fechar sozinho e provavelmente vai infeccionar.

CryokinesisOnde histórias criam vida. Descubra agora