Capítulo 24 - Insistência

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— Quem é você? — indaga Will, dando um passo para trás.

— Oi, eu sou o Horace — ele estende a mão para cumprimentá-lo. — Você é o namoradinho da Alysson?

Ele ignora:

— Você está mesmo cometendo invasão domiciliar e fingindo que não é, tipo, um crime?

— Okay, você não é tão amigável assim — ele recolhe a mão antes de se virar para mim. — Então você não entrou pra nenhuma gangue?

— Essa casa tem sensor de digital — digo. — Além das chaves. Como entrou aqui?

— Ah, o capitão me deu esse cartão aqui — Horace mostra um pequeno cartão de metal. — Ele abre as coisas, sabe. Quer dizer, tecnicamente ele pega a digital e...

Will interrompe com uma respiração profunda.

— Eu vou perguntar mais uma vez: o que. você. quer?

O loiro dá de ombros ao guardar o cartão no bolso da calça.

— A Alysson aqui me deixou falando sozinho na calçada — fala. — Eu sou do exército, sabe, e nas raras vezes que encontramos uma pessoa desaparecida, temos que contatar ela e a família...

— Não — digo, mais alto do que pretendia. — Minha família... não pode saber.

— Por quê?

Abro a boca para responder, mas não encontro uma boa desculpa. Nunca pensei que alguém fosse me fazer essa pergunta. Posso ter inventado quarenta histórias diferentes para as causas dos hematomas no meu corpo caso eu tenha que tirar o agasalho, mas nunca me preparei para essa pergunta: por quê?

Ao ver minha dificuldade, Will tenta ajudar, provavelmente falando a primeira coisa que lhe veio a cabeça.

— Ela foi adotada.

Horace franze o cenho.

— Adotada? — Will assente, um pouco hesitante ao notar a idiotice que acabara de falar. Tenho que me controlar para não o congelar aqui mesmo. — Por... você?

— Nã..

— O que Will está tentando dizer — interrompo. — É que isso não é da sua conta e que eu não fui forçada a nada.

— E por quê você fugiu?

— Eu posso bater em um recruta? — Will se vira pra mim. Não há divertimento em seus olhos escuros.

— Esquentadinho ele, não? — Ele dá um passo na direção do aerocinético, que não recua. Eles se encaram por alguns segundos antes de Horace colocar as mãos na cintura, com um suspiro. — Eu já tô ligado que não sou bem vindo aqui.

— Nossa, descobriu sozinho? Vai embora?

— Preciso da explicação da Alysson.

Will bufa, erguendo as mãos em sinal de rendição, e se dirige até a cozinha para, talvez, nos dar privacidade.

Viro-me para Horace. Se são explicações que eu preciso dar para que ele saia daqui, é isso que darei. Tenho que pensar bem na frase seguinte para não revelar nada comprometedor. Por fim, digo:

— Escute: eu estou bem e pretendo enviar um e-mail para meus pais em breve. Eu estou com um.. tio aqui, mas é vital que meus pais não saibam disso, se não, não poderei voltar.

Horace parece pensar por alguns instantes e eu me obrigo me manter firme. Não posso demonstrar qualquer sinal de desconforto, mesmo sob o olhar dele. Por fim, ele parece acreditar em minhas palavras.

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