Capítulo 34 - Perdida

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ACORDO COM O SOM DE VOZES AO MEU LADO. TENto abrir os olhos, porém eles parecem pesar oitocentos quilos. Por um momento, temo que eu esteja em outro pesadelo de Klonthus, mas isso não é possível.

Apesar do monstro ainda estar vivo — e está, pois o espaço entre as rochas ao lado de Will que deveria abrigar o corpo do monstro estava vazio quando voltamos para verificar —, ele não estaria em condições de usar seus poderes e me pegar para ver o futuro doentio dele. Além disso, Klonthus não está com a mínima moral para prever futuros agora....

Definitivamente devo estar assim agora por causa da fadiga. Lutei demais, até mesmo ultrapassando o meu limite.

— Ela não vai acordar nunca, não? — a voz de Horace é audível alguns metros acima de mim.

— Já era para ela ter acordado — escuto Keyla dizer séria, provavelmente ao lado de Horace.

— Será que ela... — começa Horace, porém Keyla o interrompe.

— Os médicos disseram que ela vai ficar bem.

— Ah, qual é, gata, já fazem três dias! Eu acho que ela realmente entrou em coma.

A contagem dos dias não me surpreende. Acordo várias vezes durante os dias, assustada e com medo demais para me levantar e perguntar sobre Will e meu protetor. Estamos na casa de Keyla, no outro lado do país. Parei de ouvir os médicos há um dia e eu sou nutrida com soro.

Tento forçar meus olhos a abrirem, mas não encontro a força necessária.

— Ela vai ficar bem — diz Keyla, após alguns segundos. — De qualquer forma, é melhor irmos trocar a gaze do seu braço.

— Ai, cara... — Horace suspira. — Eu não reclamaria de ter você de enfermeira para sempre, mesmo se eu virasse o Darth Vader.

— É apenas até você se acostumar — o tom de Keyla soa ríspido. — Não sou enfermeira.

Os dois saem da sala, deixando-me acompanhada do silêncio novamente.

Três dias... o que pode ter acontecido dentro desse tempo? Lembro-me bem que, quando chegamos aqui, Will estava enrolado em bandagens como uma múmia.

Os médicos levaram o aerocinético para uma sala destinada a cirurgias e eu não tive chance de sequer chegar perto dele.

Eles disseram que fariam tudo o que podiam, e, com a gratidão de Keyla, foram cuidar dele.

Mas será que ele sobreviveu? Três dias é o bastante para o corpo sucumbir.

Respiro fundo. Preciso levantar. Preciso saber o que aconteceu, saber o que perdemos e o que ganhamos nessa batalha. Eu preciso...

Não tenho palavras para descrever a força que eu exerço para levantar meu braço esquerdo. O fato importante é que funciona.

Tenciono meu maxilar com o esforço para levantar o outro braço e as duas pernas. Agarro-me na primeira coisa que sinto perto de mim para fazer a alavanca para erguer o meu tronco. Por fim, abro meus olhos e examino a minha volta.

O quarto em que estou é branco. Os lençóis da minha cama não foram trocados, mas a minha roupa sim. Estou com uma camisola de hospital e o soro ao meu lado já parou de pingar. Consigo ouvir vozes abafadas no outro cômodo, que sei que é onde Horace está alojado, mas não consigo decifrar nenhuma palavra. Será que Will está com eles?

Com um gemido, tiro o soro e coloco as pernas para fora da cama. Pode parecer que eu estou exagerando, mas eu realmente estou sentindo que cada parte do meu corpo está pesando uns duzentos quilos, incluindo minhas pálpebras.

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