Capítulo 27 - Afeto

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— Cara... desisto — diz Horace, levantando as mãos em sinal de rendição. — Alguém pode me dizer onde fica o banheiro? Eu se que falam que esterco é adubo e que adubo deixa tudo mais bonito, mas o meu cabelo realmente não precisa ficar mais lindo do que já é... e eu não gostaria de cegar ninguém com a beleza dele. Preciso lavá-lo.

Will sequer se dá ao trabalho de desviar a atenção do arquivo quando responde:

— Descendo as escadas, porta à direita.

— Valeu, Menino-Frito, você é o cara — agradece, saindo da sala rapidamente.

— Halt — sussurra. — isso significa que não podemos confiar em ninguém. Se Klonthus incrementar soldados humanos nas batalhas...

— Sim, estaremos encurralados — concorda o protetor. — Foi uma excelente jogada da parte de Klonthus, devemos admitir.

— Poderíamos usar Horace para convencê-los.

— A cidade é pequena, Alyss, de nada adiantaria convencer a base local. Além do mais, se os arquivos ainda estavam sobre a mesa quando Horace entrou na sala, significa que o Coronel havia acabado de recebê-los.

— Fora que é perigoso demais — completa Will e eu tenho que concordar. — Então o que faremos?

Halt faz um gesto negativo com a cabeça.

— Por enquanto só podemos treinar. Vamos evitar sair na rua também. Será questão de tempo até nós sermos procurados.

— E quanto a Horace?

O maxilar de Halt fica tenso. Ele demora alguns segundos para responder, observando a escada, como se o garoto pudesse ouvir.

— Vou treiná-lo.

Will encara o protetor com uma expressão incrédula.

— Isso é loucura, Halt!

— Não temos outra escolha. Ao menos que Keyla venha e apague as memórias dele, mas não tenho certeza se ela conseguiria modificar dois dias inteiros sem causar algum dano sério.

— Mas o treinamento dele teria que ser separado.

— Sem dúvida. Mas não é como se vocês treinassem o dia inteiro. Posso treiná-los pela parte da manhã e Horace a tarde e à noite — ao ver minha expressão preocupada, ele acrescenta: — Eu lhe disse na noite em que nos conhecemos que eu sou um voluntário e farei o certo sem pensar duas vezes.

— Vai te sobrecarregar.

— É temporário.

Claro que é. Assim que Klonthus for morto, Horace poderá voltar à vida normal dele. Mas o problema é que não temos poder o suficiente para isso.

Abro a boca para dizer isso ao meu protetor, mas sei que será inútil. Conheço Halt o suficiente para saber que ele já tomou sua decisão. Por isso, vou para a cozinha e me sirvo de pão e geleia.

Não sei direito o que pensar sobre Horace começar a ser uma presença constante em minha vida. Digo, ele parece completamente diferente daquele garoto implicante da escola e até mesmo pediu meu perdão, mas... é estranho pensar nele como um aliado assim, de repente.

Ainda mais confuso do que a nossa nova aliança, é a de Klonthus. Os pesadelos continuam me abalando, mas eles andam sendo um pouco menos pessoais, como se o líder kallckara não estivesse prestando muita atenção em mim. Interpretei as duas últimas noites calmas como algo bom, mas agora vejo que o silêncio do líder é mais preocupante do que a minha falta de sono.

— Ufa, sinto-me renovado! — escuto Horace dizer enquanto sai do banheiro. Ele me avista na cozinha e vem até mim. Seu cabelo ainda está molhado, e consigo ver que algumas gotas pingam na sua blusa. — E aí? Descobriram algo interessante?

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