Capítulo 14 - Aliado

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A luta contra o sono é o meu maior desafio durante todo o tempo que passo aqui. Tonta e com a pressão nitidamente baixa, manter os olhos abertos é tão trabalhoso quanto não pensar nas palavras de Klonthus sobre Halt.

Foi mesmo apenas um blefe? Eu tenho apenas três meses de treinamento. Mesmo que por algum milagre eu consiga escapar, as chances de sobreviver por conta própria, sem lugar nenhum para me esconder — chamar de casa —, são praticamente nulas.

Apesar de que, antes que eu perdesse a consciência no carro, Halt me entregou um papel... Ainda não tive a oportunidade de abri-lo e com certeza aqui não é o lugar. Mas pode ser alguma pista. Um endereço, telefone.... algo que me ajudará, tenho certeza.

...mas primeiro preciso escapar dessa caverna.

Horas. É o tempo que eu sinto que fico nesse baú. Não sinto sequer meus dedos das mãos e a minha barriga ronca de fome, mas continuo acordada.

Um sorriso vacilante desenha meus lábios. Apesar de estar sozinha, ferida e sem Halt para me ajudar, continuo viva, sobrevivendo. No fundo, a chama de esperança ainda consegue brilhar timidamente dentro de mim.

E pensar que há três meses eu estava na escola, pedindo forças para os protagonistas fortes e poderosos dos livros que eu gostava... agora eu estou metida em um perigo tão grande quanto os deles e, mesmo sem tanto preparo, tenho uma chance de sobreviver.

Um cobertor morno envolve meu coração quando ouço a porta ser aberta com uma delicadeza suspeita.

— Criocinética...? — a voz de Klonthus soa sibilante, como a de uma cobra brincando com sua presa. Escuto ele entrar na sala e parar abruptamente, provavelmente ao ver o duto ensanguentado. — Kondry! — Berra, e o som de trovão faz meus ouvidos zunirem um pouco.

— Senhor? — a voz do subordinado surge ofegante, extremamente baixa.

— Parece que nosso pequeno rato fugiu. Verifique o setor de pesquisa e mande os outros soltarem o Kollon.

— O... Kollon, senhor? — a voz sai vacilante.

A respiração de Klonthus soa ruidosa.

— Precisa de melhorias no aparelho auditivo também, seu imprestável? — indaga. Não há nenhum sinal daquela máscara de generosidade e paciência que ele mostrara ao conversar comigo. Sua voz é tão áspera quanto uma lixa. — Solte o Kollon neste andar e rastreie a cinética no setor de pesquisas — ele diz cada palavra pausadamente, como se estivesse falando com uma criança de quatro anos.

— Sim, senhor. Chamarei todos — ouço o kallckara sair correndo para fora da sala e medo faz meu estômago se apertar.

Não percebo que estou sem respirar até sentir o tremor do grito enfurecido de Klonthus quando ele parte a própria mesa e logo em seguida escuto o som de suas botas se afastando enfurecidamente da sala.

Forço-me a contar até trinta antes de ousar abrir a tampa do baú. Minha respiração está ofegante e o meu braço direito pende inerte ao meu lado, mas talvez ele ainda sirva para segurar alguma coisa leve, caso eu precise. Olho para o portal de pedra e mal acredito quando vejo que o líder kallckara não se incomodou de fechar a porta.

Minha saída! penso animada, pulando para fora do baú.

Contorno a mesa partida em dois, a pilha de papéis que estava sob ela, espalhada por toda a sala. Apesar do coração aos pulos e ânsia de sair daqui o mais rápido possível, faço questão de pegar uma das espadas caídas e segurar com firmeza na mão esquerda, testando alguns dos movimentos básicos que Halt me ensinara.

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