2. Demitido

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Era uma sexta-feira, estava até empolgado apesar de não sair finais de semanas. Era puro força de hábito. Entrei na gráfica, bati ponto e fui para a sala de confecções, uma rotina de trabalho um pouco chata confesso, mas tem seus encantos.

— John Kennedy? — uma voz grossa me chamou, era meu chefe.

Me encaminhei até sua sala, assim que entrei ele fechou a porta e me convidou a se sentar na poltrona que possuía em frente à sua mesa. Não estava gostando nadinha de estar ali.

Ele se sentou em sua cadeira e falou:

— Estou esperando a semana toda para falar com você, John — disse ele enquanto mexia em sua gravata. Meu chefe era alto e igualmente gordo. Por qualquer coisa suava, por isso vivia com um lenço no bolso do lado direito de seu paletó. Ele pegou o lenço e passou na testa, apesar da sala bem climatizada, ainda assim o suor escorria. Me dava ânsia de vômito ver aquele homem enorme derretendo na minha frente — tenho notado uma recaída nos pedidos da gráfica. E você sabe o que isso significa, não é?

Assenti calado.

Você é o mais novo daqui, e o que mais cresceu este ano. Mas por motivos pessoais não posso demitir ninguém aqui, todos trabalham há anos para mim, possuem família para criar...

— Eu entendi, senhor. Tenho até que dia para trabalhar?

— Até hoje — respondeu ele um pouco mais relaxado em sua cadeira.

Me levantei da cadeira e fui em direção a porta.

— John?

— O que mais o senhor deseja? — perguntei.

— Você está bem mesmo com isso? — mais algumas gotas de suor apareceram em sua testa.

— Porque não haveria? — perguntei calmamente.

Ele pensou em falar pois abriu a boca mas acho que pensou melhor e decidiu apenas sorrir.

Terminei o turno normalmente, como qualquer outro dia de trabalho. Me despedi dos meus colegas, e antes de ir embora passei na sala do meu ex chefe novamente para pegar minha carteira e alguns documentos para o seguro desemprego.

— John, me desculpe. Não queria fazer isso mas as circunstâncias me obrigaram.

— Não precisa se preocupar senhor, eu entendo completamente...

— Eu não entendo!!! — dizia aos prantos no colo de Anna — passei quase um ano da minha vida me dedicando ao máximo naquela maldita gráfica para aquele gordo babão fedorento me demitir. Canalha!!!

— Calma John. Você vai encontrar outro emprego. Vai por mim. E vai ser melhor que esse.

Eu concordava chorando. Não gostava daquele emprego mas era o único que tinha, e até estava me acostumando com os colegas...  E a maldita dívida que tinha com minha mãe... Parecia até praga dela.

Teria três meses até conseguir um emprego novo, era o tempo que durava o seguro. Respirei fundo e me acalmei. Não era de chorar, e na minha primeira demissão viro um bebezão. Daria a volta por cima e conseguiria um emprego muito melhor, a minha altura...

Tudo bem, não foi bem isso que aconteceu. Contei muito com o salário do seguro e me acomodei na zona de conforto que criei. Passei os três meses seguintes trancado dentro do meu quarto assistindo seriados e as vezes quando Anna não estava, ousava assistir alguns filmes românticos. Meu emocional estava bem elevado e a depressão bateu. Anna já tinha desistido de tentar me animar há um mês atrás e decidiu me deixar quieto em minha zona de conforto até eu me tocar.

E foi isso que aconteceu: quando chegou o dia primeiro e eu percebi que não tinha mais o salário do seguro para receber e possuía aluguel do apartamento, a água, energia, Internet e a compra pra pagar. Uma luz de juízo finalmente acendeu em meu cérebro. Uma hora estava deprimido assistindo o último episódio de Revenge, na outra me arrumando enquanto procurava meus currículos na gaveta da penteadeira. Eu não queria um emprego, eu necessitava.

Sai em disparada sem nem saber onde ir. Peguei uns dois ônibus e fui para o centro. Deixei meu currículo em duas agências de emprego e depois em alguns estabelecimentos. Possuía apenas um currículo na mão e não planejava voltar com ele pra casa. Passei em frente à um escritório de advocacia onde tinha uma folha avisando que precisava de funcionários. Eu tinha um currículo nas mãos, fiz o óbvio. Entrei no escritório e entreguei meu currículo à moça. Sabia que não seria chamado, mas não custava tentar.

Voltei pra casa exausto, mas satisfeito. Tinha acordado pra vida novamente e super animado com minhas expectativas. Anna assim que entrou em casa percebeu meu novo estado de espírito. Conversamos até mais tarde como de costume nas sextas-feiras. Ela me contou que sairia com um carinha que conheceu no trabalho. Ele parecia ser gente boa, mas é claro que eu iria ver isso de perto. Ali, naquela cidade enorme, nos tornamos irmãos, ela era minha única família e eu a dela. Anna me ajudou a não ter medo da mudança de vida. Eu espero ter ajudado à ela nisso tudo também. 

Agora sozinho em meu quarto, faço planos para amanhã. Preparei mais currículos que estou afim de espalhar no shopping.

Meu celular toca. Um novo email. Não quero ver agora mas pode ser importante. Ligo a tela do celular e abro o email. Por incrível que pareça é do escritório de advocacia que mais cedo entreguei meu último currículo me chamando para uma entrevista amanhã de manhã. Confirmo presença, mesmo sabendo que não vai dar em nada do mesmo jeito. Então eu me jogo na cama, corpo pesado. Espero que amanhã seja um dia mais produtivo...

O Filho Do Meu Patrão (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora